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Nos jogos de azar, caso do Brasil não é má sorte. É hipocrisia mesmo

Lenga-lenga para legalização se arrasta desde 1991

Publicado domingo, 20 de novembro de 2022 às 06:00 h | Autor: Levi Vasconcelos
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E eis que já está no Senado, aprovado esta semana pela Câmara, o projeto 442/91, que legaliza o jogo do bicho e libera os cassinos no Brasil. Até parece notícia velha, não? Velhíssima, a lenga-lenga envolvendo tal projeto tem simplesmente 31 anos: em 1991, o então deputado por Santa Catarina Renato Viana  o apresentou..

É aí que se configura um cenário em que a religião patrocina uma grande hipocrisia nacional. O jogo do bicho foi proibido por Getúlio Vargas em 1941, e os cassinos, que vieram com o Império, na República, depois liberados até 1946, quando o presidente Eurico Dutra ouviu os apelos da primeira dama, Carmela, católica fervorosa, e vetou. 

Daí é que, no Brasil, o governo tem as loterias da Caixa, a venda de jogos corre solta, mas no Congresso a oposição religiosa está firme, embora agora os patronos sejam os evangélicos, e não mais os católicos. 

Mudanças —A última vez que o projeto caiu foi em 2018, derrubado por Magno Malta, então senador pelo Espírito Santo, agora reeleito, baiano de Macarani.

Será que agora vai? A pergunta aí é para o senador Otto Alencar (PSD), que está lá no olho do furacão:

— Sou a favor, desde que a arrecadação de impostos vá toda para programas sociais. 

Ele ressalva que é preciso fazer alguns ajustes. Do jeito que está fica parecendo que se cria uma lei para beneficiar os grandes grupos dos cassinos. — O problema é que a gente muda cá e volta para a Câmara e fica como eles querem.

Se agora a coisa vai ou a novela segue? Nem Otto sabe. 

Segundo Adolfo, nada se tratou da vaga no TCM 

Adolfo Menezes (PSD), presidente da Assembleia, diz que ainda não fez qualquer tratativa sobre a ocupação da vaga de Raimundo Moreira no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e sequer ainda fixou agenda para isso, mas o número de pretendentes só faz crescer.

Além do deputado Fabrício Falcão (PCdoB), que é pré-candidato desde a vez passada, tem também a deputada Ivana Bastos (PSD), a mais votada em outubro, Alex Lima (PSB), que não disputou a reeleição, e também Marcelo Nilo (Republicanos), que presidiu a Casa por 10 anos. Ele apoiou Neto e está na oposição. Na Alba, a bancada governista hoje é 33 a 28, mas Marcelo diz que quer vem quem é amigo ou não. 

Marquinhos Viana diz que já avisou: quer a 1ª vice na Alba 

E já que a candidatura de Adolfo Menezes (PSD), presidente da Assembleia, à reeleição é favas contadas, o deputado Marquinhos Viana (PV) também não faz segredo de uma pretensão dele:

— Já avisei a Adolfo, a Rui Costa e a Jerônimo: eu quero ser candidato à vice-presidência da Assembleia. E não tem essa de 2ª ou 3ª vice. Eu quero é a 1ª. 

Marquinhos, que já está no terceiro mandato, é de Barra da Estiva, onde foi vereador três vezes, elegeu-se em 2018 pelo PSB e agora integra a federação PT, PV e PCdoB. Como um dos quatro eleitos do PV, tem sido alvo de brincadeiras na Alba por conta da pretensão.

Dizem que em 2018 ele teve que engolir um sapão, a candidatura de Nelson Leal (PP), arquiadversário no sudeste baiano, tão forte que mal se falam. A piada: agora o sapo é ele.

A sorte que bate na porta 

Turíbio Manso, o Tóri, vendedor de loterias tipo de mão em mão no Imbuí, lá pelos anos 2000. dizia que a freguesia dele tinha uma grande vantagem, nem precisa procurar a sorte, ela bate na porta.

E lá um dia perguntaram-lhe: e ela já entrou em alguma porta? Resposta: “Não. Mas não feche a porta. Aí é que ela não entra mesmo”.

Ele não vendia jogo de bicho, mas tinha amigos no ramo. E ajudava: “A sorte é cega”.  

POLÍTICA COM VATAPÁ 

Máquina governista

Essa quem conta é Sebasttião Nery. 15 de março de 1979, último dia do governo do general Ernesto Geisel, penúltimo presidente da ditadura militar instalada em 1964.

O “Abertura”, programa de muito sucesso na TV Tupi, a grande audiência da época. Tarcísio de Holanda, o jornalista que comandava o espetáculo, foi para a rampa do Palácio do Planalto com o senador mineiro Tancredo Neves (MDB), microfone em punho, quando Geisel botou a cara:

— Senador, o que o senhor acha daquele homem?

— Foi um autoritário.

— E de seu governo?

— Foi um fracasso administrativo.

Geisel já estava bem pertinho, quase junto:

— O país, o povo brasileiro, terá saudade dele?

A câmera enguiçou, o cinegrafista tentou, tentou, não conseguiu, Tarcísio desolado olhou para Tancredo:

— Lamento, senador. A entrevista está perdida...

E Tancredo:

— Eu nunca vi uma máquina tão governista como essa. É biônica.

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