Cacau de olho na Fenagro, em busca de um tempo novo
Confira coluna de Levi Vasconcelos deste domingo
O cacau, o fruto de ouro, que teve o seu tempo áureo na época dos coronéis eternizado nas obras de Jorge Amado, caiu em desgraça infernal com a vassoura de bruxa e hoje, ainda pagando as sequelas, vê o mercado internacional se abrir em sorrisos, mas está em grande parte jogado num canto.
É atento a este cenário que Diego Alvarez e Juvenal Maynard, dois experts em cacau, ligaram as antenas. Diego, formado em sistemas de informação no Vale do Silício, EUA, com especialização em gestão de projetos, e Juvenal, administrador, ex-superintendente da Ceplac na Bahia e Espírito Santo, depois nacional, fundaram a AgroVeritas, para apostar no fruto, que julgam ser promissor.
Lado mau –Diz Diego que Gana e Costa do Marfim, além de sofrerem com as alterações climáticas, têm mas dois problemas.
1 – Lá, os governos compram a produção, na maioria de pequenos e médios produtores com grande deságio. Ou seja, compram barato e vendem a preço internacional. Isso atrofia a renovação.
2 – A lavoura lá está contaminada por uma praga chamada broto inchado, a planta vai inchando, inchando até morrer. Para se livrar disso, se houver empenho (que não há pela própria estrutura que não estimula investimentos), é no mínimo 10 anos para se livrar.
3 – O Equador, outro grande produtor, tem um problema, o solo contaminado por cádmio, metal altamente tóxico. Se livrar disso é coisa também para uma década, com empenho.
4 – O mercado internacional só cresce, com a produção de chocolate só subindo. E o Brasil, com Bahia e Pará liderando a produção nacional, tem as condições climáticas favoráveis.
Desafios –Diego e Juvenal dizem que a Bahia tem duas vertentes, os novos plantios, no oeste baiano, com irrigação, plantio já planejado para adubação, pulverização, poda e colheita já mecanizados, e na região do cacau tradicional, a configuração é outra. Fala Diego:
– Tínhamos mais de 400 mil hectares plantados, mas quase a metade acabou com o efeito da vassoura de bruxa. E são áreas muito acidentadas, com a cabruca, a preservação da mata.
Outro problema: a vassoura de bruxa aniquilou a cacauicultura como grande negócio, o dono abandonou e os empregados evaporaram. Hoje, há um problema generalizado em todos os cantos.
– É por isso que estamos aguardando a Fenagro com muita expectativa. Como recuperar a lavoura sem mão de obra? Queremos conversar com a indústria das máquinas. A pretensão é botar a tecnologia a serviço dessas necessidades, máquina para podar, adubar, pulverizar e colher, por que não?
Ele afirma que a conversa não vai sair do nada. A Fazenda Contendas, em Ituberá, uma dessas que estava largada, já importou do sul um trator com molejo para trabalhar em terrenos acidentados.
– Existe máquina para trabalhar em terreno acidentado? Não, mas pode existir. É nisso que vamos atinar a indústria.
E tem condições de irrigar cacau aqui como no oeste? Quem responde é Juvenal.
– Não. Alguns até irrigam, mas a água é pouca. Mas mesmo assim o futuro é promissor.
* Colaborou: Marcos Vinicius.
Política com Vatapá
Pragmatismo
Walter Miranda Lomanto, o Vavá Lomanto, irmão do ex-governador Lomanto Junior, morreu em 1980 aos 53 anos, mas até hoje frequenta as rodas de conversa em Jequié e região.
Vereador em Boa Nova, onde era pecuarista, foi prefeito no início dos anos 60 e deputado estadual três vezes, sempre com fama de atrapalhado. Contam que lá um dia uma filha perguntou:
– Papai, o que é credor?
– Credor, minha filha, é aquele que acredita que um dia vai receber o que devemos a ele.
Outra. Lá um dia chegou em Boa Nova, onde tinha sido prefeito, fazendo campanha para deputado. Numa casa, estendeu a mão a um rapaz, que recusou:
– O senhor está lembrado de mim?
– Não, meu filho.
– Pois é, quem apanha guarda, quem bate esquece. Eu sou aquele que logo após sua eleição de prefeito fui lhe pedir um emprego e o senhor mandou que eu socasse o meu voto naquele lugar!
E Vavá:
– Oh, meu filho. Então tire e limpe bem limpinho que eu vou precisar dele de novo...