CULTURA
André Dias versa sobre o luto por sua mãe em álbum duplo
Artista tem passagem por diversas bandas
Por Gláucia Campos*
O cantor, compositor e multi-instrumentista André Dias (ex-membro de bandas como ExoEsqueleto e Declinium), lançou, na última sexta-feira (29), seu segundo álbum solo, Canções Urgentes Sobre Assuntos Perenes. Com uma sonoridade marcada por violões, guitarras e sintetizadores, a obra é dividida em duas partes que reúnem 27 faixas e aborda temas como amor e luto. A obra foi composta entre 2022 e 2023, após André decidir transformar em música as dores e as memórias deixadas pela perda de sua mãe.
Produzido pelo conceituado André T, o álbum é uma jornada sonora que mistura experimentação e intimidade. Nas palavras do artista, “foi como um processo terapêutico, algo que começou de maneira despretensiosa, mas tomou forma rapidamente, com composições que pareciam emergir do inconsciente”.
Para o álbum novo, o cantor também planeja uma série de apresentações intimistas, começando por Salvador. Dois shows já estão confirmados: um amanhã, às 20h, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, e outro no Espaço Xisto Bahia, em 18 de janeiro.
Os espetáculos contarão com um formato reduzido, com André acompanhado por dois músicos. “Quero criar um ambiente que reflita a essência do álbum, algo próximo, emocional, onde eu possa compartilhar essas músicas de forma mais direta com o público. Adaptamos os arranjos para o formato ao vivo, mas sem perder a profundidade e a intensidade das gravações. Vai ser uma experiência diferente, mas igualmente marcante”, afirma Dias.
As fases do luto
André comenta que a ideia do álbum surgiu logo após a retomada de suas apresentações ao vivo, no contexto pós-pandemia, e contou com o incentivo de André T. “Eu estava sem saber o que fazer, artisticamente falando. Não tinha planos definidos para novos projetos, até que meu produtor André T sugeriu que eu colocasse no papel o que estava sentindo. Ele sabia do meu luto e da confusão emocional que eu vivia naquele momento”, relembra o artista.
Canções Urgentes Sobre Assuntos Perenes é um álbum denso e emocional com teor autobiográfico que aborda a perda do cantor. A obra foi estruturada de forma a trazer diferentes aspectos do luto: desde a dor inicial da perda, passando pela saudade e pelos questionamentos existenciais, até chegar à aceitação e à celebração das memórias. Segundo André, ao construir as canções, ele não pensou exatamente em seguir esse roteiro, foi algo que começou a se materializar na medida em que transformava seus sentimentos em música.
“Acho que foi minha terapia, foi a forma de aceitar e entender que são os processos naturais da vida mesmo, a música sempre foi essa válvula de escape para mim. Se você ouvir o disco na sequência das 27 músicas, você vai acompanhar de fato as fases do luto: primeiro aquela tristeza de você não entender, depois de um tempo começa a aceitação e a tristeza vai diminuindo e dando espaço para as boas recordações. Não pensei em fazer essa linha, mas acabou se tornando”, explicou.
Uma jornada emocional
O disco é dividido em duas partes, cada uma delas reflete uma etapa do luto, em uma narrativa emocional. O título também reflete esse percurso. Originalmente, seria chamado apenas de Canções Urgentes, uma referência à rapidez com que as músicas foram compostas. “Em menos de um ano, já tínhamos quase todas as faixas prontas. Era como se elas estivessem ‘surgindo’ dentro de mim, precisando ser colocadas para fora”, diz. No entanto, André decidiu adicionar o subtítulo Sobre Assuntos Perenes para refletir a natureza atemporal dos temas abordados.
Entre as músicas que compõem o álbum, para o cantor, algumas se destacam por sua carga emocional. É o caso de Pétalas, inspirada em uma brincadeira de infância que André fazia com sua mãe. “Ela adorava arrancar pétalas de flores e brincar de ‘bem-me-quer, mal-me-quer’ comigo. Essa memória voltou com muita força durante o processo de composição, e a música é quase uma homenagem a essa lembrança”, conta.
Outras faixas, como Pueril, exploram a relação de André com sua família. A música conta com a participação de seus irmãos, que não são músicos, mas aceitaram o convite para gravar vocais. “Essa foi uma das experiências mais emocionantes do álbum. Nós três passamos pela perda da nossa mãe juntos, e tê-los comigo nessa faixa foi uma forma de eternizar esse laço”.
As faixas também são marcadas por arranjos entre o acústico e o eletrônico, além de trazer participações de músicos renomados, como Joatan Nascimento (trompete), Cadinho Almeida (baixo), Guimo Migoya (bateria), Gigito (banjo), Heverton Diodé (percussão), Karen Silva (violino) e Kiko Souza (sax).
Impacto e desejo
Musicalmente, Canções Urgentes Sobre Assuntos Perenes é um trabalho diferente dos anteriores na carreira de André Dias. O disco traz algumas experimentações como o uso de teclados e sintetizadores, instrumentos que André começou a aprender durante a pandemia. “Sempre fui mais ligado ao violão e à guitarra, mas, com o isolamento, decidi me aventurar em algo novo. Isso acabou influenciando muito o som do álbum. Esse disco acho que é um amadurecimento como compositor e como instrumentista, porque além do violão, eu toco outros instrumentos”, conta.
Entre uma das principais influências citadas pelo artista está Thom Yorke, vocalista da banda britânica de rock alternativo, Radiohead. Para ele, o maior legado do álbum é pessoal: “Esse álbum foi uma jornada de autoconhecimento. Ele me ajudou a lidar com minha dor e a encontrar um novo propósito como artista. Mais do que qualquer reconhecimento externo, ele já tem um significado imenso para mim”.
No entanto, o artista também espera que o disco tenha um impacto positivo no público: “Eu acredito que a música tem um poder terapêutico, de tocar as pessoas e trazer à tona sentimentos que às vezes ficam reprimidos. Se esse álbum conseguir gerar algum tipo de reflexão ou conforto para quem o ouvir, já terá cumprido seu papel”.
Canções Urgentes Sobre Assuntos Perenes, de André Dias / Show de lançamento: amanhã, 20h / Sala do Coro do Teatro Castro Alves / R$ 20 e R$ 10 / Vendas: Sympla / Classificação Indicativa: Livre
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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