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O centrão de Lula

A reforma ministerial de Lula tem sido delineada para que prepare agora um salto para 2024

Publicado segunda-feira, 11 de setembro de 2023 às 11:57 h | Autor: Cláudio André de Souza* | [email protected]
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Sem grandes surpresas, os resultados da eleição para a Câmara dos Deputados nas eleições de 2022 consolidou o perfil de um Congresso mais conservador e mais à direita ideologicamente sob os efeitos imediatos do bolsonarismo na política brasileira. Àquela altura, era inegável que a parceria do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o Centrão de Arhur Lira (PP), bloco parlamentar heterogêneo e maleável composto por partidos políticos que costumam transitar entre os governos, oferecendo seu apoio em troca de cargos e benefícios.

O resultado das urnas mostrou que o PL saiu da eleição com 99 deputados eleitos (19,30%), seguido dos petistas, que elegeram 68 parlamentares (13,26%). Os partidos do centrão que marcharam com Jair Bolsonaro como o PP elegeu 47 deputados (9,16%) e o Republicanos, que alcançou 41 parlamentares eleitos (7,99%). 

Diante da fragmentação partidária significativa nas últimas décadas, a Câmara dos Deputados possui sete partidos com bancadas médias acima de 40 parlamentares eleitos, é o caso do PL, PT, União Brasil, PP, MDB, PSD e Republicanos. Estes partidos elegeram 398 deputados, ou seja, lideram o legislativo brasileiro e deixaram pouco espaço de manobra ao governo Lula para compor a sua base parlamentar sob os moldes do famigerado presidencialismo de coalizão. 

Com este desenho, a composição ministerial no início do governo abriu espaços para nomes considerados mais técnicos e sem um alinhamento partidário, mas esta estratégia venceu diante da contingência, o que indicava a necessidade de uma “desbolsonarização” do relacionamento dos partidos do centrão com o governo petista. 

A estratégia do governo pareceu óbvia e acertada: fechar aliança com algumas fatias das bancadas partidárias, em especial, com os partidos fortes que marcharam com Bolsonaro na Câmara e no Senado como um primeiro passo para produzir confiança entre as partes. 

O segundo passo foi dado na semana passada, quando o governo anunciou a indicação do líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA), para o Ministério do Esporte e o Deputado Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) para o Ministério dos Portos e Aeroportos. 

A reforma ministerial de Lula tem sido delineada para que prepare agora um salto para 2024: a consolidação de uma aliança a médio prazo, o que passará pela composição dos partidos nas próximas eleições municipais, mas em especial, a construção da reeleição de Lula em 2026, isolando ou revertendo parcialmente as forças bolsonaristas no interior dos partidos. Diante da resiliência de cerca de 25% do eleitorado (Pesquisa Ipec) em continuar ao lado do bolsonarismo, o governo está sabendo jogar e testar a efetividade da adesão do centrão à base aliada de Lula na Câmara. Não será uma tarefa fácil. 

*Cláudio André de Souza é Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”. E-mail: [email protected]

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