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Esporte A TARDE

Por Daniel Dórea | Jornalista l [email protected]

ACERVO DA COLUNA
Publicado terça-feira, 06 de agosto de 2019 às 17:28 h • Atualizada em 21/01/2021 às 0:00 | Autor:

Detalhe Tático: Como não amar?

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Severino de Ramos Clementino da Silva nasceu em Aldeia Jaraguá, um território indígena do povo potiguara, na Paraíba, com cerca de 700 habitantes. Ganhava R$ 30 diários para cuidar de seis cabeças de gado. Limpava o gado, tratava o capim. E também jogava bola quando conseguia. Se a mãe descobrisse, e isso acontecia frequentemente, levava surra.

Hoje, aos 33 anos, Nino Paraíba representa a exceção que confirma a regra: um nordestino que, mesmo diante das desumanas dificuldades, alcança uma carreira de sucesso, ganha um ótimo salário, sustenta a família com conforto. Quantos conseguem? Uma ínfima minoria.

Deveria ter sido ele o protagonista do ‘meme oficial’ elaborado pelo Bahia e apresentado ao final do 3 a 0 sobre o Flamengo. Mas foi Gilberto, autor dos gols, com um chapéu de cangaceiro, acompanhado da frase ‘nordestino retado torce pra time do seu estado’.

Gilberto é alagoano, torcedor do Flamengo. Pouco importa. A intenção do Bahia era se autoafirmar como clube fora do grupo dos privilegiados que tem conseguido fazer barulho com ações inteligentes. Talvez essa não tenha sido a melhor delas, pois atinge as mesmas minorias que defende. A imagem de Nino como o símbolo da força, da raça de um time do Nordeste que derruba um dos clubes mais ricos do País me arrancaria um sorriso.

Acordei nesta segunda-feira, assisti novamente ao triunfo tricolor de domingo e pensei: como não amar esse cidadão? Nino não é, não foi nem nunca será um dos melhores laterais que você já viu. Muito longe disso. Mas é comovente ver como ele se comporta em campo.

É só quando atua com essa energia que o Bahia consegue se equiparar aos maiores times do Brasil. E é com ela também que vai passar facilmente pelos mais fracos. Na má fase recente, o time se perdeu num comodismo que levava em conta o sucesso obtido com postura conservadora. Porém, ainda que entregue a bola ao adversário e dê prioridade aos contra-ataques, o Esquadrão precisa se superar para vencer. Fazer como neste domingo, ser histérico na marcação, tanto no campo de defesa como no de ataque.

Imagem ilustrativa da imagem Detalhe Tático: Como não amar?

Rei dos desarmes

E o Bahia foi elétrico, incontrolável. No jogo, executou um total de 30 desarmes, quase dobrando sua média no Brasileirão: 17,4. O Flamengo, que teve 64% de posse de bola, fez 21 desarmes, exatamente sua média na competição. Líder no quesito, o Santos tem média de 21,8, seguido por Ceará, Flamengo, Inter e Grêmio. Esse top 5 rejeita uma possível argumentação que colocasse times com pouca posse como os maiores ladrões de bola. Das cinco equipes, só o Ceará não está entre as mais propositivas.

Os números dos jogadores também impressionam. Flávio, na melhor atuação pelo Bahia, executou oito desarmes. Na sequência, veio Nino, com cinco. Os líderes do fundamento na Série A não chegam a quatro de média. Uma explicação lógica para a estatística fora da curva foi a esperta escalação de Roger Machado, que fez uma dobra na esquerda com a inclusão do lateral Giovanni na linha do meio-campo. Barrado por ali, o Fla concentrou as investidas na ponta oposta (teve 22% de posse naquele setor, contra 12% no lado direito do ataque), onde encontrou a brava resistência de Flávio e Nino – confira o desequilíbrio no mapa de calor do time carioca, do site Footstats, que também fornece todos os números desta matéria. Pesou ainda o fato de Filipe Luís e Arrascaeta não estarem no melhor da forma.

Como prova de que não se restringiu a uma postura conservadora, o Bahia cravou 23% do tempo com a posse de bola no campo ofensivo, apesar da confortável posição de um 3 a 0 a favor em toda a segunda etapa. Na derrota para o Grêmio que eliminou o time da Copa do Brasil, o Esquadrão, mesmo tendo de buscar o empate por 37 minutos a partir do gol gremista, só conseguiu ficar com a bola por 22% do tempo no ataque.

Uma coisa que me preocupa é o fator motivacional de enfrentar o Flamengo. É estritamente necessário que Roger consiga manter esse espírito nos jogadores mesmo em partidas que chamem menos atenção. E que o Bahia continue espalhando o orgulho de ser nordestino, sem esquecer de cobrar igualdade.

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