Governo realiza mobilização para enfrentar queda na adesão vacinal
Programa tem objetivo de criar uma ampla rede de colaboração no Brasil
Implantado em formato piloto nos estados da Paraíba e do Amapá, o projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais (PRCV) busca a criação de uma ampla rede de colaboração na qual cada setor da sociedade desempenha um papel decisivo no enfrentamento da queda na adesão às vacinas em todo o país. Em 2021, apenas 51,14% das crianças brasileiras completaram o esquema da tríplice viral e a maior cobertura do ano foi 72,7% da vacina pneumocócica. A meta paraambas é de 95%.
Apresentado durante a XXIV Jornada Nacional de Imunizações, o PRCV (sbim.org.br/prcv) é uma iniciativa conjunta do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos), da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. A meta é levar o projeto para outros estados a partir de 2023, quando os pilotos serão concluídos.
O projeto está presente em todos os 16 municípios do Amapá e em 25 municípios que concentram 37% da população da Paraíba. O Amapá é o estado brasileiro com o maior número de casos de sarampo atualmente, lembrando que há três anos o Brasil perdeu o status de país livre da doença, que havia sido concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde em 2016. De acordo com a Secretaria da Saúde da Paraíba, até o início de agosto, apenas 33,19% do público-alvo havia sido vacinado contra o sarampo, cerca de um terço da meta de 95%.
“Óbvio que teve a pandemia, mas não é só a pandemia, porque antes a gente já observava uma queda nas coberturas vacinais”, ressaltou a coordenadora da assessoria clínica de Bio-Manguinhos, Maria de Lourdes de Sousa Maia. Em sua avaliação, o papel central do projeto é integrar diferentes esferas de maneira colaborativa e indutora, envolvendo diversos atores fazendo o diagnóstico da situação e trabalhando nas soluções, com incentivo ao protagonismo local.
Objetivos
Na esfera da gestão pública, o PRCV tem os objetivos de priorizar as imunizações na agenda política e garantir o seu financiamento; fortalecer as ações do PNI e da Atenção Primária de Saúde em níveis federal, estadual e municipal; integrar dados e sistemas de informação e comunicação; e elaborar com estados e municípios seus planos específicos Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, com planejamento até 2025.
O projeto pretende ainda sensibilizar a população e criar uma grande rede de solidariedade; organizar e analisar informações sobre as causas das baixas coberturas vacinais; propor e desenvolver soluções para gargalos e dificuldades em conjunto com estados e municípios; acompanhar, monitorar e avaliar a execução dos planos municipais, fortalecendo o intercâmbio das melhores práticas; e desenvolver e propor um plano de ação para disseminar a metodologia em todo o país.
A interação com as diferentes frentes envolvidas na melhoria da adesão à vacina é um item fundamental para Maria de Lourdes, pois é um meio de mostrar que os responsáveis pela execução da vacinação não estão sozinhos. “Precisa sentir que tem alguém por trás olhando as dificuldades encontradas no local, entendendo e dizendo ‘vamos em frente’, a gente precisa retomar isso”, defendeu.
Estratégias
Líder do eixo de comunicação e educação do PRCV, Isabel Cristina de Azevedo começou sua apresentação lembrando que mais importante do que projetos e campanhas é a construção de estratégias para que o país nunca volte à situação atual em termos de vacinação, ressaltando o papel de país de referência internacional em imunização um dia ocupado pelo Brasil.
“A gente parte do território, a gente vai para o território, a gente dialoga, a gente vê quem pode ser interlocutor no território, mas pensa em acessar o território já a partir das grandes redes, as redes que têm capilaridade. Cada passo que a gente dá é sempre pensando como fazer a disseminação do método em um país com a nossa diversidade”, conta Isabel.
Um desafio destacado por ela é a necessidade de furar as bolhas onde circulam as informações antivacina, por isso a busca das múltiplas redes, incluindo desde institutos de pesquisa como a Fiocruz até os influenciadores locais, passando por instituições de saúde, universidades, escolas e entidades da sociedade civil. “Cada município tem uma rede local que reúne pessoas representantes dessas diferentes redes que a gente está acessando”, enfatiza.
Redes locais
A partir desta semana, Isabel e sua equipe iniciam as viagens ao Amapá e à Paraíba para fazer a estruturação dessas redes locais, a partir dos retornos das instituições sobre os seus representantes em cada município. “Hoje em dia está assim, quem diz é mais importante do que o que se diz, então quando o padre chega na missa e diz ‘tem que vacinar senão a paralisia infantil vai voltar’, isso tem outro valor”, comenta.
Criar uma percepção do risco envolvido na recusa à vacinação de maneira ética é o desafio destacado pelo responsável pela Comunicação da SBIm, Ricardo Machado, que está à frente da campanha de comunicação do PRCV. “A gente precisa trabalhar isso porque as pessoas olham para o lado e não veem mais as doenças que a gente conseguiu controlar ou eliminar”, argumenta.
“A gente tem uma população que acredita nas vacinas, mas está muito impactada pela desinformação, pelas fake news”, pondera Machado. A identificação de embaixadores da causa é uma das estratégias previstas para a disseminação massiva de informação correta sobre a importância da vacinação para saúde das crianças, incluindo a abordagem de consequências graves de algumas doenças preveníveis por vacina, como sequelas e morte.