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EV’s: preparado para comprar o seu?

Publicado sexta-feira, 03 de junho de 2022 às 06:03 h | Autor: Luiz Carlos Lima* | [email protected]
O Brasil tem como se desenvolver extraordinaria- -mente no 
novo segmento de negócio
O Brasil tem como se desenvolver extraordinaria- -mente no novo segmento de negócio -

EV’s (Electrical Vehicule) em bom português, veículo elétrico, ou VE’s. Se você não pensou ainda em comprar um, comece a se preparar pois em breve será uma realidade interessante e acessível. Será? Vamos aos cenários:

O mercado mundial de VE’s não para de crescer! O relatório Global EV Outlook 2022, publicado em 24/05/22 pela IEA (International Energy Agence) revela que cerca de 10% (dez porcento) dos veículos comercializados no mundo em 2021 foram elétricos, ou seja, 6,6 milhões de novos VE’s numa frota atual de 16,5 milhões no planeta. No primeiro trimestre/22, foram vendidos 3,3 milhões, um crescimento de 75% em relação ao mesmo período de 2021.

Atualmente existem cerca de 450 modelos disponíveis no mercado mundial, sendo apenas 20 deles no Brasil. Alguns lançamentos estão agendados até o final do ano, o que elevará esse número para uns 30 modelos, entre pequenos e grandes, variando de R$ 200 mil a R$ 1,6 milhão. Apesar do mercado ainda incipiente, alguns desafios estão presentes: a rede de infraestrutura de recarga de baterias automotivas é quase inexistente. Segundo dados da ABVE-Associação Brasileira do Veículo Elétrico (abve.org.br), o Brasil dispõe de 1.250 pontos de recarga de veículos, sendo que 47% deles em São Paulo.

O crescimento na demanda de pontos de recarga é gigantesco, o negócio é de crescer os olhos. Segundo o IEA, o mercado global da eletricidade para carregamento de VE’s é projetado para crescer mais de 20 vezes, atingindo cerca de 

US$ 190 bilhões até 2030. Isso ainda assim equivale a cerca de um décimo do valor do mercado de diesel/gasolina atual. Atingir uma capacidade mínima necessária para atender a frota prevista, vai requerer mais de 15 milhões de novas estações públicas de carregamento. Isso porque estima-se que grande parte dos carregamentos sejam realizados em casa ou no trabalho. Aí surgem outras questões: como adaptar as atuais edificações a essa nova demanda de energia elétrica? E o preço da energia será o mesmo praticado para o uso doméstico ou comercial, com uma tarifa que carrega mais de 60% em impostos e subsídios?

O Senado Federal criou em março/22 a Frente Parlamentar Mista pela Eletromobilidade, cuja finalidade é promover debates e iniciativas a respeito de políticas públicas que estimulem o tema. Criada há quase 3 meses, não promoveu nenhuma reunião até hoje e não há nenhuma prevista, segundo site do Senado. Por sua vez a ANEEL publicou em dezembro/2021 a nova Resolução Normativa 1.000 que atualiza as questões técnicas de instalação, medição e faturamento da energia fornecida pelos equipamentos de recarga elétrica de veículos, mas sem nenhuma conotação de estratégias ou políticas, no que estão corretos, essa prerrogativa cabe ao Governo Brasileiro.

A eletrificação dos transportes faz crescer o consumo de energia. A IEA projeta que os VE’s no mundo irão consumir 1.100 terawatt-hora (TWh) de energia até 2030. Isso equivale a duas vezes o consumo de eletricidade do Brasil. Há também o viés da necessidade crescente de minérios para produção das baterias. O foco está em minerais críticos como cobalto, lítio e níquel. Em maio/22, os preços do lítio estão mais de sete vezes os preços do início de 2021. Demanda sem precedentes, falta de investimento em novas capacidades de oferta e a guerra na Ucrânia são fatores chave. Os preços médios das baterias caíram 6% em 2021, um declínio menor que os 13% de 2020. Mantidos os preços dos metais atuais, elas serão 15% mais caras ao final deste ano. Porém a competitividade relativa dos VE’s permanece inalterada frente ao preço atual do petróleo.

O Brasil tem como se desenvolver extraordinariamente nesse novo segmento de negócio. Matriz energética limpa, minérios para produzir baterias e um parque industrial capaz de fazer frente ao crescimento esperado, de todos os componentes da cadeia produtiva. A entrada dos VE’s em nossa vida é indiscutível! A oportunidade de geração de empregos, riquezas e tecnologia para nossa gente passa pela capacidade dos políticos que escolheremos em outubro, de pensar o Brasil de amanhã. Está na hora de traçarmos estratégias audaciosas e deixarmos de ser apenas fornecedores de matérias primas. Políticas públicas inteligentes, pesquisa & desenvolvimento de tecnologias para fazer aqui e não trazer de fora. Quem sabe assim um VE fica ao alcance de nossos bolsos.

*Luiz Carlos Lima é Engenheiro eletricista, especialista em Gestão e Comercialização de Energia Elétrica

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