Lula e o Nordeste
A força política do lulismo no Nordeste representa uma prioridade na agenda governista
A série histórica dos candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT) na região Nordeste é de vitórias consecutivas nas últimas eleições presidenciais, sendo que Lula venceu Bolsonaro somente no Nordeste (69,34% x 30,66%), mantendo um padrão de votação observado desde as eleições de 2002, quando o petista venceu o ex-ministro José Serra (PSDB) com 61,50% dos votos entre os eleitores nordestinos.
A força política do lulismo no Nordeste representa uma prioridade na agenda governista em torno de ações e programas estratégicos para a região, em especial, o Novo PAC, que deve destinar aos nove estados do Nordeste cerca de R$ 700 bilhões. Se somados Norte e Nordeste, o valor do investimento chega a R$ 994,1 bilhões para 16 estados das duas regiões. A ação do governo na representação dos interesses dos estados do Nordeste plasma o mapa eleitoral de Lula em 2022.
No âmbito das estratégias eleitorais, a tendência a ser observada é a presença de Lula nas capitais e grandes cidades nordestinas, já que será imperativo para os petistas consolidar o apoio a candidaturas própria ou de aliados, visando isolar o bolsonarismo com candidaturas únicas do campo lulista nos maiores colégios eleitorais. Nas eleições de 2022, o petista venceu em 11.
Na região Nordeste, das nove capitais nordestinas, Bolsonaro venceu no segundo turno somente em Maceió (AL), com 57,18% dos votos. Já nas outras capitais, a diferença de votos para Lula foi significativa. Em Aracaju (57,26%), Fortaleza (58,18%), João Pessoa (50,10%), Natal (52,96%), Recife (56,32%), São Luís (60,38%), Salvador (70,73%) e Teresina (66,44%), Lula venceu, algo que se replicou nas votações para presidente em cada estado.
Considerando o peso eleitoral do Nordeste, a chegada do presidente Lula para cumprir agenda em Feira de Santana e Salvador hoje e amanhã se traduz na preocupação de seguir fortalecendo o seu grupo aliado no maior colégio eleitoral da região, merecendo mais atenção nos grandes centros urbanos, exatamente no perfil dos votos baianos na última eleição ao governo estadual: a votação de Lula esteve dissociada proporcionalmente da votação recebida pelo PT na eleição ao governo estadual.
Nestes termos, a estratégia de Lula nas grandes cidades do Nordeste será seguir avançando na polarização com Bolsonaro, mas calculando os limites da sua relação com partidos como PP, PSD, Republicanos e União Brasil, que mantém bancadas no Congresso divididas entre o apoio ao petista e ao bolsonarismo. O avanço eleitoral da direita e a frágil governabilidade que sustenta Lula no seu terceiro mandato motivou, inclusive, um recuo tático do PT no lançamento de candidaturas próprias nos maiores colégios eleitorais como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA).
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB) - [email protected]