Juristas negras dão força a encarceradas
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Curso de trancista; assistência religiosa; formação em direitos humanos; casamentos LGBTQIA+; visitas à Academia de Letras da Bahia e ao Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira (Muncab).
Estas são algumas das ações mais recentes do Instituto Juristas Negras, ao promover o projeto “Mulheres e Cárcere. A liberdade é uma luta constante”, tendo como inspiração a vida e o pensamento de Angela Davis.
Coordenado pela promotora de justiça Lívia Sant’Anna, tendo Monique Damas como diretora executiva, as juristas negras prestam serviço gratuito a 100 internas do Conjunto Penal Feminino de Salvador.
Ao ocuparem o vácuo deixado pelas instituições, por descumprirem a Lei de Execuções Penais, as profissionais do direito buscam ainda medidas de desencarceramento, considerando a desproporção das penas aplicadas.
- As sentenciadas são duplamente prejudicadas, por serem negras e por serem mulheres”, afirma Lívia Sant’Anna.
Como inequívoca demonstração do mal causado pela estrutura patriarcal, segundo a promotora, é comum serem sentenciadas por assumirem os flagrantes de seus "companheiros".
Urgência da reinserção - Lívia Sant’Anna destaca a importância de encontrar meios de reinserção social, profissional e familiar, visando ao período pós-cárcere, daí a oferta de cursos de profissionalização.
Uma equipe de juristas, assistentes sociais e psicólogas vem dando apoio com o objetivo de “esperançar”, verbo apropriado para melhorar a estima das apenadas, muitas delas rejeitadas pelos familiares.
Ancestralidade e inovação
O Hub Salvador será palco, amanhã, do evento “Futuros Ancestrais”, uma imersão criativa e reflexiva que propõe um encontro entre os saberes afro-brasileiros e as tecnologias contemporâneas. Das 14h às 18h, o espaço receberá palestras, debates, vivências artísticas e uma exposição que exaltam a potência ancestral como catalisadora de inovação. O evento busca evidenciar como a cultura afro-brasileira, suas simbologias e práticas ancestrais dialogam profundamente com a inovação e as tecnologias contemporâneas. A programação começa às 13h30 com recepção e credenciamento do público.
‘A tragédia política’, por Nathalí Macedo
Já está nas livrarias físicas e virtuais, o novo livro de Nathalí Macedo, A Tragédia Política como Entretenimento, reunindo crônicas e textos de opinião escritos no período de incertezas da pandemia.
A mestra em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e doutoranda pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb) chegou ao terceiro título depois de Mulheres que Possuo, de 2014, e Ser adulta e outras baianidades (2017).
O livro de forte viés no campo político-ideológico aborda as mazelas de um Brasil apocalíptico - o Brasil pós-golpe - trazendo palavras como bálsamos para tempos tão difíceis.
Ao mexer num mesmo caldeirão literário ingredientes como política, feminismo, culturas e comportamento, Nathali segue a linha filosófica de João Cézar de Castro Rocha, situando os textos no “Brasil Pós-Político.”
- Trata-se de desespero transformado em prosa, a ansiedade do isolamento desfeita em versos, as palavras como testemunhas de um tempo, um tempo triste, mas que ainda assim merece virar história”, afirma autora.
Segundo Nathalí, cada página é um fragmento de espelho partido – refletindo os rostos cansados de um país que sangra, mas insiste em sonhar.
Como quem escreve para não enlouquecer, a autora transforma caos em claridade, raiva em ritmo, dor em denúncia.
“A tragédia política como entretenimento” não é apenas um testemunho; é um sussurro de resistência, um canto insurgente em meio ao ruído do colapso, define a “mãe da criança”, nascida de parto tão problemático quanto instigante para a leitura.