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É preciso discutir amplamente sobre o suicídio

Lucas Alves fala sobre tabu, ações e alternativas que visam alertar a população sobre o assunto

Publicado domingo, 01 de outubro de 2023 às 07:00 h | Autor: Da Redação
Lucas Alves, psiquiatra e psicogeriatra
Lucas Alves, psiquiatra e psicogeriatra -

Mais do que alertar sobre o suicídio, a campanha “Setembro Amarelo”, que no Brasil é realizada desde 2014, busca estimular a participação e atenção coletiva sobre o tema. É preciso discutir amplamente sobre esta questão e a importância de reconhecer os sinais de alerta relacionados à depressão, como mudanças de humor repentinas, isolamento social, expressão do desejo de morrer e comportamento impulsivo. Nesta entrevista o psiquiatra e psicogeriatra Lucas Alves fala sobre tabu, ações e alternativas que visam alertar a população sobre o assunto.

Falar sobre saúde mental e suicídio ainda é um grande tabu?

Infelizmente, a despeito da importância desses temas, existe esse preconceito que impacta diretamente no prognóstico dos pacientes. Precisamos falar do quanto o cuidado com a saúde mental traz de benefícios para o indivíduo e para sociedade. Muitas vezes a própria família demonstra resistência ao tratamento psiquiátrico, e o indivíduo busca tratamento em estados mais graves. As evidências científicas mostram a relação dos transtornos mentais com o suicídio. Abordar esse tema significa poupar vidas.

Quais as primeiras medidas que os familiares devem tomar com as pessoas que revelam desejo pelo suicídio?

Primeiramente devemos acolher nosso ente querido, ouvi-lo sem julgamento, entender seu sofrimento dentro da perspectiva dele, e não da nossa. Devemos considerar que um transtorno mental pode estar prejudicando a sua percepção da sua própria importância, e do valor da sua vida. Portanto, com cuidado e zelo, é muito importante também que além de ouvi-lo, que ele tenha acesso a uma avaliação com psiquiatra e com psicólogo.

É preciso falar mais sobre o tema? Que ações a sociedade pode fazer para ajudar?

Sim, o setembro amarelo significou um grande avanço, mas devemos falar sobre a prevenção do suicídio durante o ano todo. A campanha também objetiva o combate à psicofobia, que é um neologismo que designa o preconceito contra os transtornos mentais, e os pacientes acometidos por eles. Precisamos avançar.

Como está o SUS em termo de saúde mental? Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são efetivos?

Os CAPS são fundamentais, precisamos urgentemente ampliar o seu alcance, bem como otimizar, baseado em evidências científicas de seu poder de resolubilidade. Ocorre que muitos pacientes, a exemplo do que fazemos no sistema privado, têm indicação para tratamento ambulatorial, e com o modelo centrado no CAPS, ele fica superlotado. Portanto, ele perde seu “DNA” de centro de atenção psicossocial, assumindo a função de ambulatório, o que notadamente prejudica seu funcionamento pleno.

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