Palavra de Cristovão, a axé music vem de longas datas
Confira a coluna de Levi Vasconcelos

“Nega do cabelo duro/ Que não gosta de pentear/ Quando passa na Baixa do Tubo/ O negão começa a gritar/ Pega ela aí, pega ela aí/ Pra quê? Pra passar batom/ Que cor? De violeta/ Na boca e na bochecha/ Pega ela aí, pega ela aí/ Pra quê?/ Pra passar batom/ Que cor?/ De cor azul/ Na boca e na porta do céu”.
Aí é parte da letra da música Fricote, de Luiz Caldas, cantada e recantada nos quatro cantos do Brasil, segundo o radialista Cristovão Rodrigues, 78 anos, há mais de 60 labutando no rádio e na televisão, sempre conectado com o Carnaval.
– A axé music sempre existiu. Vinha no meio da lambança musical que é o Carnaval. A música Fricote estourou em 1985 e foi eleita como o divisor de águas, marca o início da era da axé music, por isso agora se celebra os 40 anos.
Rei do Baião –Em 1989, Cristovão tornou-se coordenador do Carnaval de Salvador e conta que a folia baiana sempre foi uma mistura plena.
Lembra que nos seus tempos de coordenador baixou uma norma: trio elétrico na rua só depois de uma vistoria ampla, geral e irrestrita. E logo a seguir veio um aviso: ‘Tem um trio desfilando na Rua Chile que não passou pela vistoria”.
– Prenda!
Um tempinho, a informação adicional: o trio em apreço era de ninguém menos que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que chegou sem aviso prévio, como era naqueles tempos, e caiu na folia.
– Ih!... Aí complicou.
Como deixar Gonzagão passar se o trio de Ricardo Chaves já havia sido barrado? Solução: ao invés do trio ir para a vistoria, os vistoriadores foram ao trio.
– O papo com Gonzagão foi agradável. Arranjamos um doce jeito de cumprir a lei.
Barra-Ondina –Ainda sobre os primórdios dos novos tempos, Cristovão lembra que também em 1989, início da noite, a folia rolando no Campo Grande, resolveu ir à Barra degustar um baitakão.
Surpreendeu-se com a grande quantidade de pessoas na área, que nem iluminação carnavalesca tinha. E lá estando veio o bloco dos pobres do lugar puxado pelo mini-trio Orlandinho, Dodô e Oscar.
– Foi aí que decidimos, em 1990 vai ter que ter alguma coisa aqui. Nasceu o circuito Barra-Ondina.
Hoje, Cristovão diz que tem os marcos temporais, mas a folia é a mesma, antes e agora.
Colaborou: Marcos Vinicius
D. Eliene, uma vida na ponta de baixo da folia
Dizem que quando há alguém se divertindo sempre tem gente trabalhando. E assim o é no Carnaval de Salvador. Só para falar na ponta de baixo, 5.370 ambulantes cadastrados receberam da prefeitura um kit com um isopor grande e dois pequenos. Uma bela ajuda para a turma, no meio dela. D. Eliene Alves, 48 anos, manja bem do ramo. Está no negócio desde os 13 anos, levada pela mãe, que faleceu há oito dias, aos 78 anos, deixando outros 10 filhos, oito mulheres e 10 homens, todos no ramo.
Este ano ela está na Barra e agora ela prepara a nora e o filho para entrar no ramo.
– Algumas coisas poderiam ser melhores. Banheiros mais próximos, por exemplo. Pago R$ 7 só para tomar um banho.