Número de veículos só cresce. E vira sufoco
Confira a coluna de Levi Vasconcelos deste domingo
Luan Moreno, morador do Imbuí, esbravejava após deixar de lado as atividades como Uber para curtir o feriadão com a família na ilha.
— Perdi parte do meu feriadão na fila por conta dessa desgraça desse ferry!
Um cidadão ao lado entrou na conversa:
— A sua indignação está correta, mas o alvo nem tanto. O ferry tem lá os seus pecados, é o mesmo de sempre e a cada dia a frota de veículos cresce.
Alcides Spíndola, caminhoneiro, morador de Valença que quase sempre está nas rodovias entre São Paulo, Rio e Bahia, corroborou:
— É isso mesmo. Antes eu fazia de Nova Iguaçu, no Rio, a Salvador em um dia e meio. Passou para dois dias e agora só em dois dias e meio. Em breve só em uma semana.
Frota crescente —E não é que eles estão certos? Segundo o IBGE, a frota de veículos na Bahia (todos) era de 3.158.326 em 2013, dez anos atrás. Em 2022 era de 4.887.673, quase 36% a mais. Só nos últimos 18 meses, segundo o Detran, 307.526. Está quase nos 5 milhões.
Como a população baiana é de 14.136.417, dá mais de um veículo para cada 3 habitantes. Com dois detalhes que o diretor do Detran da Bahia, o advogado Rodrigo Pimentel cita, tem mais carro do que motoristas habilitados.
— Temos apenas três milhões de pessoas habilitadas a dirigir. Claro que aí tem os veículos que são PJ. Mas no Espírito Santo, por exemplo, é metade, metade.
Sinistros —Diz Rodrigo que a solução para cidades como Salvador, é o transporte público. Cadê?
Se a frota só cresce, a infraestrutura viária é a mesma de sempre, o número de acidentes também. Mário Conceição, presidente da Fenasdetran, a Federação Nacional de Detrans, diz que o número de acidentes é sempre crescente. Hoje ocorre de mil a 1.100 sinistros por dia. De 550 a 600 vítimas ficam com sequelas, algumas irreversíveis. Mas do número de vítimas fatais não há dados.
— Desde 2007, quando Lula mudou o DPVAT das seguradoras para a Caixa, não há contabilidade para isso. Antes, pelo número de vítimas que as seguradoras atendiam, até podia. É lamentável, mas é assim.
Ele organiza para novembro, em Salvador, o 12º Congresso Brasileiro Trânsito & Vida.
POLÍTICA COM VATAPÁ
Meio lá meio cá
Nascido e criado em Ipirá, Henrique Lemos Santos, ou simplesmente Henrique Lemos, advogado (falecido em 2018 aos 93 anos), foi deputado estadual, federal, ajudou Ulysses Guimarães a fundar o MDB, sempre afinado com agitos, dizia amar a frase do médico psiquiatra argentino José Inginieros: “Mocidade sem rebeldia é velhice precoce”.
Conta Sebastião Nery que lá um dia ainda estudante ele foi tirar a carteira de motorista. Posição do Detran: “Indeferido. O proprietário do automóvel é fichado como estudante comunista”.
Procurou o secretário de Segurança, Lafaiete Coutinho, que achou graça, e passou o problema para o governador Antonio Balbino: “Ao senhor governador para decidir se o automóvel é de centro, de direita ou de esquerda”.
Balbino imediatamente deu o despacho:
“Conceda-se. O automóvel pode ser comunista, mas a gasolina com certeza é americana”.
Dizem que Henrique a vida inteira preferiu dirigir pela pista do centro.