Resenha rubro-negra: Salmo rubro-negro
A Copa do Brasil é meu pastor, nada me faltará, principalmente dinheiro. Ainda que caminhemos pelo vale da morte, digo, Série B, é tua premiação que me salvará. Oremos todos os dias este salmo, pois em verdade vos digo: esta competição é o evento mais importante do Vitória nos últimos anos. Não apenas pela busca incansável do merecido título nacional, mas pela grana que salvará o clube do apocalipse ou de mais um ano na Segundona, o que dá no mesmo.
A conta é simples. É como o milagre da multiplicação de peixes, ou para alguns boleiros, de vinho. Revertendo o placar contra o Ceará, são mais R$ 2 milhões garantidos no cofre. É um valor providencial no orçamento de um clube com pouco dinheiro e que busca o acesso no final do ano. O rubro-negro achou de ser rebaixado justamente em 2018, ano em que a CBF decidiu cortar drasticamente a cota dos clubes no descenso. Antes, apesar do rebaixamento, os clubes recebiam o mesmo valor do ano anterior. Uma ajudinha para subir no ano seguinte. Acabou a mamata, pai. E só a Copa do Brasil salva.
Na classificação diante do Lagarto de Sergipe, o Leão desembolsou mais de R$ 1,5 milhão, fora a grana gradativa das fases anteriores. Para muita gente, o Leão não fez mais que sua obrigação. Para o quadro de colaboradores do clube, comida no prato. Além de pagar o quadro de atletas do grupo principal, a diretoria também depositou a grana dos funcionários que ganham até R$ 1.500, segundo um funcionário me confidenciou. Para outros que ganham mais, nada de salário em 2020.
Por estes motivos, cada jogo do Vitória na Copa do Brasil é uma decisão, dentro e fora de campo. É o pirão no prato, a esperança renovada de quem trabalha no clube. O torcedor precisa se comportar como tal, pois o futuro do clube depende do rendimento milionário desta competição, incluindo a luta pelo acesso. Lotar o Barradão é obrigação.
Contra o Ceará, ontem, cada defesa de Lucas Arcanjo era mais um mês de salário na conta de um funcionário do clube. Foi este anjo caído e de luvas, renegado por alguns, que tentou de todas as maneiras salvar o pirão dos colaboradores rubro-negros. Pena que nem todos estavam neste espírito. Acuados e sem fé, levamos um gol no primeiro tempo. Melhoramos no segundo, mas aquele dilúvio na Arena Castelão impediu uma reação.
Agora é com a gente. Precisamos lotar nosso templo sagrado Barradão no jogo de volta. Cada sócio novo, cada ingresso comprado é uma forma de ajudarmos nosso clube do inferno astral. Nossa oração será o canto de apoio na arquibancada. Nossa religião, o Vitória. A Copa do Brasil é o caminho da salvação e a classificação diante do Ceará será mais um dia distante do juízo final. Amém?