CULTURA
Andrea Rabelo volta em peça solo no Teatro Sesi-Rio Vermelho
Espetáculo estreia nesta sexta e segue em cartaz até o dia 20 deste mês
Por Elis Freire*
“Os aviamentos da vida são os elementos que constroem a nossa forma de ser no mundo. É uma metáfora é sobre a gente costurar a nossa vida encontrando nossa medida”, afirmou Andrea Rabelo, atriz baiana que estreia hoje, às 20h, a segunda temporada do seu primeiro espetáculo solo.
Com texto de Gildon Oliveira e direção de Jacyan Castilho, Aviamentos ficará em cartaz no Teatro Sesi Rio Vermelho até 20 de maio, com sessões às sextas-feiras, sábados e domingos, sempre às 20h.
A partir de uma personagem costureira, o solo aborda temas sensíveis que atravessam a vida de cada um dos espectadores. “Todo mundo se reconhece ali, ou reconhece uma mãe, uma tia, uma avó, alguém que costura”, afirmou a atriz. “O texto busca que pessoas possam conseguir se identificar com o que está sendo narrado e fazer uma negociação com suas próprias memórias, lembranças, emoções em relação à família, relacionamentos, contextos de vida”, completou o dramaturgo Gildon Oliveira.
A metáfora da costura como um entrelaçamento de memórias é reforçada ao longo do espetáculo, em um jornada de mergulho da personagem em si própria. “Fizemos muitas metáforas visuais e corporais com as ações da costura: alinhavar ideias, juntar os retalhos, catar no baú de memórias os botões, os aviamentos. Com um alfinete bem delicado a gente vai cutucando as memórias desse espectador através das memórias dessa personagem”, explicou Jacyan Castilho.
Andrea Rabelo, integrante do Grupo Via Palco e da Cia Buffa de Teatro, tinha o desejo de interpretar um monólogo. A vontade foi alimentada durante anos em trocas de experiências, recordações e relatos de vida, junto ao seu amigo e dramaturgo Gildon. “Foi um processo de muita parceria. Eu sempre crio uma metodologia para cada uma das pessoas. No caso de Andrea, tinha essa questão delicada de trabalhar com algumas memórias dela. Não se trata de autobiografia, mas de memórias a serviço da dramaturgia”, diz Gildon.
Costurando ideias
O espetáculo solo trataria de início sobre luto e morte, diante da recente perda da mãe da atriz, porém o tema da costura ganhou significado para ambos. Em homenagem à mãe de Andrea, que era costureira e junto ao interesse de Gildon de retratar a profissão, a peça começou a ser escrita em 2020. “Abriu um universo pra gente poder explorar essa ideia da costura, esse ofício de costurar, alinhavar coisas. Isso foi surpreendente porque foi trazendo memórias dela que ao mesmo tempo, se tornam memórias universais, porque falam muito de lugares emotivos”, explicou o dramaturgo.
Com ensaios virtuais durante a pandemia da Covid-19, o desafio foi ainda maior. Jacyan Carvalho, professora e pesquisadora de artes cênicas carioca, dirigiu a atriz à distância. “Montar o espetáculo à distância precisou de uma grande dose de paciência com as falhas da tecnologia, mas também inaugurou, durante a pandemia, uma forma diferente de ensaiar. A cada encontro ela me apresentava uma ideia, uma improvisação, uma partitura corporal, um exercício, ou então trazia um objeto pessoal dela, uma recordação. Assim, montamos cada pedacinho da peça, nessa parceria à distância”, contou Jacyan.
O trabalho corporal e o ritmo do espetáculo são pontos marcantes de Aviamentos. A atriz – com vivência no circo e na palhaçaria – e a diretora – com estudos no Ritmo e Movimento nas Artes Cênicas – brincam com o tempo da peça, criando uma atmosfera de significados para o espectador.
“O espetáculo tem uma musicalidade implícita, mesmo que ele não tenha música: nas acelerações, nas desacelerações, nas pausas, na monotonia, na quebra da regularidade. Tudo isso está pensado na composição da cena”, afirmou a diretora.
Seja no ambiente repleto de objetos de um atelier de costura, seja nas metáforas visuais, o público é convidado a mergulhar na vida simples de uma costureira que ganha complexidade, com questões existenciais e sociais.
“Onde é que eu caibo? A gente toma coragem para ficar no lugar onde realmente a gente se sente confortável? São muitas imposições sociais que tentam nos mudar. Então os aviamentos, eles vêm no sentido da gente encontrar nesses objetos modos de ser a gente mesmo. Encontrar nossa medida naquilo que nos faz melhor e que nos motiva a existir da forma que a gente acredita”, disse Andreia.
No mês das mães, Aviamentos homenageia às mulheres, em uma rede de identificação feminina. “A peça tem um olhar muito feminino. A gente se reconhece na nossa vida nesse lugar da costureira, que é a conselheira da família, mesmo que seja um lugar em que somos colocadas socialmente. Nós mulheres temos geralmente uma rede de suporte. A gente costura e remenda a vida uma da outra“, completou a atriz.
A nova temporada da peça vem como um presente de Dia das Mães à mãe de Andrea e às mulheres costureiras. “Cada dia que eu faço é uma homenagem a ela. Eu me lembro de estar sentada no chão, ao lado da máquina de costura, enquanto ela costurava”, afirmou.
A memória de Andrea junto a mãe se entrelaça com a memória de outras mulheres, costurada pela personagem em cena.
Os ingressos estão disponíveis na bilheteria do teatro ou pela plataforma Sympla.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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