Mataripe, a filha bonita do petróleo ainda muito cobiçada
Confira a coluna de Levi Vasconcelos
Falar sobre petróleo e suas mil e uma utilidades era conversa de pouquíssimos. Mas o papo em torno do assunto só cresceu e em 1939, quando foi confirmada a descoberta do petróleo no Lobato, que virou assunto nacional. Foi a primeira jazida do Brasil.
No rastro da boa nova começou-se a discutir o refino. A Refinaria de Mataripe, em São Francisco do Conde, em 17 de setembro de 1950 nasceu, antes mesmo da Petrobras, que só foi criada em 1953. Até hoje ela continua amada e disputada, agora entre a Petrobras e o grupo árabe Mubadala, que a comprou em 2021, no governo Bolsonaro.
A refinaria nasceu Mataripe, virou Landulpho Alves e com os árabes Acelen. A Petrobras quer comprar de volta, o Mubadala aceita. O entrave: preço. Os árabes pagaram US$ 1,7 bilhão e agora pedem US$ 4,1 bilhões. E é aí que o tiroteio no entorno da causa se estabelece.
duas versões —A versão das entidades ligadas aos petroleiros, como a FUP, que brigam pela volta do controle da Petrobras, é que os árabes deixaram a refinaria sucatear e agora estão querendo ganhar. Nas planilhas apresentadas pela Acelen, das rodadas de negociações que iniciaram lá desde os tempos de Jean Paul Prates na Petrobras, é o inverso, a refinaria foi melhorada e produz mais.
A Acelen exibe dados dizendo que investiu R$ 2 bilhões (de reais, não de dólares) e promoveu uma série de outros investimentos que resultaram no processamento de 240 mil barris de petróleo por dia (quando pegou a refinaria processava 200 mil).
E que teria aumentado a produção de gasolina em 18%, de querosene de aviação em 33%, de GLP em 5%, além de ter criado cinco novos produtos, não tão significativos no volume, além de reduzir o consumo de energia em 12%, uma economia do tamanho do consumo de Roraima, e a água em 17%, o suficiente para uma cidade de 68 mil habitantes.
Biorefinaria —É o conjunto das melhoria que sobe o preço, segundo as justificativas da Acelen nas negociações. Mas se está tão bem, por que aceita vender?
Dois motivos apontados:
1 — A Petrobras detém o monopólio da exploração de petróleo, vende mais barato para ela. E a Acelen não tem como competir, porque o preço é o do mercado internacional.
2 — Ela prefere focar noutro projeto, o da produção de biocombustíveis numa área de 180 mil hectares entre Bahia e Minas, investimento de US$ 3 bilhões, que inclui a construção de uma biorefinaria em Mataripe, vizinha da atual, com a pretensão de produzir 1 bilhão de litros, algo que vai gerar em torno de 90 mil empregos.
E seja com Petrobras ou Acelen, por que São Francisco do Conde, a sede da refinaria, perdeu algo em torno de R$ 30 milhões de receita?
Pelo que se diz o problema não é refinaria e sim as mudanças na distribuição do ICMS. Mas aí é outro papo.
Colaborou: Marcos Vinicius