Resenha Rubro-Negra - Vitória da democracia
Algo que repudio no futebol acontece atualmente no Brasil: o rival é tratado como inimigo
Tudo passa muito rápido e eu, que há uma semana tinha grande parte dos meus pensamentos centrados no acesso do Vitória à Série B, nesta sexta já estou envolto na expectativa das eleições, quando o Brasil terá a oportunidade de proteger a sua democracia através da derrota, já no primeiro turno, das forças extremistas, personificadas na figura de Jair Bolsonaro. Sim, mais uma vez vamos misturar futebol e política por aqui. Assim, a bola vai rolar graças a um direito democrático reconquistado em 1985 no nosso país: a imprensa livre, um terror para o autoritarismo que acabei de me referir.
Já volto ao futebol, mas antes vale refletir sobre a importância deste domingo, não só para o Brasil. Nem vou lá atrás fazer referência aos sombrios anos 30 na Europa ou aos repressivos anos 70 na América Latina. Fiquemos nas últimas décadas mesmo. A carta aberta de mais de 50 intelectuais e políticos de diferentes países vizinhos pedindo a desistência de um legítimo candidato como Ciro Gomes mostra o risco que corremos.
Todos estão com a cuca fresca quanto ao enfraquecimento das instituições democráticas em países como Brasil, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela após mandatos de populistas como Bolsonaro, o peruano Alberto Fujimori, o venezuelano Hugo Chávez, o boliviano Evo Morales, além dos equatorianos Lucio Gutiérrez e Rafael Correa. Uma rápida parada aqui para destrinchar o termo populismo, que se refere à manipulação dos medos e necessidades da população por líderes carismáticos. Eles surgem com a promessa de soluções simplistas e imediatas, que como você verá no próximo parágrafo, vem acompanhada de um preço alto caso eleitos.
Entre as estratégias dos atuais populistas, uma efetiva estrutura de fake news através das plataformas digitais, a deslegitimação das instituições de mediação da vontade popular, como a imprensa, além de ataques às supremas cortes ou quaisquer instituições que exerçam efetivo controle e poder. No Brasil, o atual governo populista resultou no aprofundamento da miséria e da violência, na negligência da vida em meio a essa interminável pandemia, em ataques diários ao jogo democrático, sem citar tantas outras aberrações mais. O suficiente para todos sentirem medo, não só nós, brasileiros.
Por tudo isso, este domingo tende a ser tenso. Isso porque algo que repudio no futebol acontece atualmente no Brasil: o rival é tratado como inimigo. Ainda vivemos uma ameaça real de rejeição ao resultado das urnas. Definitivamente, precisamos deixar essa tensão para trás. E o próprio futebol brasileiro é um bom exemplo desse ideal que buscamos outra vez para o Brasil. O mais recente é o próprio Vitória, que há menos de duas semanas viveu eleições. Todos os candidatos se respeitaram, nenhum contestou o resultado, quem perdeu parabenizou os vencedores e um dia depois todos estavam, juntos, celebrando a vitória decisiva sobre o Figueirense, que praticamente garantiu o sofrido acesso rubro-negro.
E como festa é uma de nossas especialidades, precisamos recuperar, ao menos, um ambiente no qual possamos celebrar a vida. Mais uma vez faço referência ao futebol, mais precisamente a linda festa da torcida do Vitória com o acesso rubro-negro: começou no sábado, com a torcida no gramado do Barradão, e se estendeu pelo domingo, com o regresso da delegação de Belém. Aeroporto e estacionamento do Barradão tomados para celebrar um alívio após anos difíceis na história centenária do clube. Com esse mesmo alívio, espero celebrar neste domingo a vitória do Brasil. Vamos salvaguardar a nossa democracia. Às urnas, vamos de Lula.