Guinness Book, um novo alvo para Cosme de Farias
Major Cosme de Farias, com um coração maior do que ele, quando via uma criança desamparada, adotava

Já velho e famoso, o Major Cosme de Farias, com um coração maior do que ele, quando via uma criança desamparada adotava. Não podia criar, chamava alguma pessoa conhecida e pedia:
— Pegue, é minha neta. Crie e me entregue doutora.
Quem conta essa história é Creuza Carqueja, a última das netas (três, no total), entregue por ele a D. Caetana Alves Miranda, cumpridora tão caprichosa do pedido que tomou gosto, teve quatro filhos e adotou outros quatro.
Creuza chegou a Salvador ainda criança, como retirante, junto com a família, que pediu ajuda a Cosme. Ele conseguiu internato para os irmãos dela e a encaminhou para D. Caetana. E foi devolvida a ele, formada.
Novo projeto — Creuza é guia de turismo internacional, fala fluentemente o francês, o espanhol, o italiano e o português. Hoje com 60 anos, ela diz ter muita honra do avó e conta com o maior prazer e orgulho aos quatro filhos e pela vida afora na mesma pegada de Caetana, ressalte-se, ‘um do corpo e três do coração’.
Ela diz estar trabalhando para outro projeto auspicioso:
— Vou colocar meu avô no Guinness Book (o livro dos recordes). Com certeza absoluta ele é o recordista mundial de habeas corpus. Eu já juntei mais de três mil, mas ele trabalhou em mais de 30 mil processos.
Humanista — O Major Cosme de Farias já é nome de bairro em Salvador (onde ele morou), também de escola e do plenário da Câmara de Vereadores, onde ele atuou. O Guinness, ressalva Creuza, é apenas mais um adendo a uma obra social tão abrangente.
Ano passado, quando a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) lembrou solenemente os 50 anos da morte do Major, a jornalista Mônica Celestino, também doutora em história e autora da primeira biografia da vida de Cosme de Farias, disse que ele era “um humanista por natureza e relembrá-lo, trazer de volta os seus princípios e ideias, é sempre oportuno, muito também para garantir os direitos humanos e sociais no Brasil”.
A OAB também lembrou o cinquentenário do rábula Cosme de Farias, que recebeu na data o título de advogado. E é também de lá que sai a ideia do recorde. Como diz Creuza, “o Guiness que nos aguarde”. Se emplacar, ele será o primeiro baiano no livro dos recordes.
Um habeas corpus para Dadá
Dentre os feitos de Cosme de Farias, um em particular chamou a atenção: ele foi o defensor de Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, viúva do cangaceiro Corisco, do bando de Lampião, o rei do cangaço.
O caso ganhou intensa repercussão na mídia da época. Dadá se incorporou ao bando de Lampião aos 13 anos de idade, tornou-se a única mulher cangaceira.
Cosme, que era rábula, pessoa que advogava sem ser formada em direito, acabou libertando Dadá.
Aliás, entre os habeas corpus que ele conseguiu, esse foi o mais famoso.
POLÍTICA COM VATAPÁ
Só retórica
Conta Sebastião Nery que Cosme de Farias, ainda jovem, mas já bastante conhecido, foi escalado para ser orador oficial do sepultamento, no Campo Santo, do ex-governador Luiz Viana, pai do também ex-governador Luiz Viana Filho, avô do ex-deputado federal Luiz Viana Neto.
A inteligência tinha o tempero de uma bela fluência verbal, o que fizera dele, o Major Cosme de Farias, desde jovem um rábula, o que fazia o papel de advogado sem ser (na época podia), muito respeitado.
E, no Campo Santo, o Major soltou o verbo:
— É tamanha a nossa orfandade que às vezes dá vontade de pedir a Deus para também irmos juntos!
Atrás dele, o professor Herculano, famoso no Colégio da Bahia, soltou o espirro daqueles de estrondar quarteirão, o Major levou um susto, tropeçou no barro, quase cai dentro da cova. Parou, olhou o céu com ar sério:
— Oh, Deus amado. Era só uma figura de retórica.
Cosme de Farias tinha 45 anos então. Viveu mais 52.