Das frutas às flores, o licor do Desterro é destaque no São João | A TARDE
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Das frutas às flores, o licor do Desterro é destaque no São João

Secular pomar da instituição garante, todos os anos, o saboroso produto, que ajuda a manter o local

Publicado sábado, 04 de junho de 2022 às 01:48 h | Atualizado em 07/06/2022, 18:40 | Autor: Isabel Oliveira
O licor da rosa Rainha Elizabeth é um dos mais procurados
O licor da rosa Rainha Elizabeth é um dos mais procurados -

Foi em um pomar do século XVII, com muitas frutas, como a pitanga, a banana-nanica, a laranja, dentre outras delícias, além de flores, a exemplo de rosas da espécie Rainha Elizabeth, que as Irmãs Clarissas, do Convento Santa Clara do Desterro, tiveram a ideia de produzir uma das bebidas mais tradicionais do São João: o licor. 

O objetivo era comercializar o produto para manter o próprio convento e ajudar aos mais necessitados, mas a produção da água licorosa transformou-se em um evento de tradição no período junino, quando a bebida é muito disputada. Esta é a hora em que as freiras franciscanas, que hoje vivem no convento, finalizam a produção da bebida para garantir a festa junina de muita gente.

O pomar do Convento Santa Clara do Desterro remonta ao século XVII
O pomar do Convento Santa Clara do Desterro remonta ao século XVII |  Foto: Divulgação
 

O licor é uma das tradições do convento e passa de geração para geração entre as irmãs. A irmã Maria de Lourdes chegou ao Convento Santa Clara do Desterro aos 18 anos, em 1984, com a missão de participar da produção de licor e hoje é ela quem coordena o local. Mas antes da irmã Lourdinha, cinco freiras passaram pela produção mais esperada do ano na época do santo junino.

“Quando cheguei, encontrei aqui a irmã Encarnação, que fazia o licor. Em 1990, depois que ela faleceu, a irmã Penha assumiu, depois veio a irmã Madalena, seguida da irmã Aparecida. Eu vim em 2007, assumi uns meses, mas agora estou à frente como responsável”. 

São produzidos de dois mil a 2,5 mil litros de licor no Convento do Desterro, feitos durante todo o ano, de forma lenta e artesanal, para atender à demanda nesta época do ano, como conta irmã Lourdinha, como é carinhosamente chamada. 

  • A banana-nanica no pomar do convento também se transforma em licor
    A banana-nanica no pomar do convento também se transforma em licor |
  • O cacau está entre as frutas que se transforam em licor
    O cacau está entre as frutas que se transforam em licor |
  • O licor da erva guaco é usado como medicinal
    O licor da erva guaco é usado como medicinal |
  

“As frutas ficam seis meses, um ano, dois, três anos em infusão no álcool, mas pode ficar até mais, a depender da fruta ou até da pessoa que queira. Quanto mais velho o licor, melhor. Porém, a partir dos seis meses, a fruta em infusão já está boa para produzir o licor, ir para a filtração e pronta para preparar o processo de engarrafamento. É por isso que a gente trabalha o ano todo. Quando chega no finalzinho de maio e junho, já temos uma boa quantidade para oferecer à população”, conta.

Atualmente a irmã trabalha com 25 sabores para a comercialização, mas ela chegou a encontrar 28 sabores no Convento. Alguns sabores “saem de linha”, pois, segundo a irmã, dá mais trabalho e a produção não compensa. A ameixa, dentre outras frutas, está entre elas. Segundo a irmã Lurdinha, a aprendizagem para que o produto saia ano após ano, implicou, ao longo dos séculos, em cooperação e ajuda mútuas entre as irmãs.

A aprendizagem para que o produto saia ano após ano, implicou, ao longo dos séculos, em cooperação e ajuda mútuas entre as irmãs Lourdinha, irmã
 

Segundo a irmã Maria de Lourdes, as freiras experimentaram os sabores das frutas para perceber como elas se comportavam até serem transformadas em licor.

“Sempre uma ajudava as outras. Tinha as irmãs que faziam licor, as outras iam para a roça, para o pomar tirar as frutas, iam para a horta, cada uma com um tipo de trabalho; umas iam plantando, outras colhendo para higienizar as frutas, até chegar ao ponto de fazer o licor. A cada tempo ia se descobrindo se as frutas eram ideais para fazer a bebida. Será que o licor de jenipapo é bom? Então faziam o de jenipapo. Depois a outra descobria outra fruta. Tem aqui um pé de cajá, será que vai dar certo? Aí fazia o de cajá e ia descobrindo as frutas saborosas que serviam para fazer o licor, cada um com seu sabor, seu perfume, seu paladar e aí ia aumentando a produção”, detalha irmã Lourdinha.

As frutas são as grandes vedetes do pomar
As frutas são as grandes vedetes do pomar |  Foto: Olga Leiria / Ag. A Tarde
 

As frutas são, sem dúvida, as grandes vedetes da tradicional bebida, mas o licor de rosas da espécie Rainha Elizabete também é muito procurado, segundo conta irmã Lourdinha. As rosas são plantadas de forma cíclica no pomar do convento. São feitas as mudas, até que vinguem e, quando crescem, são colhidas para que deem um licor saboroso na época de São João.

“A rosa é um pouco mais difícil de encontrar. A dificuldade do acesso ao pomar torna o produto mais caro, mais diferenciado. Também nem todo o mundo aqui tem, é muito difícil aqui no Brasil, aqui no estado. Nunca vi o licor de rosas, a não ser aqui no Convento de Santa Clara do Desterro. Ele é muito diferenciado e muito procurado. Os outros também são bem vendidos, mas primeiro é a rosa Rainha Elizabeth, depois o jenipapo.

 

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Não se sabe como as rosas dessa espécie foram parar no pomar anexo do convento, mas a rosa Rainha Elizabeth, criada pelo cientista americano Dr. Walter Edward Lammerts em 1954, está entre as irmãs há muitos anos. .

No entanto, a religiosa conta que o licor de jenipapo tem muita saída e acaba rapidamente. Vevé Bragança, consultor e educador em gastronomia, revela que a demanda da clássica fruta junina tem uma funcionalidade que explica os inúmeros pedidos. .

“O licor de jenipapo é muito bem-vindo nas festas juninas porque nós estamos não só expostos ao frio, mas também às fogueiras, aos fogos, o que pode causar alergias, resfriados e o licor de jenipapo é terapêutico. Além do álcool, que é um antisséptico natural, nós temos o açúcar, uma fonte de energia. Ela é uma fruta que possui princípios ativos fundamentais ao sistema respiratório. É anti-inflamatoria e, além disso, serve para ajudar na melhoria do sistema respiratório”, explica.

A tese apontada pelo gastrônomo encontra fundamento no desenrolar da invenção do licor. Dizem que foi na Idade Média que se percebeu que o vinho, e depois o álcool, funcionavam como um antisséptico natural. Eles eram adicionados às ervas e às plantas, sendo pesquisados pelos monges para tratamento de várias doenças. Mas o aparecimento do licor remonta a tempos imemoriais e não há ao certo registro de quem realmente possa ter descoberto que a infusão de algumas frutas ou ervas, misturadas ao açúcar e ao álcool, daria numa bebida que hoje chamamos de licor, embora alguns autores creditem aos italianos a origem do produto.  

O licor de rosas Rainha Elizabeth é um criação do americano Dr. Walter Edward Lammerts
O licor de rosas Rainha Elizabeth é um criação do americano Dr. Walter Edward Lammerts |  Foto: Olga Leiria / Ag. A Tarde
  

Mas há uma curiosidade relatada entre os pesquisadores que coincide com um dos séculos em que as Clarissas iniciaram a produção do licor em Salvador. Foi entre os séculos XIV e XVII que monges e alquimistas da França produziram tipos de licores como o Benedicte ( à base de ervas) do monastério de Benedictine  e a formulação do Chartreuse, composto por mais de 130 ervas, originária da tentativa de se produzir um elixir da longa vida em 1605 no monastério de Cartusian.

A bebida é uma herança dos europeus, segundo Vevé Bragança, “Os povos europeus descobriram e desenvolveram a destilação, e essa foi uma maneira que encontraram para tornar o álcool destilado aprazível, aplicando infusões de frutas, secas ou frescas, e adicionando o açúcar”, contou.

Ele conta que a bebida também tem algumas funcionalidades e por isso mesmo foi inventada. “Ele tem duas propriedades. O álcool destilado aquece o corpo e o açúcar fornece energia ao corpo. Então existe uma funcionalidade no uso do licor”, diz. .

Irmã Lourdes é a responsável pelo licor durante todo o ano
Irmã Lourdes é a responsável pelo licor durante todo o ano |  Foto: Olga Leiria / Ag. A Tarde
  

No Convento de Santa Clara do Desterro o custo de cada licor não varia, pois todas as frutas e até a rosa têm o mesmo valor. O litro custa R$60; tem a garrafa de 750ml que é RS55; a garrafa de meio litro, que é RS35; e a garrafa de 200ml, que sai por RS18.

E quem quiser adquirir os deliciosos sabores dos licores do convento, o mais antigo monastério do país, fundado no século XVII pelas irmãs Clarissas, pode se dirigir ao local, no bairro de Nazaré. Mas quem quer aprender a fazer seu licor para o próximo São João, a irmã Lourdinha preparou uma receitinha de um litro. É só fazer e beber com moderação.

Clássico, o licor de jenipapo é um dos mais procurados
Clássico, o licor de jenipapo é um dos mais procurados |  Foto: Divulgação Internet

Ingredientes:

(para 1 litro de licor)

3 jenipapos

1kg de açúcar

3 copos ( de 300ml cada ) de álcool (destilado)

1l de água

Modo de fazer:

Coloque os jenipapos no álcool e deixe em infusão por alguns dias. Faça uma calda com um litro de água e o açúcar e cozinhe o jenipapo que estava em infusão por cerca de 45 minutos. Misture tudo para formar o licor. Filtre o licor e sirva. Mas lembre-se: quanto mais velho estiver na garrafa, melhor fica.

NOTAS COM HISTORIAS & SABORES

Restaurante Carvão tem opções para o Dia dos Namorados
Restaurante Carvão tem opções para o Dia dos Namorados |  Foto: Divulgação

 Carvão apresenta Menu de Dia dos Namorados em 5 etapas com taça de espumante

O Dia dos Namorados do Restaurante Carvão será de brindes. O espaço preparou um menu especial em 5 etapas, com uma taça do espumante Lírica Crua de boas-vindas. O restaurante servirá o cardápio no jantar de sábado e domingo, 11 e 12 de junho, com esquema especial de reserva: das 18h às 21h e das 21h15 à 0h. A taça de espumantes acompanhará um Sablée de queijo de cabra com tomate cereja assado, antes das duas opções de Amuse-bouche (aperitivo de boas-vindas), o Caldo de abóbora com crocante de semente e queijo azul ou o Caldo de palmito de pupunha, dentre outras delícias. O investimento é de R$ 269 por pessoa. As reservas podem feitas no (71) 99632-8682. O restaurante fica na Rua Professor Sabino Silva, nº 5, Chame-Chame.

Pasta em Casa tem sessões especiais de jantar para os namorados

O Dia dos Namorados tem inspirado os restaurantes em Salvador. O Pasta em Casa elaborou a campanha “Haja Amor”, abrindo o coração e as portas para quatro sessões do jantar inteiramente dedicadas ao Dia dos Namorados. O chef Celso Vieira montou um menu especial que mescla pratos inéditos e clássicos consagrados do Pasta em Casa, como a Coalhada Fresca, Pasta de Berinjela, Patê de Foie ao Whisky com Grissini da Casa, dentre outras opções. As reservas estão abertas para duas sessões no sábado (11) e no domingo (12), das 19h às 21h e das 21h30 às 23h30. O jantar custa R$ 350 para o casal. As reservas podem ser feitas pelo telefone (71) 3334-7232 ou WhatsApp (71) 98370-4852.

Caixa Mediterrânea é sugestão da Casa Chálabi para Dia dos Namorados

A sugestão da Casa Chálabi (@casachalabi) para o Dia dos Namorados é um convite a uma experiência de comida líbano-mediterrânea para ser saboreada onde o casal preferir. Com pratos frescos e prontos para consumo, a Caixa Mediterrânea Namorados traz um menu inspirado na celebração a dois, com itens aromáticos, bem temperados e delicadamente equilibrados, selecionados a quatro mãos pelos chefs Celso Vieira e Lais Taraia, que conduz a cozinha do restaurante. Em tiragem limitada, a Caixa pode ser encomendada até o dia 10 de junho, pelo WhatsApp (71) 99904-2244, com opções de delivery ou retirada. Na seleção do menu são muitas as opções: Mix de Nuts (150g), com amêndoa defumada, dentre outras maravilhas.

Outback aposta em novos sabores e lança fondues de cinco queijos e brigadeiros

Os apaixonados poderão se deliciar e matar as saudades de um dos maiores sucessos do restaurante: o Fondue Outback, que para essa edição traz dois sabores: o Novo Fondue Outback 5 queijos (R$ 114,90 no restaurante e R$ 124,90 no delivery) que conta com um mix especial de queijos famosos e o Novo Fondue Outback Brigadeiro (R$ 84,90 no restaurante e R$ 89,90 no delivery). Além do Combo, com os dois sabores juntos, que pode ser encontrado no restaurante e no delivery por R$ 189,90. Os queridinhos da estação são servidos no tradicional pão australiano da rede que ganha mais uma vez o formato de bowl, e trazem deliciosos novos acompanhamentos.

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