CULTURA
Cores e devoção: tradição dos tapetes de Corpus Christi se mantém viva em Salvador
Por Por Bianca Carneiro*

Ano após ano, no dia da solenidade de Corpus Christi, os chãos das mais de 350 igrejas católicas espalhadas pela cidade de Salvador e de outras milhares por todo o Brasil, se enfeitam. São os tradicionais tapetes de Corpus Christi, confeccionados voluntariamente pelos fiéis.
Na produção, materiais como régua, giz e papelão, delimitam os espaços dos desenhos. Pó de serra, café em pó, tinta guache, flores, glitter, sal grosso, farinha de trigo, anilina e casca de ovo, dão o toque final preenchendo e formando as imagens dos tapetes. Assim, objetos e imagens sacras ganham vida com o colorido dos materiais.
Mistura de fé e arte
Os tapetes de Corpus Christi constituem uma espécie de homenagem a simbologia do sacramento da eucaristia. Logo, diversos ícones que fazem ligação com o tema como o cálice, a hóstia, o pão, o vinho e a figura de Nossa Senhora, são representados nas imagens pintadas. A passagem pelo tapete tem também carrega um significado especial. Os fiéis só podem pisar neles após a passagem do padre, portador da hóstia, que representa o corpo de Cristo.

Nas igrejas, grupos com pessoas de diferentes faixas etárias se reúnem para construir os tapetes e escolher as imagens que serão representadas. “É um trabalho que geralmente dura em torno de 4 a 5 horas, explica a Pastoral da Comunicação da Paróquia São Francisco de Assis, no bairro de Saramandaia. Este é o segundo ano de confecção da equipe, que conta com cerca de 20 pessoas.
Na Paróquia do Divino Espírito Santo localizada na Região Metropolitana de Salvador, em Vilas de Abrantes, crianças, adultos e idosos formam um verdadeiro mutirão no chão da igreja. Católica desde criança, a estudante Geisa Dias de 23 anos, saiu correndo do curso que faz toda noite para ajudar, e conta que considera a produção muito importante não só para a festa, como também para os fiéis. “Acho que fazer os tapetes é uma forma de fazer com que nós, como comunidade, vivamos um verdadeiro testemunho de comunhão e solidariedade” diz.

Segundo o bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Gilson Andrade, a confecção dos tapetes é uma expressão de gratidão do povo pela figura de Jesus. “No ínicio, o que se fazia era recolher flores, folhas e colocar para a passagem de Jesus, recordando aquela entrada triunfal em Jerusalém, quando no burrinho, o povo estendia seus mantos para que ele passasse. É uma forma de dizer também, Jesus passa na nossa frente, embeleza a nossa vida, traz a tua alegria”, explica.
“Para a minha fé, os tapetes são uma pequena homenagem a esse Deus que se doa no sacramento para dar e gerar vida. conta a estudante de fisioterapia de 23 anos, Laís Machado. Ela e mais cerca de 10 jovens da Pastoral da Comunicação da igreja matriz do bairro de São Cristóvão produzem a 3 anos os tapetes decorados. “A união do jovens da nossa pastoral resgatou mais uma vez essa tradição, onde todos, por gratidão, contribuem de alguma forma”, afirma, em meio ao grupo que chegou bem cedo para decorar a igreja antes da procissão começar. São esperadas mais de 300 pessoas na celebração que ocorrerá à noite.
Salvador, berço brasileiro da solenidade de Corpus Christi
Segundo a tradição da igreja católica, a solenidade Corpus Christi, quem em latim significa “Corpo de Cristo”, começou a ser comemorada no ano de 1269, e decorreu da visão de uma freira belga, na qual Jesus Cristo pedia-lhe que o sacramento da eucaristia fosse homenageado. Salvador foi a primeira cidade do Brasil a promover a celebração no ano de 1549.
De acordo com o calendário litúrgico, a festa acontece sempre 60 dias após a páscoa, na quinta-feira seguinte à festa da Santíssima Trindade e é uma alusão à quinta-feira santa, quando a Igreja diz ter originado a instituição da eucaristia, através da última ceia de Jesus e seus apóstolos.
Não se sabe ao certo quando começou a tradição de se confeccionar os tapetes, mas ela é posterior à criação da festa. Para o Padre Paulo Roberto Reis, da Arquidiocese de Salvador, a tradição de confeccionar os tapetes também é uma forma de compreender a importância da eucaristia. “Através da arte, os tapetes trazem para perto de nós, os símbolos que expressam o significado e a relevância da eucaristia para a vida do cristão. Assim sendo, por meio dessa manifestação artística, transmite-se a fé no Cristo ressuscitado presente de modo sublime e real neste sacramento”, afirma.

*Sob supervisão da editora Maiara Lopes
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