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CULTURA

3ª Bienal da Bahia vai reencenar edições anteriores

Por Marcos Dias

19/03/2014 - 8:12 h
Etsedron - 3a bienal
Etsedron - 3a bienal -

Obras de Farnese Andrade, Lênio Braga, Teresa Simões, Antonio Dias e Manuel Henrique estão entre as que foram confiscadas da 2ª Bienal da Bahia. Embora a censura já tivesse atuado, pontualmente, na Pré-Bienal de Paris (RJ) e no Salão de Ouro Preto (MG), nada se comparou ao que ocorreu na 2ª Bienal da Bahia.

O artista visual J. Cunha não pôde apresentar sua obra. Ele estaria acorrentado na instalação, nu, aos berros. "Hoje talvez fosse engraçado, e não esdrúxulo, mas naquela época era um desafio", afirma o artista.

Para ele, a ação dos militares ainda se faz sentir. "A ditadura deu para o país uma juventude órfã, da alta classe média à mais baixa, sem cidadania. Hoje temos todas as sequelas desse atrofiamento na sociedade, com o separatismo e a juventude negra e mulata apanhando da polícia o tempo inteiro".

Com a paranoia generalizada e instituições como a Escola de Belas Artes ou o MAM amordaçadas, coube ao Instituto Cultural Brasil Alemanha (Icba), na gestão de Roland Schaffner, ser o espaço da criação artística por excelência na cidade.

"Roland Schaffner é um herói. Ele criou uma área de resistência para todas as artes e apoiou a vanguarda em tudo. A censura instituída com o AI-5 criou também a pior censura que existe: a autocensura, mas ali fizemos muitas coisas. Schaffner ainda não foi homenageado como deve ser aqui na Bahia", considera Juarez Paraíso.

Com grupos residentes de todas as linguagens, um dos projetos do Icba, o Interarte, mostrava o espírito que animava os artistas. No dia 20 de agosto de 1971, por exemplo, a programação incluia um "espetáculo de artes integradas, de caráter experimental, realizado por uma equipe de artistas para criar uma nova dimensão na relação arte-público".

O artista visual e cineasta Chico Liberato era um daquela equipe. Mesmo morando no Rio, ele já havia participado das duas bienais da Bahia. No Icba, ele e a mulher, a poeta e roteirista Alba, iniciaram uma ação histórica. Onde hoje é o teatro da instituição, levantaram paredes à moda das casas de sopapo (taipa), e a obra foi crescendo e agregando pessoas.

A dançarina Lia Robatto e seu grupo juntaram-se a eles com intervenções no espaço. Certa noite, com o entusiasmo do público, foi tudo ao chão. "E eu lá, gostando. Não tinha como terminar aquilo, tinha que ser uma coisa assim: quebraram tudo", avalia Chico.

A década de 1970 também contou com a radicalidade deslumbrante do coletivo Etsedron, liderado por Edison da Luz. Entre 1971 e 1977, o grupo participou da Bienal de São Paulo, com a curadoria e transcrição dos quatro projetos feitos pela crítica Matilde Matos, verticalizando as intenções do grupo que assinava como o avesso do Nordeste.

As feridas hoje

A indagação É Tudo Nordeste?, a propósito, é a medula do projeto curatorial da 3ª Bienal da Bahia, que vai acontecer (como só na Bahia parece ser possível) 46 anos após a última.

A realização é do MAM, com apoio do Governo do Estado, através da Secult, que já havia anunciado a retomada para 2011. Além da mostra da produção contemporânea, a Bienal fará uma reencenação das duas bienais que hoje fazem parte da história.

O trabalho é desenvolvido pelo curador adjunto Fernando Oliva (que fez a curadoria da exposição Cover, sobre reencenação, realizada no MAM/SP em 2008).

"Há um mito de que não houve censura nas artes visuais. Mas houve censura e fazia parte de uma estratégia do regime", afirma Oliva. A ideia dos militares era dar um aviso de que não tolerariam subversão.

Para ele, a Bienal teria sido fechada independentemente de qualquer obra que estivesse lá. Oliva adianta que a reencenação das bienais vai "reabrir feridas", mas não será uma exposição dos tipos nostálgica ou museológica.

Cerca de 50 entrevistas com pessoas que viveram aqueles anos serão exibidas, bem como obras da época e de artistas contemporâneos, com temas sobre a ideia da reencenação.

A Bienal vai acabar tocando, indiretamente, na delicada questão do mercado da arte atual e a ideologia que animou os artistas de então. "Mas a gente não pode esquecer, nessa estratégia de não idealizar o passado, que esses artistas, por não viverem num sistema estruturado, tinham uma vida extremamente precária. Muitos não conseguiram viver da arte deles", argumenta o curador.

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