Ponte Salvador-Itaparica cria um novo mapa econômico na Bahia

Março de 2009, Jaques Wagner governador, entregou a Lula, então presidente, o que seria um projeto para a ponte Salvador-Itaparica, em encontro no Centro de Convenções da Bahia (o que caiu). Perguntamos ao engenheiro Noberto Odebrecht, presente ao ato: qual é a chance de a iniciativa privada construir e explorar essa ponte?
Ele pediu reservas, não queria ser protagonista de polêmicas, mas respondeu:
– Do ponto de vista da iniciativa privada, botar o dinheiro na expectativa de explorar e ser ressarcido, nenhuma. Mas governo é governo. Se quiser, vai e faz.
Que pena o velho Norberto não esteja vivo para ver. Não foi bem como ele pensou. Na real, uma PPP, ou Parceria Público-Privada, algo tipo meio lá, meio cá.
Novo rumo — O fato é que a ponte, quando acontecer, será um marco na história da Bahia. O colonizador português tinha uma lógica objetiva: procurava um braço de mar para garantir a logística do seu principal meio de transporte, o barco, com água doce por perto e preferencialmente um lugar alto, para garantir ventilação e prevenção militar.
Essa área, de Itaparica a Itacaré, toda litorânea, de forte presença colonial, com o advento da economia girando pelos meios rodoviários, ficou um tanto escanteada. A ponte vira esse jogo. Vai dar uma acessibilidade que nunca existiu para Salvador, onde o PIB é bem maior, o dinheiro corre.
Paulo Vila, da Usuport, afirma que a cidade e o porto ganham
Paulo Vila, diretor-executivo da Associação dos Usuários de Portos da Bahia (Usuport), disse ontem que a ponte Salvador-Itaparica é uma boa pedida para Salvador.
– Salvador é uma península. E península bem do latim. Pen é quase e insula é ilha. É uma quase ilha. Disso resulta que 99% das cargas rodoviárias da capital baiana chegam por uma única via, a BR-324. Criar alternativas é uma necessidade.
Ele diz que, do ponto de vista do Porto de Salvador, os possíveis problemas com o traçado da ponte podem ser resolvidos ao longo do ano, tempo em que o projeto será elaborado.
Ressalta também que para o porto em si a ponte é uma boa pedida.
– O Porto de Salvador é de contêineres. Ora, os mais próximos que temos hoje na Bahia são o de Vitória e o de Suape, em Pernambuco. A ponte vai encurtar distâncias. Teremos mais cargas.
O Planserv, o TJ e a dívida
Embora o TJ tenha soltado nota dizendo que deve apenas R$ 12 milhões ao Planserv, e não R$ 38 milhões, como ontem divulgamos, o Planserv afirma que a dívida real é mesmo de R$ 38 milhões, referentes às contribuições patronais não realizadas de 2015 a 2018, mais as atualizações.
A contribuição patronal é parte dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público e Defensoria, autarquias e fundações.
A ilha quer ser destino e não apenas uma passagem
Presente ontem no leilão da ponte, Marcus Vinicius (MDB), prefeito de Vera Cruz, conversou com o governador Rui Costa e falou das expectativas dele sobre os novos tempos:
– A logística do projeto pensa na Bahia e eu penso em Vera Cruz. Além dos 12,3 km de ponte, nós teremos, no bojo da Ilha de Itaparica, 22 km de Via Expressa. Ora, nós não queremos ser apenas passagem, mas principalmente destino.
Segundo Marcus, Vera Cruz tem hoje, segundo o IBGE, 43 mil habitantes, e, segundo ele, mais de 50 mil com certeza absoluta:
– A previsão é que em duas décadas teremos 300 mil habitantes. Temos que resolver o problema do abastecimento de água, que hoje já é um problema, e de saneamento.
POLÍTICA COM VATAPÁ
Reduto fechado
Conta o deputado Antônio Henrique Júnior (PP) que Balthazarino Andrade, duas vezes prefeito de Barreiras (de 1973 a 1976 e de 1983 a 1987), depois deputado estadual, homem que marcou época na história do município por uma sucessão de obras tidas como ‘futuristas’ realizadas, lá um dia recebeu em seu gabinete o vereador Aguinaldo Pereira:
– Vim aqui lhe dizer que estão invadindo o meu reduto, lá no Bezerro.
Muito do jeitão dele, Balthazarino pegou papel, caneta, escreveu alguma coisa e entregou:
– Tome aqui vereador.
– O que é isso?
– Uma ordem pra você comprar umas bolas de arame farpado e cercar o seu reduto. É o que eu posso fazer por você.
Correções — Duas correções: o nome do Maracanã é Estádio Jornalista Mário Filho e não Mário Leal Filho, como publicamos, corrige o leitor Adolfo Oroso. E o também leitor Antônio Mário Melo faz outra correção: a Paralela é Avenida Luiz Viana e não Luiz Viana Filho. Aos dois, mui grato.