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Resenha Rubro-Negra - Tenho inveja de quem vai

O futebol não tem graça com razão. É de emoção que vive cada torcedor apaixonado

Publicado sexta-feira, 15 de julho de 2022 às 06:30 h | Atualizado em 15/07/2022, 08:01 | Autor: Angelo Paz | Jornalista | [email protected]
É difícil entender como um time que jamais frequentou o G-8 vai botar cerca de 30 mil pessoas no estádio
É difícil entender como um time que jamais frequentou o G-8 vai botar cerca de 30 mil pessoas no estádio -

Eu queria estar em Salvador neste domingo. Não estarei, mas o meu coração estará. Mais precisamente em Canabrava, em meio ao mar de gente cheia de esperança por uma tarde de festa na casa do Nego mais querido da Bahia. Futebol é isso. É se frustrar um dia, ir ao êxtase no outro e repetir esse ciclo pela eternidade. É bem capaz que milhares que há três semanas xingavam o Vitória de tudo que é nome e juravam não pisar mais o pé no Barradão este ano estejam lá, com a mesma empolgação de antes do confronto com o Volta Redonda, quando quase 30 mil rubro-negros sofreram ao final de outra tarde de domingo.  

Algo absolutamente normal, mudar de ideia. O futebol não tem graça com razão. É de emoção que vive cada torcedor apaixonado. No sofrimento, embora a dor seja forte, o amor fala mais alto. E é esse sentimento que fará cada um (a) pegar o engarrafamento de sempre para chegar à Toca e empurrar o Leão, como em uma decisão. Tirando a primeira rodada, o Vitória nunca esteve tão perto de, enfim, entrar no G-8. Dois pontos separam o Rubro-negro do grupo que jamais frequentou nesta Série C.  

Sim, é sofrível imaginar que o Vitória esteve a maior parte das 14 rodadas em maior proximidade da zona de rebaixamento do que do G-8. E daí? O torcedor vai assim mesmo. O amor tem dessas. A gente abraça ainda mais forte na dificuldade. A semana tem sido especial, com aquela atmosfera de casa cheia, com parcial de ingresso ao fim de cada turno. É clube e torcida numa só sintonia, chamando geral pra colar na Toca.  

E tudo isso acontece quando muita gente não botava mais fé. Após tomar um gude preso em casa do Botafogo-SP, além de se aproximar ainda mais da zona, o Vitória demitiu o terceiro treinador na temporada. O segundo só na Série C. Tudo caminhava para o desfecho que virou rotina nos últimos anos: decepção.  Mas aí chegou João Burse, sem gerar expectativa, e três rodadas depois o técnico tem o melhor início de trabalho no clube desde Carlos Amadeu em 2019, ano em que o clube disputava a primeira Série B após a queda em 2018.  

Até Tréllez fez gol. Um golaço. De cobertura, empurrou para as redes a bola que garantiu não só o 2 a 1 sobre o São José, em Porto Alegre, mas toda essa esperança que me refiro ao longo desse texto. Na ausência de Rodrigão, contratado para resolver a falta de gols, Tréllez terá a grande chance de reconquistar todos aqueles que vibraram com seus gols em 2017, na Série A. Por falar em bola na rede, Rafinha, que chegou sem o menor alarde e nunca foi muito íntimo das redes, desandou a fazer gols. Com seis em nove jogos, já tem a melhor média de gols da carreira. A maré virou.  

Se tiver alguém que vai lembrar do pênalti perdido pelo atacante contra o Volta Redonda, já passou da hora de esquecer. Não ficar preso ao passado, inclusive, é a receita de João Burse desde que chegou. Ao final da vitória do último domingo, repetiu mais uma vez, longe da euforia pela boa sequência: “é esquecer o que passou”. Enquanto o time foca no que precisa fazer, a torcida fará novamente o que mais sabe: apoiar o clube incondicionalmente.   

É difícil entender como um time que jamais frequentou o G-8 vai botar cerca de 30 mil pessoas no estádio pela segunda vez no campeonato. Uma força necessária para empurrar o Leão num jogo difícil, contra o também tradicional Paysandu, que faz bonito na vice-liderança e está bem perto de carimbar a classificação. Que não seja neste domingo. Não vai ser, diz meu coração. Não só o meu, mas o de todos e todas que vão fazer uma linda festa neste domingo. Tenho inveja de quem vai. Eu não vou, mas estou conectado com vocês. Sempre.

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