Reconstrução e Solidariedade
Confira a coluna Conjuntura Política do Jornal A TARDE
Os primeiros dias de maio deixaram o país desolado diante das chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul (RS). Segundo o boletim da Defesa Civil divulgado sábado (11), o estado registrou 136 mortos e ainda contabilizava 125 desaparecidos e 756 feridos, sendo que temos 441,3 mil pessoas fora de casa. Antes de olharmos as perdas materiais será fundamental delinear de forma emergencial políticas públicas de acolhimento e suporte psicossocial contínuo que fortaleça como cada família vai enfrentar a tragédia. Em cada relato que chega pela imprensa e pelas redes sociais, a sociedade tem ficado solidária nas dores, medos, traumas e sofrimentos. Há redes solidárias em condomínios, ambientes de trabalho, grupos de amigos, instituições religiosas etc.
O saldo positivo de solidariedade ao povo gaúcho reitera a força dos nossos laços sociais em momentos adversos, os quais o humanismo cívico precisa falar mais alto que o comportamento eleitoral. Afinal, é isso que se espera de um povo e de sua nação diante de ações sociais inspiradas por princípios republicanos e democráticos. O impacto da tragédia até aqui é gigantesco e se assemelha a um cenário de guerra: dos 497 municípios gaúchos, 444 cidades foram afetadas pela chuva, impactando a vida de cerca de dois milhões de pessoas. Em um momento de colapso social e político atestando a fragilidade das instituições, torna-se inevitável pensar em quais decisões governamentais deveriam ter sido tomadas para evitar a catástrofe que estamos assistindo.
Em primeiro lugar, o governo federal elaborou em 2015 sob gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) o projeto “Brasil 2040”, buscando formular diretrizes para enfrentar as mudanças climáticas em curso. O negacionismo ambiental sepultou o debate ainda durante o governo de Dilma e seguiu em frente pelas gestões seguintes de Michel Temer e Jair Bolsonaro. O estudo revelou que havia em andamento um aumento superior a 15% no nível de chuvas no extremo sul do país.
No âmbito do governo estadual gaúcho, não houve a formulação de um plano institucional de contingência para eventos de cheia, mesmo sabendo que estava em curso mudanças climáticas extremas. Na verdade, houve prioridade do governador Eduardo Leite (PSDB) para mudar à toque de caixa 480 pontos do código ambiental gaúcho, aprovado em 2019.
Diante do caos, defendemos de forma emergencial que o governo federal coordene a reconstrução do território gaúcho, assim como a realização de uma Conferência Nacional específica sobre mudanças climáticas. Vai ser fundamental que cada estado se mobilize e planeje ações e metas realizáveis para a criação de políticas públicas voltadas a evitar novas tragédias, não se tratando de mera “ideologia política” ou “alarmismo”. Força ao povo gaúcho!