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Por que energia tão cara?

Publicado sexta-feira, 30 de julho de 2021 às 06:02 h | Autor: [email protected]
É sempre mais fácil passar a conta para o consumidor através das bandeiras tarifárias | Foto: Luciano Carcará | Ag. A TARDE | 20.4.17
É sempre mais fácil passar a conta para o consumidor através das bandeiras tarifárias | Foto: Luciano Carcará | Ag. A TARDE | 20.4.17 -

A sociedade aprendeu a funcionar de um jeito diferente, mais no “remoto” e menos no “presencial”. Essas mudanças na forma de relacionamento a tornaram ainda mais dependente da eletricidade. Depois de uma queda em 2020, o consumo de energia elétrica volta a crescer no Brasil e no mundo, atestando a retomada do crescimento econômico e confirmando que as pessoas se habituaram com esse novo “modus operandi”.

De acordo com o Global Energy Statistical Yearbook 2021, o consumo mundial de energia caiu 4,0% em 2020, algo que nos últimos 30 anos apenas aconteceu em 2009, após o “crash de 2008”, quando a retração no consumo de energia foi de apenas 0,85%. O boletim emitido pela EPE – Empresa de Planejamento Energético (Ministério de Minas e Energia) em junho/2021, referente aos dados de maio, mostra que retornamos aos níveis de consumo de energia elétrica pré-pandêmicos. O Brasil consumiu, em maio/21, 11,7% mais que maio/20. Destaques para o setor industrial (+22,5%) e o comércio (+16,7%). Em nível mundial, o relatório da EIA (www.eia.gov ) atestou que nos Estados Unidos a venda de energia em maio/21 cresceu 6,9% em relação a maio/20. Já o China Energy Portal (chinaenergyportal.org) publicou que no primeiro quadrimestre deste ano o consumo de energia cresceu 19% em comparação a 2020.

Porém, no Brasil, a retomada no consumo de energia elétrica esbarrou numa derrapada no planejamento estratégico do setor. Apesar dos recordes de geração eólica e solar fotovoltaica, principalmente no Nordeste, a sombra do racionamento de energia voltou a ameaçar a retomada da economia. No mesmo momento em que o monitoramento do Sistema Interligado Nacional (SIN) registrou demanda por energia em junho com crescimento de 8,1%, comparado junho/2020, a ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico divulgou a NT-ONS DPL 0081/2021 dizendo: “(...) Ressalta-se que, em algumas dessas bacias, observaram-se as piores sequências hidrológicas do histórico de vazões de 91 anos (1931/2021)” (...) “as vazões no último período de set/2020 a jun/21 configuraram a pior condição hidrológica já observada no histórico”.

Recursos naturais

Ficam algumas perguntas: por que foi cancelado o 2º Leilão de Energia de Reserva em 2016, cujos empreendimentos de geração renovável estariam se conectando este ano? Por que não seguimos as tendências mundiais de tratar reservatórios hídricos como forma de armazenamento de energia, uma vez que os preços das fontes renováveis eólicas e solar estão extremamente competitivos? Qual a razão de ainda termos 2/3 da energia produzida com hidrelétricas e mantermos 12% com termelétricas fósseis, caras e poluentes?

A energia mais cara é a que nos falta. Fazendo uma breve correlação de eventos, extraídos dos boletins emitidos pela ONS, observa-se: (25/maio) “Nordeste registra segundo recorde de geração solar fotovoltaica em menos de uma semana”; (12/julho) “geração eólica do Nordeste registra recorde hoje que representa 106,8% da demanda elétrica da região”; (23/julho) “os reservatórios devem terminar o mês de julho com níveis de 54,6% de sua capacidade no Nordeste”; “(...) no Sul 47,6%, enquanto no Sudeste/Centro-Oeste, de 26%”.

Em momentos de mudanças climáticas e discussões sobre o aquecimento global, não podemos correr o risco de não utilizar os recursos naturais de que o Brasil dispõe para criar mecanismos de preservação dos nossos reservatórios. Porém é sempre mais fácil passar a conta para o consumidor através das bandeiras tarifárias.

Defendidas em março/2014 pela Abradee – Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (disponível no site) e formalizadas pela Resolução Homologatória 1.859/15 – Aneel, vão custar até novembro/21 cerca de R$ 13,1 bilhões. Fiquem ligados nesses movimentos!

Engenheiro eletricista, especialista em gestão e comercialização de energia elétrica

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