Casa de Gana chega a Salvador esbanjando seu farto caldeirão cultural | A TARDE
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Casa de Gana chega a Salvador esbanjando seu farto caldeirão cultural

Na gastronomia, um destaque é koose, o bolinho de feijão que tem semelhança com o acarajé

Publicado sábado, 25 de novembro de 2023 às 06:39 h | Atualizado em 20/01/2024, 06:56 | Autor: Isabel Oliveira
Koose, bolinho de feijão fradinho dos africanos
Koose, bolinho de feijão fradinho dos africanos -

A Bahia tenta, cada vez mais, se aproximar de um dos seus DNAs de origem, o povo africano. A Casa de Gana, que está prestes a se estabelecer no Centro Histórico de Salvador, local emblemático para o povo de origem escravizada na Bahia, é um desses encontros que trazem a grande promessa de intercâmbio cultural. Mais que isso, nos oferece a satisfação de entender e reconhecer as características que contribuíram para a formação do povo baiano ao longo dos séculos, especialmente em Salvador.

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Gana é um dos países que trazem uma imensa diversidade cultural, com suas, nada mais, nada menos, 52 etnias, despejando um imenso caldeirão cultural na capital baiana.

O ganense Justin Lloyd Ankal Mac Aidoo, conhecido como Sankofa, cozinheiro e DJ, mora em Salvador desde 2001. Ele faz parte da comitiva da Casa de Gana e trouxe para a cidade, além da música, seus dotes culinários. Ele fala com muito entusiasmo da identificação com a capital baiana, principalmente na área que domina: a gastronomia.

O cozinheiro e DJ Sankofa
O cozinheiro e DJ Sankofa |  Foto: Nathane Santana
 

“Sabe quando você sai do seu país e do nada sente um cheiro ou um sabor e se identifica? O primeiro cheiro de comida que eu senti foi moqueca com caruru. Quando eu comi moqueca com caruru, falei:  'Estou em casa!' Até hoje, uns dos melhores pratos para mim são moqueca e caruru. E se você leva o Brasil para Gana, eu sou de Salvador”, diz, com seu forte sotaque, em uma metáfora de identificação entre Gana e a capital baiana.

Sankofa enfatiza a grande diversidade cultural africana e as influências geradas entre estados e tribos. “A culinária ganense é diversa e baseada nas diferentes tribos presentes em cada estado de Gana. A mistura de culturas contribui para uma culinária rica e única”, diz.

Quando eu comi moqueca com caruru, falei: Estou em casa ! Sankofa, Cozinheiro e DJ
  

Ele lembra que essa diversidade cultural, quando chegou a Salvador nos tempos coloniais, estava estrategicamente dividida em diversas tribos, influenciando e gerando outra diversidade, formando esse caldeirão cultural que vemos atualmente na Bahia.

“Eles colocavam todas as tribos juntas, misturadas, como estratégia para colonizar. Isso é importante falar”, ressalta sobre a forma como os colonizadores juntaram as tribos diversas para impedir a comunicação e possíveis motins.

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Não é à toa que existem semelhanças entre a comida baiana e a africana de um modo geral, incluindo a comida ganense relatada por Sankofa, pois há, como em toda cultura plural, uma diversidade na unidade africana.

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“Sempre vou bater nisso porque faz diferença nas tribos. Tipo: a comida de São Paulo não tem como comparar com a comida da Bahia. Então, como você explicaria isso? Estou querendo fazer você entender por que as tribos fazem grande diferença nas suas culturas gastronômicas, que não são iguais. Os mesmos ingredientes, mas com preparações diferentes”, diz, tentando explicar como nas semelhanças também há diferenças.

Um dos elementos comuns entre Bahia e alguns países africanos é o dendê, embora a comida em Gana seja completamente diferente da baiana em muitos aspectos.

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“As diferenças entre a comida baiana e a ganense incluem o uso do dendê e a presença de ingredientes defumados na culinária. As semelhanças estão nos ingredientes como camarão seco e em pratos como a moqueca. A influência africana na culinária baiana abrange diversos países, como Gana, Nigéria, Togo, resultando em uma fusão de sabores e técnicas. Aqui, o acarajé, por exemplo, é diferente da forma como é feito em outros países africanos”, diz Sankofa, que continua nos brindando com algumas curiosidades sobre as comidas à base de dendê, muito diferentes das nossa.

“São mais de 20 pratos com dendê porque nossos pratos são baseados em dendê. Tem a sopa de palma que não usa óleo de dendê, mas a fruta de dendê, a pasta de dendê para fazer a sopa. A gente usa óleo de dendê para fazer kontomire, que é feito com folha de taioba e leva camarão seco; pode ser miraguaia (peixe), bacalhau, esse tipo de peixe que é secado ou defumado. A gente tem entroba frio, que também leva dendê”, conta.

Um dos pratos mais emblemáticos para nós, baianos, são os bolinhos fritos no dendê, o nosso famoso acarajé. A iguaria, que tem inegavelmente origem africana, da qual recebemos influência direta de grande parte da África, leva o nome de koose em muitas tribos do continente africano, segundo informações de Sankofa e Luiz Delaje, curador da Casa de Gana.

A baiana Angelimar, famosa no IAPI
A baiana Angelimar, famosa no IAPI |  Foto: Angelimar/Divulgação
  

Luiz do Nascimento Delaja, filho de mãe brasileira e pai nigeriano, nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criado e educado nas culturas nigeriana e ganense. Ele diz que o koose, como chamam o bolinho feito à base de feijão-fradinho e que tem semelhança com o acarajé baiano, é encontrado em vários países africanos. Há o koose ganense, koosay, de Serra Leoa, o kooshe, de Camarões, só para se ter uma ideia.

O vídeo abaixo mostra o passo a passo de como fazer o koose, o bolinho de feijão fradinho dos africanos

 

Boasiako Media TV
 

E aqui entra uma discussão polêmica, muito curiosa e peculiar sobre a origem do acarajé. Trata-se de um bolinho já apresentado no Histórias & Sabores que gerou polêmica na ocasião. O bolinho teria origem entre os árabes e chegou até nós através dos malês, segundo alguns gastrônomos e historiadores.

Sankofa acredita na tese de que a origem do koose vem dos malês, que são do norte de Gana e com influência árabe. “Então, é uma comida árabe mesmo. Eu creio que eles que trouxeram para cá. São árabes, não são da África ocidental”, afirma.

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Já Luiz Delaja acredita na influência dos povos iorubás, para quem o bolinho é chamado de akará, e não koose, como em outras tribos. Por isso, ele crê que as influências baianas têm muito mais a ver com os povos iorubás, que têm como origem a palavra acará, de onde teve origem o termo acarajé. E olha o jeito como ele acredita que se formou toda história do nosso bolinho baiano.

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“Tem duas possibilidades do nome acarajé aqui. Uma, sendo que as mulheres estão vendendo acarajé nos mercados e estava gritando ‘acarajé acará, acará para comer!’. E comer em iorubá é jé. Virou acarajé. Todo o mundo começou a chamar acarajé. Mas também na Nigéria, em Ilê Isha, tem o acará, que eles chamam acarajé. E acará é frito com óleo de dendê. A gente pode supor que a trajetória de acará veio de lá”, conta.

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Polêmicas à parte sobre o bolinho mais amado da Bahia e hoje em várias partes do Brasil, o que sabemos é que a gostosura baiana, que tem origem na África,  é feita de forma diferente na Bahia, diferente do bolinho conhecido como koose em quase toda a África, como diz Sankofa.

“O da gente tem outra forma de fazer. A gente coloca pimenta dentro da massa e tem regiões que usam outros ingredientes, mas o da Bahia é baiano. Não tem nos países da África quem faça assim, só aqui na Bahia. O nosso ‘acarajé’, a gente come com pão, vira manteiga porque é mole, não é tão duro como aqui. E frita com óleo de cozinha, que é óleo vegetal. Isso que faz a diferença daqui e de lá”, conta, falando da forma feita em Gana e em alguns estados.

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Depois de contar essa pequena história, do ponto de vista desses povos, vamos homenagear os ganenses, que por aqui estão em pleno Novembro Negro, e aproveitar para homenagear as baianas no Dia da Baiana do Acarajé, que ocorre neste 25 de novembro.

E a nossa receita, feita por Sankofa, será o bolinho de ‘acarajé’ africano, o koose, cujos ingredientes são muito simples, além de ser de fácil execução.

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Koose


 Ingredientes

1 1/2 xícara de feijão-fradinho

1 cebola média

1 pedaço de gengibre (1 polegada)

1/2 a 1 pimenta, que pode ser de cheiro

1/2 xícara de água

1 colher de chá de sal

4 xícaras de óleo vegetal para fritar

Modo de preparar

Prepare o feijão-fradinho, deixando de molho para descansar de dois a três dias.

Coloque o feijão em um liquidificador resistente e comece a pulsar até ficar homogêneo. Adicione 1/4 xícara de água gradativamente para facilitar o processo de mistura.

Adicione a cebola, o gengibre e a pimenta no liquidificador. Bata até ficar homogêneo. Adicione sal.

Aqueça o óleo vegetal em uma panela pequena ou média.

Adicione um pedaço de cebola enquanto o óleo esquenta para dar aroma à fritura.

Com o óleo bem quente, use uma colher de sopa para colher a massa e colocar na panela.

Deixe fritar por 3 a 4 minutos. Vire-os para garantir que estejam dourados por igual.

NOTA COM HISTÓRIAS & SABORES

Considerado o restaurante Suíço em Salvador, o Racletto completa três anos

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O restaurante Racletto completa três anos no final do mês de novembro. Idealizado em 2020, ele é considerado o restaurante Suíço de Salvador e funciona no Horto Florestal, local onde habitava uma família de suíços, que vivia na Chácara Suíça. Especialidade da casa, os queijos fazem sucesso com a clientela, principalmente o queijo Raclette servido raspado. Para comemorar a data, a administração realiza no final do mês uma celebração íntima para convidados.

Salvador ganha nova cafeteria em museu no Centro Histórico

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Já está funcionando a todo vapor a Mimú Cafeteria, inaugurada neste fim de semana na Rua do Tesouro, nas dependências do  Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), Centro Histórico de Salvador. A SETRE, por meio da SESOL e do Cesol Metropolitano I (Salvador) e II Lauro de Freitas, em parceria com o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira, são os idealizadores do empreendimento.  A Mimú Cafeteria é um espaço colaborativo dentro do contexto da economia solidária, que oportunizará uma vivência de trocas e colaboração entre mulheres empreendedoras pretas de Salvador. A palavra “Mimú” vem da língua Yorubá que significa bebida.  

Restaurante 138 abre aos domingos, no almoço,  com novidades

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O Restaurante 138, na Barra, passa a funcionar também aos domingos para o almoço. O estabelecimento promete novidades a cada domingo e neste fim de semana  os clientes já podem experimentar  uma deliciosa feijoada, que acompanha arroz, molho lambão e uma salada de couve e laranja defumada. O Restaurante 138 funciona  das 12 às 16h, na Rua Belo Horizonte, 138, no Jardim Brasil, na Barra.

Baiana supera desafios e inaugura o primeiro self-service de acarajé em Salvador

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Marinalva Santos da Conceição, 62 anos, há 40 anos vendendo acarajé, inaugura no próximo dia 01/12  o primeiro self-service de acarajé em Salvador. O empreendimento Point do Acarajé vai funcionar na Rua Direta de Tancredo Neves, 06 - Tancredo Neves,  das 18h às 23h, e será vendido a R$ 49,90 o quilo..

Gastrobar Coco Pimenta lança prato especial para o Festival Sabores de Itacaré 2023

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A décima  edição do Festival Sabores de Itacaré acontece entre os dias 30/11 a 20/12, e os restaurantes participantes já definiram os pratos para o evento gastronômico. Um deles é o Gastrobar Coco Pimenta, especializado em massas artesanais e alta coquetelaria. O espaço é gerido pelos empresários Léa Baptiston e José Brugiolo, que vão apresentar uma receita especial do Chef paulista, Oswaldo Almeida. Trata-se do ‘Mar à Dentro’, iguaria, que custa R$79 e estará disponível neste valor durante todo o evento. O Coco Pimenta fica na Travessa Castro Alves - Praça Santos Dumont, 40 e funciona diariamente das 12 às 23h, sendo as quartas a partir das 18h. O Coco não funciona às terças. Saiba mais seguindo o @cocopimentagastrobar no Instagram.

Franquia Crepefy chega à Bahia com primeira unidade no Shopping Paralela

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A tradição dos crepes franceses, que conquista milhões de paladares ao redor do mundo, chega com um toque brasileiro à capital baiana. A franquia Crepefy, especializada no modelo europeu de crepe francês, inaugura seu primeiro quiosque em Salvador, no dia 27 de novembro, na Praça de Alimentação do Shopping Paralela. Com a inauguração, a Crepefy, que tem como diferencial a massa levinha e crocante, os ingredientes frescos e as diversas opções de recheios nutritivos e completos, se consagra como a primeira da rede no estado.

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