LITERATURA
Biomédica baiana relata em livro como conseguiu superar depressão via escrita
Para a escritora, a criação da obra foi libertador
Por Gláucia Campos*
Em 2023, Tereza Gabriele vivia uma situação de saúde delicada. Diagnosticada com depressão, enfrentava problemas como insônia, perda de apetite e outros mais. Em meio ao seu tratamento, ela encontrou na escrita uma aliada para traduzir sentimentos, sonhos e criar um futuro esperançoso. Foi assim que surgiu o livro paradidático Diário dos Sonhos, lançado em dezembro último.
Para a escritora, a criação da obra foi libertador: “O processo de escrita foi bem instintivo. Coloquei no papel tudo o que estava sentindo, todas as minhas dores, e a cada sessão de terapia, ao reler minhas próprias palavras, percebia uma imensa vontade de superar tudo o que estava passando. Descobri uma força dentro de mim que antes não percebia. Com o tempo, conforme fui desenvolvendo ainda mais a escrita, senti como se estivesse me libertando de um peso das minhas costas”, contou.
O livro tem o objetivo de incentivar meninas e mulheres que enfrentam transtornos psíquicos, sociais e de qualquer natureza a – a exemplo de Tereza –, se permitirem sonhar e idealizar um propósito de vida. Para isso, o livro compartilha reflexões sobre sonhos, resiliência e fé, nos quais a autora propõe atividades práticas e histórias inspiradoras de grandes mulheres, criando uma experiência interativa. Além do livro, Mulheres que Sonham é um projeto, e tenta ampliar esses objetivos por meio de ações socioeducacionais em escolas públicas.
“Conversava sobre isso com minha terapeuta e, em determinado momento, percebi que já havia escrito muito. Também já tinha pesquisado sobre histórias de outras mulheres, que trago no livro. Essas mulheres tiveram participação essencial na construção de várias sociedades e deixaram exemplos notáveis. Quando vi a força dessas histórias, percebi que poderia fazer disso algo para minha própria vida e ajudar outras meninas. Talvez, ao lerem minhas palavras, elas também consigam enxergar uma luz para se reerguer”, comenta Tereza.
Projeto Socioeducacional
Biomédica por formação, Tereza Gabriele tem uma trajetória profissional um pouco distante da escrita. Porém, ela comentou que foi através da sua atuação na área da saúde que aprendeu a importância de pensar a saúde de forma integrada, levando em conta a situação de vida de cada pessoa. “Minha trajetória acadêmica sempre foi muito voltada para a pesquisa científica. Trabalhei em laboratórios e também atuei na vigilância epidemiológica. Como profissional da área da saúde, aprendi a escutar os pacientes e a analisar dados que vão além de letras e números. Aprendi a prestar atenção aos sinais do corpo, compreendendo que nossa saúde é um reflexo de diversos fatores, compreendi melhor nossa essência e como corpo, mente e espírito estão interligados”, diz.
A escritora conta que durante o período em que esteve vinculada à vigilância epidemiológica da sua cidade natal, São Francisco do Conde, teve a chance de coordenar e fundar o projeto “Pequeno Cientista”. “Nesse projeto, propus visitas técnicas e palestras para crianças e adolescentes. A experiência dos adolescentes com a prática faz com que começassem a questionar e imaginar um mundo diferente”, relembra.
O projeto foi importante para que Tereza pudesse, mais tarde, desenvolver o projeto socioeducacional Diário dos Sonhos. Embora ainda esteja engatinhando, a autora tem grandes planos e espera poder levar os debates para escolas em diferentes municípios.
“Escrevi o livro no final do ano passado e estou levando a proposta para alguns municípios da região. Espero receber uma resposta positiva dos líderes municipais para que o projeto seja implementado”, explica.
Transformações sociais
Para a autora, um dos principais meios de transformação social é por meio da educação e da cultura. Por isso ela considera importante que seu livro e o projeto tenham algum impacto significativo na vida das leitoras. “Acredito muito no poder da educação e da cultura, independentemente da origem e história de vida de cada pessoa. Somos todos capazes, e nós, mulheres, podemos nos remodelar e oferecer nossa bagagem para a melhoria da sociedade”.
“Uma menina que cresce em um bairro sem estrutura, estudando em uma escola pública precária, enfrentando pobreza menstrual e dificuldades de alimentação, muitas vezes pensa que o lugar de uma doutoranda ou professora universitária não é para ela. Mas quero que elas saibam que esses lugares também são delas e que elas podem conquistar seus espaços”, afirma.
Pensando nisso, Tereza explicou que o projeto promove rodas de conversa entre mulheres de diferentes gerações. "Quando estamos em uma roda de conversa, ouvindo outras mulheres e suas histórias de vida, ganhamos coragem para abordar questões que nos machucam", afirma a autora. Segundo ela, esses encontros permitem que temas transgeracionais, como identidade e conflitos familiares, sejam discutidos de forma aberta.
A iniciativa prevê ainda encaminhamentos para atendimento psicológico e cursos nos municípios onde for implementada, criando oportunidades para que uma nova geração de meninas e mulheres possa superar desafios e transformar suas realidades.
Os planos da escritora para o futuro incluem a continuidade da sua escrita, com a publicação de um novo livro, previsto para sair entre o final de 2026 e o início de 2027. Além disso, ela pretende aprofundar reflexões sobre transtornos mentais, que, apesar das campanhas de conscientização, ainda são cercados por estigma e preconceito. "Ainda temos muito a aprender sobre como nos tratar e nos enxergar como indivíduos", ressalta.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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