Mimada e ingrata, Xuxa pode estar com os dias contados na TV

Em meados do ano passado eu escrevi uma coluna aqui em A TARDE na qual abordei declarações de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, contra Xuxa, que acabara de ser contratada pela Record. A negociação com a loira era então a mais espetaculosa da TV brasileira, desde a saída de Gugu Liberato do SBT.
Critiquei principalmente o fato de Boni estar desancando e prevendo a desgraça profissional da ex-global antes mesmo dela estrear. Afirmei que Boni agia qual uma cassandra espectral ou profeta sombrio, e que era preciso dar tempo a Xuxa antes de fazer previsões.
Bem, quase um ano depois eu volto a este mesmo espaço para dizer que hoje concordo com Boni. Xuxa fracassou, sim, em sua nova casa, e por uma série de motivos agora bem claros, como deixou patente na última semana meu colega crítico de TV Maurício Stycer, no portal UOL:
1. O imenso ego de Xuxa não lhe permite criar quadro algum que não faça referência ao próprio umbigo; é Xuxa dando declarações sobre todos os assuntos; é Xuxa visitando fãs descompensados (algumas cenas são constrangedoras, se é que a intenção era "emocionar" o público); é Xuxa entrevistando um convidado, mas só falando de si mesma o tempo todo - e aqui vamos falar o português claro: Xuxa é péssima entrevistadora;
2. O programa não tem nem sequer um quadro inteligente ou divertido;
3. Xuxa parece sofrer de paranoia crônica, pois sempre acha que está sendo podada por terceiros; ora pensa que alguém não lhe está permitindo se expressar com liberdade, ora declara, de forma extremamente deselegante, e ainda por cima em outra emissora (SBT), que tem eternamente de se policiar, porque na Record não pode falar nem "graças a Deus";
4. A apresentadora continua vivendo do passado, como se ainda fosse a tal "rainha" da década de 1980. Desculpe, senhora, mas esses são tempos que não voltam mais;
5. Ao contrário de Eliana, dona Xuxa Meneghel nunca fez uma transição clara do público infantil para o adulto, e hoje paga o preço por essa dubiedade: seu programa não atrai audiência expressiva nem de maiores nem de menores de idade.
Com tantos defeitos profissionais não tinha mesmo como Xuxa deslanchar. Mas, o pior mesmo, é a ingratidão para com a emissora que a acolheu, e especialmente para com o vice-presidente artístico da Record, Marcelo Silva, que a contratou.
Aqui eu preciso acrescentar uma observação pessoal: "Seu" Marcelo, como é chamado pelos funcionários, é uma das pessoas mais educadas, distintas e gentis que eu conheci em meus 20 anos cobrindo televisão. Uma pessoa simplesmente amável. Foi ele quem teve a ideia e defendeu ardorosamente a contratação de Xuxa, inclusive indo contra a opinião de muitos executivos da casa.
No começo Xuxa até que foi bem: sua chegada foi o assunto mais comentado da TV no ano passado, em redes sociais e sites; os anunciantes acreditaram em sua ressurreição televisiva; até mesmo a Globo andou ameaçando artistas que visitassem seu programa, numa aparente preocupação com a nova rival do horário nobre.
Porém, à frente da empreitada, Marcelo Silva foi quem investiu e apostou alto ao trazer a apresentadora, em fase decadente e até então mantida por meses na "geladeira", pela Globo.
E o que ele ganhou de Xuxa em contrapartida? Nada. Só indelicadeza, queixumes e chorumelas, ora porque ela quer porque quer fazer programa ao vivo, como se isso fosse acrescentar qualquer gota de qualidade à atração (sic); ora porque estava descontente com a alteração do status de sua produção, que sofreu cortes como quaisquer outras da casa num ano de crise econômica; ora porque ela não se prontifica nem sequer a comparecer aos eventos mais importantes da emissora - seja uma simples foto natalina com os colegas, seja a pré-estreia do primeiro longa-metragem da casa. A senhora Meneghel nunca pode e nunca está disponível para nada em que ela não seja o centro das atenções.
Vamos lá, verdade seja dita, e eu assumo publicamente: Boni estava certo e coberto de razão.
Do jeito que está, Xuxa acabou como "entertainer", acabou como apresentadora e, sinceramente, não consigo vislumbrar, como colunista e crítico de TV, nenhuma possibilidade de mudança: ela age menos como artista e profissional, e mais como uma criança mimada e birrenta, que acha que o mundo gira ao seu redor.
Pois é, dona Xuxa, fica aqui um alerta: seu mundinho na TV parou de girar faz tempo.
Má notícia a cabo
O Estado da Bahia fechou o ano passado com 635.600 assinantes de TV paga. Um ano antes, esse número era de 678.300 assinantes. Ou seja, quase 43 mil famílias ou estabelecimentos baianos cancelaram suas assinaturas desde 2014.