CULTURA
Caixa Cultural reabre com mostra De Passagem, de Alice Ramos
Por Eduarda Uzêda
Em 2007, a fotógrafa baiana Alice Ramos andava meio desiludida com os relacionamentos afetivos. Ao se consultar com a taróloga amiga Isolda Cavalcante (infelizmente já falecida), ficou sabendo através da revolução solar do seu mapa astral que encontraria o seu grande amor no exterior. E isto aconteceu no Panamá, país da América Central.
Como já tinha feitos outras viagens por sugestão da amiga – Isolda sempre acertava nas indicações –, Alice, que sempre gostou de desafios, foi ao Panamá.
Lá encontrou o belga Pierre Schobbems, um professor universitário que visitava faculdades de vários países para realizar programas de intercâmbio.
A paixão foi instantânea e os dois não se desgrudaram mais. Ela então resolveu acompanhá-lo na visita a nove países: Panamá, Tailândia, Itália, Holanda, Inglaterra, França, Espanha, Bélgica e Brasil.
Até então fotógrafa essencialmente de estúdio, Alice foi às ruas mundo afora para “clicar as manifestações culturais do cotidiano” – e adorou a experiência.
Parte deste material fotográfico de grande beleza e repleto de cenas prosaicas pode ser conferida na exposição De Passagem, que está em cartaz na Caixa Cultural Salvador até 17 de outubro.
As visitas acontecem de terça a domingo, das 10h às 18h, seguindo todas as recomendações e regras do protocolo de prevenção, como o uso obrigatório de máscaras, distanciamento e público reduzido.
São aproximadamente 30 fotos feitas em quatro anos de andanças e de momentos que marcaram o começo de um amor que hoje já dura 14 anos de convivência e 11 anos de casamento. A série de imagens refletem instantes, encontros, paisagens, pessoas, cores e texturas, observadas por um ângulo sensível e inovador.
Curadoria
A exposição tem curadoria do artista visual e crítico de arte Justino Marinho, e traz cliques intimistas.
“A minha intenção não era fazer uma exposição, era registrar as diversas culturas de modo despretensioso, mas acabou rendendo um livro, lançado em 2011 e uma exposição em na Caixa Cultural Salvador em 2013”, destaca a artista via WhatsApp de Bruxelas, na Bélgica, onde se estabeleceu com o marido e o filho Gui, de nove anos.
A profissional reconhecida pelo talento descobriu prazer em registrar também o espontâneo e o imprevisto. "No Brasil eu fotografava em estúdio, tinha controle da luz, de tudo. Descobri o desafio de perder o controle e lidar com o inesperado”, afirma.
“Esta exposição de fotografias é um romance. O começo de um amor que foi envolvido por imagens. Não sei o que veio primeiro, mas, em segundos, eu não era mais eu, e eu não estava mais aqui. Tinha partido e, a cada nova parada, uma pausa pra amar, observar um mundo novo e rechear mais um cartão de memórias”, relata Alice.
Justino Marinho, que também fez a curadoria da primeira exposição De Passagem, na Caixa, pontua que "Alice é uma excelente fotógrafa, premiada em eventos reconhecidos de nível nacional, presente em coleções importantes, com exposições bem-sucedidas. Ela tem a facilidade de captar momentos que vão despertar no espectador variadas emoções”.
“Esta exposição revela uma fotógrafa capaz, disposta a experimentar outros voos, além daquele que dominava, o estúdio. O gosto de extrair do fundo branco um universo de expressões sob o pleno controle de risos, luz e atmosfera cede lugar a outro comportamento. As pessoas fotografadas não obedecem mais à sua direção e as paisagens não se submetem à sua arrumação”, destaca Justino no catálogo.
As fotos
Entre as fotos, as famosas mulheres (e crianças) girafas da Tailândia (2009). Muito famosas por seus colos alongados, elas usam vários anéis de bronze ao redor de seus pescoços, antebraços e canelas, geralmente trabalhados em artesanato de cores vibrantes.
Na Itália, as velas da Catedral de Milão (o Duomo di Milano) remetem à religiosidade e fé. No dia a dia deste país, a fotógrafa, entretanto clicou uma foto no mínimo curiosa: um engarrafamento de gôndolas em Veneza, na Itália.
Em Amsterdã, na Holanda, Alice traz tanto um estacionamento central repleto de bicicletas, quanto a famosa e alegre Parada Gay local, quando os canais da cidade são invadidos por centenas de barcos temáticos, com DJs a bordo e música eletrônica altíssima.
A beleza das florestas belgas (2010) não passou incólume às lentes de Alice, bem como o verdes dos parques de Londres, na Inglaterra.
Mas com certeza os mercados flutuantes de embarcações na Tailândia, com a diversidade de frutas e a culinária local – quase tudo é frito por causa da precária condição sanitária – chamam bastante atenção.
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