O eleitorado anti-Lula
Estratégia do Planalto tem sido evitar pautas que entrem em rota de colisão com eleitorado conservador
No dia do seu aniversário (27), o presidente Lula recebeu os jornalistas que cobrem a presidência da república. Durante o café da manhã, um aspecto chamou a atenção na conversa: o governo segue preocupado com uma faixa do eleitorado que se mantém bolsonarista a todo custo. Não é uma grande novidade que tenhamos um segmento refratário a Lula, no entanto, a estratégia do Planalto tem sido evitar pautas que entrem em rota de colisão com uma parte do eleitorado com viés conservador.
As considerações de Lula durante a coletiva reafirmam a clara inclinação à direita do perfil do Congresso nas últimas eleições. Quando Bolsonaro se filiou em 2018 ao inexpressivo Partido Social Liberal (PSL) já marcava nas pesquisas eleitorais de 16 a 18% de intenção de voto, mas o partido tinha somente três deputados federais atuando na Câmara. Passada a eleição, o PSL elegeu 52 deputados. Após vencer a eleição e anunciar a sua saída do partido logo no primeiro ano de mandato, Bolsonaro ficou dois anos sem partido e se filiou em 2021 ao Partido Liberal (PL), que elegeu 99 deputados, ou seja, 19,29% das cadeiras da Câmara.
Na opinião pública não é diferente, o que o Planalto observa é a calcificação de um eleitor bolsonarista que reafirma a rejeição à Lula mesmo em pautas econômicas mais distantes do debate ideológico dos costumes. De onde vem este diagnóstico? A pesquisa Genial/Quaest divulgada na semana passada apontou algumas pistas, como a queda de quatro pontos na avaliação do governo em comparação com o levantamento realizado há dois meses, isto é, 38% avaliam o governo positivamente, sendo que as avaliações negativas subiram de 24% para 29%. A desaprovação a Lula é de 54% entre quem tem ensino superior e chega a 56% entre os eleitores com renda acima de cinco salários mínimos. Entre os eleitores que votaram em Bolsonaro na eleição passada, 77% desaprovam Lula e 56% avaliam que a economia piorou nos últimos meses, sendo que 50% dos bolsonaristas também avaliam que a economia vai piorar.
Os estrategistas do governo já avaliam que necessitam elaborar um conjunto de ações, visando reverter esta avaliação negativa, em especial, no seio da classe média urbana. Na mesma pesquisa da Quaest, a avaliação negativa do governo subiu no eleitorado de todos os estratos de renda, o que mostra que o governo está perdendo a batalha em várias frentes. Outra preocupação de Lula é com as eleições municipais de 2024. Diante da calcificação, é provável que tenhamos candidatos bolsonaristas ganhando viabilidade eleitoral, simplesmente ao reeditar a polarização nacional entre Lula e Bolsonaro. Com tantas preocupações, a reação ao governo precisa ser conjuntural na economia e em ações com impacto na sociedade. Um grande desafio.
*Cláudio André de Souza é Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].