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Qual o legado das manifestações de junho de 2013?

Confira a coluna Conjuntura Política desta segunda-feira, 19

Publicado segunda-feira, 19 de junho de 2023 às 05:40 h | Autor: *Cláudio André de Souza
Manifestação de junho de 2013
Manifestação de junho de 2013 -

No dia 22 de junho de 2013, quando o núcleo político do Planalto bateu o martelo que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) deveria fazer um pronunciamento nacional sobre as jornadas de junho de 2013, os protestos já tinham tomado um rumo de fortes críticas aos governos e à corrupção, sendo palco para ações violentas que provocaram forte conflito dos manifestantes com forças policiais.

O pronunciamento nacional de Dilma foi para reduzir os danos, uma vez que visava apoiar o diálogo do governo em torno de cinco pactos nacionais sobre saúde, educação, transporte, responsabilidade fiscal e reforma política. A escolha destas agendas não foi por acaso, mas cumpriu a estratégia de responder qualitativamente às demandas difusas no interior das manifestações, que começaram com a pauta da revogação do aumento da tarifa do transporte público em São Paulo e foram descambando para pautas anticorrupção e de crítica aos enormes gastos públicos com a realização da Copa do Mundo de 2014 no país. 

O cerne desta inflexão é a principal chave analítica para entendermos junho de 2013. Se os protestos se iniciaram na capital paulista com um viés de esquerda por meio de grupos organizados, a chegada da classe média às ruas representou fortes críticas à Lula e Dilma Rousseff. A pesquisa do Ibope que foi á campo em 20 de junho e divulgada pela Rede Globo mostrou que 49% dos manifestantes estavam nas ruas tendo como principal motivação questionar a corrupção no país. 

A mobilização da classe média pela agenda anticorrupção descambou para uma inclinação antipetista visivelmente nos atos do dia 26 de junho, quando já havia manifestantes a pedir o “Fora Dilma” e “mensaleiros na cadeia”. Esse repertório se replicou nas lutas em defesa da Operação Lava Jato e contra o governo de Dilma a partir de 2014, sobretudo ao longo de 2015, culminando no impeachment da petista em 2016.

No movimento sócio-histórico à médio prazo, podemos enxergar que a esquerda perdeu a batalha nas ruas e viu parte das jornadas de junho engrossar as fileiras do lavajatismo, O que isso quer dizer? Uma das heranças de junho de 2013 foi dar forma a um transbordamento societário em parte da direita, interligando o lavajatismo ao bolsonarismo no âmbito da representação eleitoral. 

De fato, junho de 2013 levou múltiplas vozes às ruas, mas não dá para negar que a hegemonia da direita estimulou novas mobilizações, talvez a principal inovação na conjuntura política da década passada. Dez anos depois, um dos legados foi intensificar os protestos como expressão tensa e complexa da democracia, sendo legítimas no limite do possível, até mesmo quando se vai às ruas por golpes, impeachments e pela defesa inconsequente de um magistrado “herói” com superpoderes.

* Cláudio André de Souza é  Professor Adjunto de Ciência Política da Unilab e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”. E-mail: [email protected] 

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