Mãe Stella é homenageada na Flipelô e a sua rota gastronômica | A TARDE
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Mãe Stella é homenageada na Flipelô e a sua rota gastronômica

Grande interessada nas coisas de comer, a ialorixá baiana era boa de boca e adorava comida “pesada”

Publicado sábado, 05 de agosto de 2023 às 06:05 h | Atualizado em 05/08/2023, 07:18 | Autor: Isabel Oliveira
Imagem ilustrativa da imagem Mãe Stella é homenageada na Flipelô e a sua rota gastronômica
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Maria Stella de Azevedo Santos, a mãe Stella de Oxóssi, disse certa vez que "comer equivale a viver, a manter, preservar,  iniciar, comunicar, reforçar memórias individuais e coletivas. Comer é uma maneira de se comunicar com o orixá e fortalecer a troca do axé”.  A citação de Mãe Stella está registrada no prefácio da 2ª edição do famoso livro do mestre Raul Lody, ‘Santo Também Come’. 

O dito - e escrito -  revela o grande respeito da ialorixá ao sagrado na relação das comidas dos orixás e da cozinha.  Para quem conheceu na intimidade a grande religiosa do Axé Opô Afonjá sabe que a comida era um dos assuntos de grande interesse da ialorixá baiana.  

Conta a lenda que Stella de Azevedo era, assim, ‘zoiuda’ para o lado das comidas. Quem conta a história é o sobrinho da ialorixá,  Adriano Azevedo, filho de Adriano Azevedo Santos, irmão caçula da religiosa.

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“Quando o assunto era comida, o olho da tia Stella brilhava. Ela gostava muito de comer e comia bastante. Além do mastigar, e mastigava  a quantidade que se diz que tem que ser, conversavam [os irmãos], tomavam vinho,  comiam e repetiam. Eles sempre foram bons de boca,  e tia Stella, então”, entrega Adriano. 

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Não é à toa a ialorixá é a grande homenageada na rota do Amado Sabores - a Cozinha Africana no Brasil, da Flipelô - Festa Literária Internacional do Pelourinho, evento que está em sua 7ª edição e dá destaque a mãe Stella. A Amado Sabores tem a curadoria do afrochefe Jorge Washington, que reuniu 42 restaurantes com foco na comida africana.  Ele aproveita para render homenagens à famosa ialorixá. 

Ela gostava de comida, de comida de verdade, de comida popular, afrobaiana, culinária africana da Bahia Jorge Washington, afrochefe
 

“Mãe Stella era uma mãe de santo de excelência, respeitadíssima no mundo inteiro e muito ligada à literatura, escreveu vários livros  e está presente no nosso fazer cultural. Mãe Stella era uma figura também  ligada a cozinha, ela gostava de comida, de comida de verdade, de comida popular, afrobaiana, culinária  africana da Bahia!, conta Jorge Washington.  

Arte Gabriel Boulhosa e Isabel Oliveira
Arte Gabriel Boulhosa e Isabel Oliveira |  Foto: Felipe Iruatã
  

E emenda:  mãe Stella é muito presente, deixou um legado na literatura e religiosidade, um legado potente. Então, eu acho que por conta disso justamente está sendo homenageada e relembrada”,  diz. 

Adriano chama atenção para o paladar da tia querida para as "comidas de preto", como ele chama. "Quando o assunto era comida de preto, 'comida de feira de São Joaquim', a Tia Stella se ‘lavava’ ", conta rindo.

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“Tia Stella sempre comia comida de preto, comida de feira de São Joaquim era com ela. As comidas que minha mãe fazia, ela fazia essas comidas pesadas que a gente costuma dizer, comida mais gordurosa, ela não fazia cerimônia, ela comia, comia mesmo”, conta. 

Foto de Mãe Stella em mostra a céu aberto nas ruas do Pelourinho
Foto de Mãe Stella em mostra a céu aberto nas ruas do Pelourinho |  Foto: Antonello Veneri/Divulgação
 

O sobrinho revela que Mãe Stella sempre estava atenta à comida da sua mãe, Dona Nivalda de Azevedo  Santos, que cozinha muito bem, e não foram  poucas as vezes em que a cunhada separava a comida da ialorixá sabendo que ela iria querer, principalmente as comidas ditas pesadas. 

 “Às vezes, eu levava [a comida] e acontecia de ela já estar sentada à mesa, pronta para almoçar, mas eu chegava com a comida de minha mãe. Ela perguntava:

-O que é?Eu falava que era sarapatel, é feijoada, é mocotó, é rabada...ave maria, rabada "... ria, relembrando. "E aí ela chamava a menina que trabalhava lá.

- Ô fulana, tire isso aqui que eu não vou comer, não”, e se refestelava com as “comidas de preto”  que o sobrinho levava. 

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Criada na classe média alta no bairro de Nazaré, mãe Stella não resistia nem mesmo aos ossinhos que sobravam. Conta Adriano que não deixava sequer uma pelinha em cima dos ossos da rabada para contar a história.

“E rabada, pirão, ave maria, pirão..... tia Stella se esbaldava, comia e comia, comia o ossinho da rabada mesmo! Com aquela classe dela, pegava assim, com as pontinhas do dedo, e chupava o osso da rabada, deixava o osso limpinho. Eu não sei que técnica era aquela que ela conseguia tirar toda a carne da rabada do boi, que é um negocinho difícil até de se comer, mas ela tinha uma técnica pra comer isso e se esbaldava”, conta Adriano, com detalhes que somente a saudade é capaz de produzir. 

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“Rabada  era uma comida que ela gostava muito, ela adorava o pirão da rabada.E ela comia com vontade, com gosto, sabe? Você via que ela sentia prazer em comer rabada. Minha mãe faz um pirão muito bom e você via ela comer com vontade. Não era só porque estava com fome, ela comia porque gostava de comer”, relembra com detalhes. 

Será que Mãe Stella daria um passeio pela rota Amado Sabores com tanta comida de preto, como diz Adriano Azevedo? É um exercício de imaginação  ver aquele sorriso largo subindo a ladeira do Pelô, alegre, atrás da literatura e do perfume dos pratos atiçando a todos no Centro Histórico. Talvez ela desse uma parada nos inúmeros restaurantes atrás das comidas de preto. No Alaíde do Feijão comeria a tão desejada rabada.  Alaíde, aliás, diz que essas comidas de negro são os pratos que mais saem no restaurante. 

Foto de Mãe Stella em mostra a céu aberto nas ruas do Pelourinho
Foto de Mãe Stella em mostra a céu aberto nas ruas do Pelourinho |  Foto: Antonello Veneri/Divulgação
 

“São pratos do tempo do  povo negro, dos escravos. São considerados como pratos da negritude. Aqui, sai muito feijoada, rabada e, sinceramente, são os pratos mais procurados. Até mesmo quando as pessoas vêm de fora, de outros estados, procuram por esses pratos. Hoje, no restaurante, o que eu mais vendi foi rabada e feijoada. O povo não quer saber de outro tipo de comida no cardápio, a não ser essas daí. É uma comida que fortalece”, revela Jaqueline Conceição, uma das herdeiras e à frente do restaurante Alaíde do Feijão. 

Aproveitando os dotes de Jaqueline, vamos então de rabada em homenagem à Mãe Stella de Oxossi!

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Receita de Rabada

Ingredientes:

2 kg de rabada

4 dentes de alho

2 tomates

2 cebolas

4 folhas de louro

2 colheres de sopa de cominho

2 colheres de corante ou extrato de tomate

2 litros de água

Hortelã grosso ou miúdo a gosto

1/2 copo de óleo

 Modo de preparo:

Em uma panela, refogue a cebola e o alho em 1/2 copo de óleo até ficarem dourados.

Em seguida, adicione a rabada e deixe refogar por 5 minutos.

Acrescente o tempero bem picadinho ou batido no liquidificador.

Coloque as folhas de louro, os 2 litros de água e deixe cozinhar.

Caso prefira, coloque água suficiente para o preparo do pirão. Deixe o preparo no fogo por cerca de 40 minutos ou mais, até que a carne cozinhe. Está pronto!

Acompanhamentos:

Agrião

Pirão

Arroz

Observação: Caso queira, pode servir com pirão, que deve ser preparado no caldo da própria rabada.

NOTA COM HISTÓRIAS & SABORES

Restaurante Guarany apresenta novos menus e passa abrir no almoço, valorizando vista para Baía de Todos-os-Santos

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O Restaurante Guarany, recentemente inaugurado na Praça Castro Alves, em Salvador, acaba de apresentar seu novo menu à la carte e passa a servir Almoço Executivo, às quintas e sextas. Instalado no Cine Glauber Rocha, o restaurante, que resgata a história e os sabores da Bahia com modernidade, passou a funcionar no almoço, oferecendo a possibilidade aos clientes a possibilidade de admirar a bela vista para a Baía de Todos-os-Santos. O Guarany está funcionando das 19h às 23h de quarta a sábado; das 12h às 15h, de quinta a sábado e, aos domingos, das 12h às 16h. As reservas podem ser feitas pelo link no Instagram (@guaranyrestaurante), onde está disponível também o menu completo

Chef Dahoui participa da Cozinha Show do Festival Tempero Bahia que acontece este mês de agosto

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Conhecida nacional e internacionalmente, a empreendedora, restauratrice e chef pernambucana, nascida no Recife, Danielle Dahoui – de origem franco-italiana, que comanda há 27 anos o Bistrô Ruella, na Vila Olímpia, em São Paulo -, é um dos nomes confirmados no line-up da Cozinha Show do Festival Tempero Bahia, que reunirá grandes nomes da gastronomia baiana e do nordeste. Dahoui vai comandar uma aula de gastronomia no dia 26 de agosto, sábado, no Passeio Público de Salvador, durante o primeiro fim de semana gastronômico e cultural do evento. Sob o tema “Sou Bahia, Sou Nordeste”, O TEMPERO BAHIA, que acontece de 24 de agosto a 3 de setembro, tem o patrocínio da Coca-Cola e do Governo do Estado da Bahia.

Convites para jantar beneficente com pintura mediúnica e cardápio de Tereza Paim já podem ser adquiridos na Cidade da Luz

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Já estão abertas as vendas para a próxima edição do Jantar Beneficente da Cidade da Luz que terá cardápio assinado e preparado pela chef Tereza Paim. O evento, que tem como objetivo arrecadar recursos para a manutenção dos projetos socioassistenciais desenvolvidos pela Casa, acontece no sábado, 21 de outubro, a partir das 18 horas, na sede da instituição, bairro de Pituaçu, em Salvador. Durante o jantar, intitulado “À mesa com Tereza Paim”, haverá apresentação de pintura mediúnica do médium José Medrado. O convite custa R$ 100,00. Para mais informações, é só ligar no número  (71) 3363-5538.

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