CULTURA
'A Bofetada' celebra 30 anos com novo elenco e piadas repaginadas
Por Eugênio Afonso

Para comemorar 30 anos de estrada, a peça "A Bofetada" voltará ao teatro Sesc Casa do Comércio amanhã, 20 horas, onde ficará até 25 de fevereiro, sempre aos sábados e domingos, com elenco formado por Mário Bezerra, Marcos Barretto, Rodrigo Villa e Lelo Filho, que agora assina a direção.
O espetáculo reestreia brindando o público com a participação especial das freirinhas do musical "Noviças Rebeldes" ao lado das professoras Fanta Maria e Pandora.
E lá se vão três décadas de sucesso da produção que revolucionou o teatro baiano. O ano era 1988 e o gênero besteirol fascinava o país. Um grupo de jovens atores da Companhia Baiana de Patifaria decide criar uma comédia baseada nesse curioso fenômeno teatral. Depois de alguma confabulação, a trupe bate o martelo e monta uma peça recheada de esquetes. Os rapazes dão a ela o nome de "A Bofetada".
Com textos de Mauro Rasi, Miguel Magno e Ricardo de Almeida, desde a estreia a peça arrebata corações. A partir desse marco quase tímido na Sala do Coro do TCA, em novembro de 1988, o teatro baiano nunca mais seria o mesmo. Um dos méritos que "A Bofetada" carrega é o de ser, sem sombra de dúvidas, um marco importante para o teatro baiano.
Havia, em Salvador, nos anos 1980, o teatro "pré-Bofetada", frequentado quase que somente pela classe teatral e alguns apaixonados pelos desígnios do palco, com peças que ficavam poucos meses em cartaz.
Hoje, há o teatro baiano profissionalizado, reconhecido, consumido por quase todos os que habitam essas plagas e que, pasmem, pôde sobreviver, e bem, por três décadas.
"É uma peça que não envelhece, que sempre vai ter força. Tem o mérito de ter trazido o universo baiano para o palco, junto com os espetáculos 'Los Catedrásticos' e 'Ó Paí Ó'", argumenta Fernando Guerreiro, primeiro diretor e responsável pela concepção original da peça que, segundo ele, "nasceu por acaso e transformou-se em um verdadeiro clássico".
Pelo mundo
E, não satisfeita em seduzir somente a Bahia de ponta a ponta, "A Bofetada" correu mundo. Nesses 30 anos, rodou quase todo o Brasil e foi parar na Off Broadway, em Nova York. À frente da trupe de atores da companhia, que variou muito desde a estreia, está o ator Lelo Filho e a carismática Fanta. A única personagem que sempre foi defendida pelo mesmo ator. Ele, Lelo, uma espécie de comandante da nave.
"Fanta me traz muita felicidade, me ensina muito com um humor irônico e crítico, e até já saiu do palco e está no Facebook. Mas a gente não premeditava esse sucesso. Quando montamos "A Bofetada", vivíamos um período sério, dramático, de ditadura, e decidimos ir na corrente inversa, fazendo rir, mas tudo era um risco. Deu certo e a gente acabou dando estímulo para que o teatro baiano pudesse resgatar essa pluralidade que tem", argumenta Lelo.
O grupo não se acomodou com o megassucesso de "A Bofetada". Montou, também, "A Vaca Lelé", "Noviças Rebeldes", "Capitães da Areia" e "Siricotico", dentre outras. Mas, apesar de elas terem obtido boas plateias e conquistarem o povo baiano, "A Bofetada" ainda é o xodó do público.
Tem gente que já viu mais de 20 vezes. São mais de dois milhões de espectadores, até hoje, aplaudindo as peraltices de Fanta, Pandora, Vânia, Dirce, Eleonora e todas as outras personagens desvairadas que povoam o espetáculo.
Mulheres tresloucadas que já foram defendidas por inúmeros atores. Deram vida a essas figuras impagáveis, Diogo Lopes Filho, Fernando Marinho, Frank Menezes, Moacir Moreno (in memoriam), Jarbas Oliver, Ricardo Castro, Igor Epifânio, Nilson Rocha e muitos outros.
Wilson de Santos, que já foi da companhia, diz que "A Bofetada" representa um marco na carreira. "Foi um trampolim gigantesco para mim, sobretudo porque fiz o caminho inverso, saindo do eixo Rio-São Paulo para fazer teatro na Bahia", reconhece, orgulhoso.
'Oxente'
Frank Menezes, a primeira Pandora, credita a "A Bofetada" o reconhecimento nacional. "Tudo isso mudou minha vida completamente. Este é o espetáculo mais importante da minha carreira, incluindo meus trabalhos em audiovisual. Com humor despretensioso, tem fôlego para continuar por muito tempo. É muito bom rir sem culpa", acredita Frank.
E, claro, tem o enorme séquito de admiradores. Alexandre Fateicha, 23, fã confesso, conta que já assistiu ao espetáculo oito vezes e com mais de um elenco. "Foi a primeira peça de teatro que vi e me apaixonei. Acredito que a permanência em cartaz é em função de eles terem trazido o besteirol para o teatro baiano em uma época em que só se encenava drama. Esse grupo atual é maravilhoso – e é claro que estarei na estreia", conta, entusiasmado.
Quem não se lembra dos bordões "é a minha cara", "momento lindo, maravilhoso", "adoro" e "oxente", eternizados pela trupe de Lelo?
Pois é, eles estão de novo em cartaz, e se você é daquelas raras pessoas que ainda não viram "A Bofetada", aproveite. A diversão não só é garantida como recomendável.
Bom espetáculo, parabéns e "merda" para todo o elenco!
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