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Por HIlcélia Falcão

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ACERVO DA COLUNA
Publicado domingo, 23 de abril de 2023 às 8:00 h | Autor:

Cadela abandonada em alto-mar retrata a crueldade humana

Caso de Zaya, que quase morreu afogada, é alerta sobre necessidade de combate a prática perversa

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A protetora Patruska abraça Zaia, resgatada no mar
A protetora Patruska abraça Zaia, resgatada no mar -

O caso da cachorrinha Zaya, resgatada no mar da Baía de Todos os Santos, na última quarta-feira, pelo empresário Ricardo Ribeiro, ilustra bem a gravidade do cenário do abandono animal na Bahia. Felizmente, neste caso, houve um “anjo da guarda” no meio do caminho e o episódio teve um final feliz. Zaya, que estava a 10 quilômetros da costa, foi adotada pelo próprio Ricardo que tem outras duas cadelinhas.

O episódio de perversidade ocorrido em pleno mês em que se celebra o Abril Laranja, época de combate à crueldade contra animais, serve de alerta à necessidade cada vez maior de conscientização sobre o problema. “Abril Laranja é um mês educativo para que a sociedade entenda a importância do respeito a todas as formas de vida e que crimes contra animais são potenciais crimes contra seres humanos!!! O mundo está interligado e nenhuma espécie vive sem a outra”, afirma a a empresária Patruska Barreiro, que é protetora animal.

Aparentemente lançada ao mar para morrer, a cadelinha Zaya não teria sobrevivido se não fosse resgatada. “A gente avistou a Zaya muito cansada, submergindo, aí eu fiz a volta rápido e pulei do barco para pegá-la”, disse o empresário em entrevista, à época do resgate. O animalzinho foi avistado entre o distrito de Bom Jesus dos Pobres e a praia de Barra do Paraguaçu. Segundo a esposa de Ricardo, Isabel Costa, agora Zaya está ótima. “Até parece que faz parte da família há anos; estamos, eu, meus filhos e meu esposo curtindo o feriado em Itaparica com as nossas três filhas de quatro patas”, disse Isabel que tem outras duas cachorrinhas, Valentina e Maria Eduarda.

O episódio envolvendo a cadelinha é apenas uma das inúmeras situações de abandono em alto mar identificada por protetores e pescadores. “Infelizmente já vimos situações como a que ocorreu com Zaya, de pessoas jogando animais em alto mar e até de acharmos sacos com animais dentro já mortos na beira da praia”, relata a empresária Patruska Barreiro. Ela atribui o agravamento do problema à falta de educação humanitária e de políticas públicas efetivas para o controle populacional dos animais.

Outros casos

As situações de abandono com requintes de crueldade não se restringem ao descarte em alto-mar, quando dificilmente os animais escapam de afogamento. “Já deixaram na minha porta 10 filhotes amarrados num saco, nem como respirar os bichinhos tinham. Se a gente não tirasse tinham morrido”, conta o médico veterinário José Eduardo Ungar de Sá, integrante da Comissão de Bem Estar Animal do Conselho de Medicina Veterinária da Bahia (CRMV-BA). Ele lembra que o abandono é crime e pode “dar cadeia”. “É uma irresponsabilidade”, afirma.

Segundo o censo animal mais recente realizado pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), em 2012, Salvador possui aproximadamente 300 mil animais semi-domiciliados, que são comunitários ou errantes. Não há dados sobre o número de animais adotados. A previsão da Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secsis) é que um novo rescenseamento seja feito nos próximos anos.

O abandono traz, além de consequências práticas para a saúde pública, a alteração do comportamento animal. Muitos ficam arredios e até agressivos. Mesmo resgatados e livres do sofrimento das ruas, o animal que é submetido a tratamento violento, na maior parte das vezes cruel e perverso, sofre impacto irremediável na saúde mental.

“Os maus tratos quando não matam, matam internamente o pet, o que dificulta muito a recuperação e o processo de adoção”, afirma Patruska. O resultado é que isto compromete as possibilidades de adoção. Os abrigos estão cheios de animais mutilados, cegos e com deficiências físicas. “Zaya, a cadelinha abandonada no mar, estava bastante assustada e tem muito medo”, descreve Patruska.

É por conta de situações como esta, nas quais o animal passa por violência, que muitos acabam rejeitados em processos de adoção devido ao comportamento. O resultado é o impacto na superlotação de ONGs que os acolhem.

Lar, Doce Lar

No Abrigo Doce Lar, onde Zaya seria acolhida caso não tivesse sido adotada pelo empresário, há mais de 300 animais à espera de adoção. O espaço convive com dificuldades constantes e escassez de recursos financeiros para manter os bichos. “Cadelinha abandonada no mar para morrer. Meu Deus! Que horror! Que desumanidade é essa? Amigos do Doce Lar resgataram, estarão trazendo para cá”, diz a postagem do abrigo da época do episódio com Zaya. Nos comentários do post, houve até um interessado em adotar a cachorrinha que, após ter atendimento veterinário, ficou mesmo com a família que a resgatou.

Em entrevista à Papo Pet no ano passado, a gestora do Doce Lar Constanza Costa informou que, em 21 anos de existência da ONG, a primeira ajuda pública que recebeu foi ter sido contemplada pelo programa de vacinas municipal. “As políticas públicas ainda são discretas mas acredito que ainda tem melhorias vindo por aí como o hospital público”, disse Constanza.

Hospital veterinário

De acordo com a Secsis, Salvador tem ampliado as políticas públicas de proteção animal. Entre as ações mais importantes estão a ampliação dos castramóveis, a oferta de vacinas para os abrigos e a construção do Hospital Veterinário Municipal, que está com 60% das obras concluídas. Um exemplo das ações de combate ao abandono animal é a instalação de câmeras de segurança em áreas onde as pessoas costumam descartar os animais como na colônia de gatos em Piatã. “Estamos monitorando 24 horas a colônia para que a gente possa coibir esse abandono e, caso haja abandono, vamos punir os responsáveis encaminhado para os órgãos devidos”, explica a titular da Secsis Marcelle Morais.

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