O golpe bolsonarista
Não se sustenta a versão de que os terroristas decidiram invadir a sede dos três Poderes de maneira espontânea
Parece não restar dúvidas de que os atos terroristas que o País assistiu condolente na semana passada foram premeditados no intuito de provocar uma insurreição golpista que levasse os militantes da extrema direita bolsonarista a tomar os três Poderes de assalto. Queriam uma crise política que levasse à ascensão das Forças Armadas como “árbitra” diante do caos provocado.
Não se sustenta de pé a versão de que os terroristas decidiram invadir a sede dos três Poderes em Brasília de maneira espontânea. As investigações realizadas nos últimos dias nos levam a crer que os atos golpistas contaram com a provável cumplicidade criminosa de agentes públicos militares, o que abre um capítulo doloroso a se resolver na nossa República, confirmando que a Constituição de 1988 fracassou na tarefa de democratização das forças policiais e militares do país.
O aparelhamento ideológico-partidário de uma fração das Forças Armadas permanecerá como um problema a ser resolvido, mas a lição que fica é o quanto as instituições políticas foram complacentes com Jair Bolsonaro. Nada se fez quando ele homenageou o coronel torturador Brilhante Ustra no seu voto pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Viraram as costas para um dos maiores esquemas de fake news por meio de disparo em massa de mensagens falsas já visto na política brasileira. A sua ficha corrida somente começou a sofrer constrangimentos institucionais quando mirou os ataques no STF no início do seu mandato presidencial.
Naquela conjuntura, Bolsonaro possuía um método: as mobilizações de rua em defesa do seu governo foram uma retaguarda aos ataques às instituições. Infelizmente, as instituições não funcionaram para contê-lo em tempo suficiente para evitar os estragos que tivemos que assistir na última semana.
O que fazer depois do golpe fracassado? Diante da vitória da nossa democracia, urge investigar e punir os golpistas acampados, mas, sobretudo, os organizadores do golpe, as lideranças que financiaram e se colocaram à frente dos ataques terroristas. No entanto, não cabe ao governo ficar isolado. Ao contrário, se faz necessário governar e intensificar as agendas de interesse da sociedade que mobilizam os cidadãos diante da formulação de novas políticas públicas e decisões governamentais.
Diante da maior polarização eleitoral já observada desde a redemocratização, urge que o presidente Lula (PT) governe e busque popularidade, ou seja, um governo avaliado positivamente, o que requer o apoio de eleitores que votaram no ex-presidente e não compactuam com o golpismo. Ou seja, para que o governo petista tenha alto índice de aprovação precisará buscar o apoio de eleitores que estiveram com Bolsonaro até um dia desses. Não é uma tarefa fácil.
Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”*