Canais educativos agonizam na TV paga

Uns 20 anos atrás adquiri meu primeiro pacote de TV por assinatura. Decidi ter esse gasto extra só porque o Discovery Channel finalmente chegara ao Brasil. Até então, seu conteúdo só chegava aqui em alguma reportagem especial do Fantástico, por exemplo, ou "acidentalmente".
De vez em quando, algum amigo aparecia com alguma VHS que trouxera do exterior, com algo do canal. Ainda não havia vídeos na nossa então recém-nascida e rudimentar internet discada.
Passaram-se os anos e nós, assinantes da TV paga, ganhamos também o National Geographic, o The History Channel e, por fim, os demais filhotes dessas matrizes, como o NatGeo Wild, H2, Discovery Theater, Home&Health, TLC, Civilization, Science.
Só que boa parte desses canais só entra em alguns pacotes "carésimos", ou pacotes HD. Tanta segmentação fez com que os canais-mães (Discovery-History, especificamente) começassem a perder identidade. Comecemos pelo meu preferido, o Discovery.
O Discovery Channel que recebemos hoje não é nem sombra daquele que chegou ao Brasil e fez muita gente, como eu, começar a pagar para ver TV de qualidade.
O desmembramento de seu conteúdo em outros "filhotes" o fez perder qualidade e muito conteúdo. Basicamente, tudo que havia de melhor no DC foi para os "filhotes" segmentados. Ou seja, saiu do alcance do assinante comum.
O Discovery hoje tem muita coisa realmente esquisita. Há uma obsessão difícil de entender com o Pé Grande (e olhem que eu até acredito), com extraterrestres (idem) e com reforma de carros. Mas isso ainda passa. Pior foram a exibição do falso "documentário" sobre sereias ou o fiasco internacional do naturalista que seria engolido por uma cobra ao vivo, mas pediu socorro à produção. Que sorte a da cobra!
Até o supostamente sofisticado Discovery HD Theater começou a "viajar" na maionese recentemente com uns tais "monstros da montanha". O programa não passa de meia dúzia de caipiras norte-americanos armados e levando susto no meio do mato com qualquer barulhinho de graveto quebrado. Seria hilário, se não fosse perigoso. Eles são os verdadeiros monstros da montanha.
Outro filhote do Discovery, o TLC, andou exibindo nos últimos anos coisas como Honey Boo Boo - um programa tão vergonhoso que virou até tema de episódio de South Park: o dia em que a TV desceu a um nível tão baixo, mas tão baixo que James Cameron teve de mergulhar de submarino até uma fossa abissal oceânica para procurar seu paradeiro.
Isso sem falar no Discovery Turbo, que exibe um tal de Corridas Proibidas, que trata de "rachas" de carros em cidades norte-americanas. É a glamourização do mundo criminoso.
O The History Channel também não fica atrás em asneiras. Tudo que havia de bom agora está migrando para seu filhote H2. O History sofre de "extraterrestrice crônica": e são sempre os mesmos tediosos e repetitivos depoimentos de gente que viu ETs, foi abduzida por ETs, foi perseguida por ETs e até fez sexo com ETs. Alienígenas burros! Com um universo infinito à disposição, vêm copular justamente com essa raça besta?!
Hoje, se quisermos algum conteúdo científico de qualidade, só mesmo o NatGeo (que tem um programa bem a calhar, chamado A Ciência da Estupidez) ou então pagando um pacote plus para ter o excelente BBC Earth.
Mais cedo ou mais tarde ficará mais em conta trocar nossos pacotes caros por um mais basiquinho, que certamente terá o sempre confiável canal Futura (do Grupo Globo). O Futura, aliás, é um canal UHF e, portanto, gratuito; ou então a ótima TV Escola, sempre excelente, e que só peca pela baixa qualidade das imagens de alguns programas.
Ou quiçá a TV Brasil, que, a despeito de custar uma fortuna para nossos bolsos (R$ 7 bilhões desde a inauguração, em 2007), ainda exibe muita coisa de ótima qualidade (como o Programa Especial), e não só em ciência e comportamento, mas também na música.
Quanto aos demais canais, melhor chamarmos de novo o James Cameron...