O centrão de Lula
A reforma ministerial de Lula tem sido delineada para que prepare agora um salto para 2024

Sem grandes surpresas, os resultados da eleição para a Câmara dos Deputados nas eleições de 2022 consolidou o perfil de um Congresso mais conservador e mais à direita ideologicamente sob os efeitos imediatos do bolsonarismo na política brasileira. Àquela altura, era inegável que a parceria do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o Centrão de Arhur Lira (PP), bloco parlamentar heterogêneo e maleável composto por partidos políticos que costumam transitar entre os governos, oferecendo seu apoio em troca de cargos e benefícios.
O resultado das urnas mostrou que o PL saiu da eleição com 99 deputados eleitos (19,30%), seguido dos petistas, que elegeram 68 parlamentares (13,26%). Os partidos do centrão que marcharam com Jair Bolsonaro como o PP elegeu 47 deputados (9,16%) e o Republicanos, que alcançou 41 parlamentares eleitos (7,99%).
Diante da fragmentação partidária significativa nas últimas décadas, a Câmara dos Deputados possui sete partidos com bancadas médias acima de 40 parlamentares eleitos, é o caso do PL, PT, União Brasil, PP, MDB, PSD e Republicanos. Estes partidos elegeram 398 deputados, ou seja, lideram o legislativo brasileiro e deixaram pouco espaço de manobra ao governo Lula para compor a sua base parlamentar sob os moldes do famigerado presidencialismo de coalizão.
Com este desenho, a composição ministerial no início do governo abriu espaços para nomes considerados mais técnicos e sem um alinhamento partidário, mas esta estratégia venceu diante da contingência, o que indicava a necessidade de uma “desbolsonarização” do relacionamento dos partidos do centrão com o governo petista.
A estratégia do governo pareceu óbvia e acertada: fechar aliança com algumas fatias das bancadas partidárias, em especial, com os partidos fortes que marcharam com Bolsonaro na Câmara e no Senado como um primeiro passo para produzir confiança entre as partes.
O segundo passo foi dado na semana passada, quando o governo anunciou a indicação do líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA), para o Ministério do Esporte e o Deputado Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) para o Ministério dos Portos e Aeroportos.
A reforma ministerial de Lula tem sido delineada para que prepare agora um salto para 2024: a consolidação de uma aliança a médio prazo, o que passará pela composição dos partidos nas próximas eleições municipais, mas em especial, a construção da reeleição de Lula em 2026, isolando ou revertendo parcialmente as forças bolsonaristas no interior dos partidos. Diante da resiliência de cerca de 25% do eleitorado (Pesquisa Ipec) em continuar ao lado do bolsonarismo, o governo está sabendo jogar e testar a efetividade da adesão do centrão à base aliada de Lula na Câmara. Não será uma tarefa fácil.
*Cláudio André de Souza é Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”. E-mail: [email protected]