De Lajedinho, sai bom exemplo para louvar o Dia da Democracia
Confira a coluna de Levi Vasconcelos deste domingo
A ONU celebra hoje o Dia Internacional da Democracia e da Bahia brota um exemplo para louvar a data. Pense na cena: um jovem de 26 anos, funcionário público da Prefeitura, filho de vaqueiro e que estudou até a 8ª série é convidado para se candidatar a prefeito e impõe uma condição: só aceita se for candidato único. Espanto entre os convidantes: mas como, se queremos derrotar eles?
— O caso é que não tenho dinheiro e nem quero dever. Se quiserem assim tudo bem, se não quiserem, tudo bem também.
O caso aí é real, o personagem em apreço é Antonio Mário Lima Silva, o Antonio Mário (PSD), ou Tonho, e aconteceu em Lajedinho, na Chapada, pequeno município com pouco mais de 3.600 habitantes, mas com vasta extensão territorial de mais de 850 mil quilômetros quadrados. Após muito rebu, aceitaram, ele foi candidato único.
Teve mais. A Câmara tem nove vagas e ele exigiu também que só tivesse nove candidatos a vereador. A muito custo convencido a aceitar mais candidatos porque precisava ter suplentes. Aceitou ter 10 candidatos, um suplente, o Sr. André Marques (já falecido), que acabou tendo um voto, o da mulher, porque nem o próprio votou nele mesmo, conforme confessava aos amigos.
Recorde — Nas eleições deste ano, aos 62 anos, ele tenta protagonizar um novo feito. É prefeito pela sexta vez e vai tentar o sétimo mandato, um recorde no país. Com o detalhe que em três das seis vezes em que disputou foi candidato único.
Da hora em que concluiu o primeiro mandato até hoje, Antonio Mário ganhou todas, fez todos os sucessores. E como Jesus Cristo teve o seu Judas, não seria ela quem iria escapar. O adversário deste ano é Marcos Mota (Avante), a quem ele apoiou e elegeu em 2016.
Mas Tonho se diz tranquilo, apesar de estar sendo bombardeado de denúncias, embora tenha todas as contas aprovadas pelo TCM nos seis anos de mandato, paga em dia a funcionários e fornecedores e a dívida com o INSS é de apenas R$ 500 mil, algo quitável numa só canetada, quando a quase totalidade dos demais municípios estão atolados.
Cuidar de gente — Desde sempre Tonho é amigo e eleitor de Otto Alencar, hoje senador, que é do vizinho município de Ruy Barbosa. E não faz segredo.
— Quando perguntam qual é o meu partido, eu digo: Otto.
E para o senhor, qual é o segredo do sucesso?
— Cuidar de gente.
Ele conta: lá saúde é tudo, Casa de Apoio em Salvador, convênios com clínicas para os exames andarem rápido.
E quando morre alguém, é velado no Memorial das vítimas da enxurrada que em 2003 matou 17 pessoas, com o detalhe: em todos os velórios ele está sempre pegando na saída do caixão.
— É uma questão de respeito, na vida e na morte.
Colaborou: Marcos Vinicius
POLÍTICA COM VATAPÁ
O sapato de Ivo
Candidato a vereador em Salvador ainda quando estudante de Direito, Ivo Rangel, fundador do Acrópole do Karatê (falecido em 2014 aos 70 anos), tinha como um dos principais redutos o récem-criado bairro de Nova Sussuarana. Lá, concentrava esforços, onde, além de atividades sociais e desportivas, elaborava os documentos necessários para legitimar as organizações que representassem a comunidade. Para o lider na área, conseguiu até um emprego público.
O liderado construiu casa própria, elegeu-se presidente de associação de moradores, enfim melhorou de vida. Véspera da eleição, foi visitá-lo para ultimar a estratégia do dia. No fim, perguntou ao "amigo":
— E aí, tudo certo agora?"
Resposta:
— Prá votar no senhor só me falta o sapato.
Na brincadeira, tirou o sapato que calçava e disse:
— Sapato? Só tenho esse.
O liderado riu alegre e rapidamente enfiou os pés nos sapatos e ele teve que ir para casa só com as meias. Ivo contava história e dizia: ‘Em eleição até a brincadeira tem que ser calculada’.