Vadinho empresta o nome para mariscada na Rota Gastronômica do Pelô
Personagens amadianos pulam dos livros e dão nome aos vários pratos típicos da Bahia no evento literário
Amoral, despudorado, obsceno. Este era o Vadinho da obra literária Dona Flor e seus dois Maridos, do autor Jorge Amado. No livro, que conta a história de um triângulo amoroso passado em Salvador, Vadinho achou de morrer em pleno Carnaval, enquanto brincava na folia vestido de baiana com uma generosa mandioca amarrada na cintura, por baixo da saia, fingindo ser o órgão sexual masculino.
“Ele fica mostrando essa mandioca para os outros foliões como se fosse um enorme falo caindo pelas pernas, aterrorizando as pessoas no Carnaval, tocando o terror, como se fosse uma das Muquiranas”, conta, em meio ao riso, Edvard Passos, encenador e dramaturgo, especialista no universo amadiano. Ele compara o personagem com os integrantes de um dos blocos mais lascivos no Carnaval baiano, alvo de muitas críticas durante a folia momesca pelos excessos em meio às brincadeiras.
Vadinho é um dos emblemáticos personagens da obra amadiana que integram a Rota Gastronômica Amado Sabores, da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), realizada até este domingo. Os personagens inspiraram os organizadores do evento, idealizando a rota gastronômica. Assim, o perfil dessas figuras pulou do universo criativo de Amado para a mesa dos que amam a comida baiana em uma homenagem aos 110 anos de Jorge.
O evento contempla várias personagens, como Dona Flor, Tereza Batista, Quincas Berro d´Água, Gabriela, Nacib, Tieta, Perpétua, dentre outros que dão vida aos saborosos quitutes inspirados nos livros do amado escritor baiano.
Quem quiser experimentar a comida de Vadinho no Roteiro Gastronômico vai se deliciar com uma saborosa mariscada. “Uma mariscada, que tem uma cara assim, lasciva, de Vadinho”, conta Edvard, que traça o perfil do personagem.
“Um homem que vive no limite, que vive do jogo, capaz de ludibriar muito bem, hípermalandro, um homem branco e que foi capaz de seduzir Dona Flor com uma aparência de ser um homem sério, com um futuro garantido. Dona flor, uma mulher, como se diria, honesta, recatada, cai nas garras de Vadinho, que era um homem já de muitas mulheres, muito rodado, famoso pela galinhagem, vamos dizer assim”, descreve.
Mas Dona Flor é também uma personagem marcante. Prendada, tem lá os seus quitutes e na Rota Gastronômica ganhou uma ambivalência, como frisa Edvard.
“Uma Dona Flor que já tem uma ambivalência no prato. Tem um arroz com siri e camarão picante e medalhão. Ou seja, eles colocam duas carnes no mesmo prato. Está aí a ambivalência, os dois maridos de Dona Flor, uma das protagonistas mais famosas e uma das personagens que mais surpreenderam Jorge Amado quando estava escrevendo o romance”, explica Edvard.
E completa. “Jorge Amado, quando fala do personagem e da importância dos personagens na obra dele, o primeiro exemplo que dá é Dona Flor. Ele diz assim: ‘Os personagens escolhem o próprio destino, não sou eu. Uma vez que eles se põem de pé, eles que constroem a história, os personagens que constroem o romance’. Então, ele disse que a escolha de Dona Flor em ficar com os dois maridos é uma escolha da personagem, e não dele”, revela.
E assim deve ter sido com Vadinho, que escolheu, depois de morto, ser uma figura provocadora e desestabilizadora de Dona Flor. Já casada com Teodoro, seu segundo marido, e diante das aparições do saudoso Vadinho, fica confusa e até duvida da sua honestidade.
“Ela fica realmente louca, meio numa bipolaridade com a presença desse homem em espirito, que está ali visível e ela está sempre sendo seduzida por ele”, conta Edvard, que encomendou para o cantor e compositor Gerônimo Santana uma música para uma cena do musical itinerante, de rua, que faz sobre Jorge Amado. “Uma música maravilhosa que tem esta bipolaridade rítmica”, diz.
Corre, corre, Flor/ que lá vem Vadinho/ foge desse amor/ que fode de mansinho/
Corre, corre Flor/ Vadinho é demais/ corre, corre, Flor/ na frente ou por trás.
(Música de Gerônimo/ Voz de Edvard Passos)
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Dona Flor e seus dois Maridos e o universo de Vadinho são velhos conhecidos de Alescandro Pereira de Oliveira, proprietário do restaurante Oxente Bistrô, no Pelourinho. “Quando soube que iria elaborar o prato de Vadinho, fiquei tranquilo porque eu conheço a história dele, li o livro, já assisti ao filme duas vezes. Vadinho era bon-vivant, malandro, por isso busquei trazer para o prato um pouquinho de cachaça, trouxe o polvo, os frutos do mar, ingredientes que condizem com o personagem”, conta.
E emenda: “Esse prato [mariscada] se chama Vadinho porque dialoga com a natureza desse personagem. Tem a boemia da cachaça em seu preparo, os tesouros encontrados no mar. A sensualidade da mistura desses ingredientes produz um perfume único e lascivo que convida ao banquete, tudo isso casado com a farofa, o arroz, o feijão-fradinho, indicando a união porque Vadinho, apesar de tudo, nunca estava completo e precisava de algo mais”.
É com as bênçãos de Jorge Amado, Vadinho e Dona Flor, que apresentamos um prato em homenagem a Jorge Amado e seus maravilhosos personagens, que até hoje povoam a nossa imaginação.
Vadinho/ Mariscada
• 1 Posta de peixe pescada amarela
• 160 g de camarão fresco
• 80 g de siri catado
• 80 g de sururu
• 80 g de polvo
• 80 g de marisco
• 1 maço de cheiro verde (coentro)
• 4 dentes de alho
• 1 pimentão grande
• 2 tomates
• Sal a gosto
• 2 cebolas
• suco de 1 limão
• 5 colheres sopa de azeite de dendê
• 100 ml de leite de Coco
• 50 ml de cachaça
MODO DE FAZER
• Em vasilhas separadas, tempere os mariscos com sal, alho, pimenta do reino e o limão. Deixe no tempero por 10 minutos.
• Em uma panela arrume os mariscos separadamente cobrindo-os com leite de coco, tomate, cebola, pimentão, coentro e azeite de dendê.
• Leve ao fogo por 10 minutos a 15 minutos até levantar fervura adicione a salsa e a cachaça. Deixe ferver por mais 2 a 3 minutos e pode servir.
• Sirva com arroz branco, feijão fradinho, farofa de azeite e pirão com o caldo da própria mariscada.
NOTAS COM HISTÓRIAS & SABORES
FESTIVAL GASTRONÔMICO MOVIMENTA A CIDADE DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS
Vai até o dia 20 de novembro a 5ª edição do Festival Gastronômico Sabores de SAJ, em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano, que traz como tema “Histórias de Sucesso da nossa Cozinha”. Ao todo, são 38 pratos distribuídos nas categorias de Prato Principal, Comida de Boteco, Lanches e Doces e Sobremesas. O menu completo do festival pode ser visualizado no Instagram oficial @festivalsaboresdesaj. Até 20 de novembro, o público poderá degustar desde iguarias que envolvem carnes vermelhas, peixes e camarão, até deliciosos quitutes e sobremesas, salgados e sanduíches.
VALE
DO SÃO FRANCISCO RECEBE RECONHECIMENTO DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA PARA VINHOS DA
REGIÃO
Conhecido
pelos vinhos tropicais, o Vale do São Francisco acaba de receber o registro de
Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência (IP) para
vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. O
reconhecimento oficial da Indicação é resultado de um trabalho articulado entre
produtores, universidades e instituições públicas de pesquisa. A área de
produção dos vinhos compreende cinco municípios localizados em dois estados do
Nordeste: Lagoa Grande, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista, em Pernambuco; e
Casa Nova e Curaçá, na Bahia.
JASMINE SEGUE COM SUCESSO DE NOVAS MARCAS DE WRAP VEGANO
A Jasmine Alimentos está com com uma nova linha de wraps sem glúten no mercado. Além do sabor Tradicional, a novidade conta com os sabores de Chia e Linhaça, e Espinafre. As embalagens a vácuo possuem peso de 240g, contendo 6 embalagens individuais de 40g cada. Os novos wraps são veganos, possuem baixo teor de sódio . são livres de glúteo e têm vegetais, cereais e grãos em sua formulação, de acordo com o rótulo. Além disso, os produtos também aderiram ao conceito clean label que facilita a compreensão dos consumidores com informações disponibilizadas nas embalagens.