CONSCIÊNCIA NEGRA
Passeatas em Salvador afirmam orgulho de ser negro
Por Yuri Silva

Quem passou pelo Curuzu, na Liberdade, nesta sexta-feira, 20, pode ter tido a sensação de estar no Carnaval. Tambores, música, canto, negros minuciosamente arrumados para a festa e muito gingado. Mas, pelo menos naquela tarde, não era festa de momo.
O momento era de cantar pela liberdade do povo negro e exibir respeito à diversidade. Era a 13ª Caminhada da Liberdade, promovida pelo Fórum de Entidades Negras da Bahia, que levou uma multidão às ruas.
O longo percurso até o Pelourinho parece uma leve caminhada. Até a rainha do ébano deste ano, Alexandra Amorim, e o rei Ilê Aiyê, Antônio dos Santos, o Vovô, percorreram o trajeto no chão, ao lado dos músicos.
Alexandra, que está aprendendo a tocar instrumentos com a Band'Aiyê, arriscou batidas na dobra de uma. Segundo ela, a curiosidade a aproximou deste novo hobby. "Queria sair da minha zona de conforto. Como os meninos tocam para eu dançar, queria tocar para eles um pouco", afirmou.
Animação
Ali pertinho, bem no fundo do trio elétrico, uma turma animada não parava quieta. Dançavam ininterruptamente, com direito à coreografia sincronizada. A dançarina Cristiane Ferreira, da Banda Didá, comandava os movimentos.
Para ela, que vai todo ano à caminhada com os amigos, a data é só mais um dia de comemoração e de reflexão sobre a importância da afirmação racial. "Consciência negra é o ano todo, então o dia 20 é só o momento de reforçar o que defendemos sempre", discursou.
A música só foi interrompida quando os discursos políticos tomaram o trio e o ex-presidente Lula chegou ao bairro com o governador Rui Costa. Após quase uma hora à frente do Plano Inclinado Liberdade-Calçada, o som dos tambores voltou a falar mais alto e a marcha seguiu o caminho.
Clássicos como "Evolução da Raça", "O Mais Belo dos Belos" e "Badauê" foram entoados pelos cantores do bloco afro mais famoso do mundo. A partir dali, ainda faltava percorrer alguns bairros até o Pelourinho, onde a caminhada dos blocos afros se encontraria com outra marcha, puxada por entidades políticas do movimento negro baiano.

Multidão acompanhou desfile de trio elétrico durante manifestação no Curuzu (Fotos: Luciano da Matta l Ag. A TARDE)
Simbólico
Comandada pela Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), a passeata saiu do Campo Grande no meio da tarde e seguiu até o Terreiro de Jesus, no Centro Histórico. A secretária de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Vera Lúcia Barbosa, proferiu discurso no trio elétrico.
"Tudo isso é muito simbólico. Simbólico pelo dia, pela temática da Década Afrodescendente, que trata de reconhecimento. É uma manifestação repleta de simbologia", afirmou. "A caminhada organizada pelo Fórum de Entidades Negras também é emblemática e é uma saudação belíssima a Zumbi dos Palmares e a todos os lutadores da causa da igualdade", completou.
Quem também elogiou a iniciativa foi o ator Jorge Washington, do Bando de Teatro Olodum, que participou da manifestação do Curuzu. Em cima do trio, ele defendeu que a ida da multidão às ruas é uma cobrança "por justiça" no país. "Estamos na rua pra festejar a memória do nosso maior líder e pra dizer que queremos mais avanços", disse.
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