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Adrianne Gallinari abre mostra na galeria Roberto Alban

Artista mineira conta que seu fluxo e trânsito entre desenho e pintura é um movimento natural

Publicado quinta-feira, 24 de março de 2022 às 06:02 h | Autor: João Gabriel Veiga*
Adriane: “É como se o desenho você pudesse ler como pintura e vice-versa”
Adriane: “É como se o desenho você pudesse ler como pintura e vice-versa” -

A linha tênue entre pintura e desenho é o tema da nova exposição da artista Adrianne Gallinari, com abertura marcada para esta quinta-feira, 24, na galeria Roberto Alban, em Ondina. A mostra desenho+pintura traz vinte e oito obras da mineira para a capital baiana, incluindo um painel em grande escala realizado em 2018.

Gallinari conta que seu fluxo e trânsito entre essas duas modalidades é um movimento natural. “No meu trajeto, é constante o desenho e a pintura. Tem períodos que eu desenho mais, tem outros que eu uso mais a pintura como linguagem, mas os dois processos caminham juntos. É mais uma questão de proposta. Tem momentos que a linguagem do desenho está mais próxima porque eu trabalho também com ilustração, com animação, então se torna algo mais recorrente. Mas os dois processos andam juntos”, diz.

Para ela, são duas linguagens que se complementam, e o que difere uma da outra não está entre suas maiores questões, mas em que aspectos elas dialogam. “Sempre tem esse discurso do que é pintura e o que é desenho. Às vezes o desenho permite usar materiais com certa facilidade. Eu posso desenhar com lápis dentro da linguagem do desenho tradicional. A pintura tem uma dedicação maior com a questão das cores, mas eu posso também utilizar cores no desenho. Mas se você olhar pelo ponto de vista do pincel, pode dizer que está desenhando com pinceladas na pintura”, reflete.

“Talvez seja o suporte. Quando você usa a tela, naturalmente aproxima-se dessa leitura de pintura, mas você pode desenhar sobre tela. O acrílico sobre tela as pessoas leem como pintura. Quanto tem essa questão mais pictórica de cores, de associação de coisas, a gente pode ler como pintura, enquanto quando há elementos mais gráficos, costumam ser lidos como desenhos”, explica.

Formada pela renomada Escola Guignard, em Belo Horizonte, Adrianne pensa que talvez a distinção seja, quem sabe, uma questão mais burocrática ou de intenção autoral: “talvez isso seja mais uma questão de decisão, de escolha, de uma ação sobre pintar e desenhar. Geralmente quando me perguntam se eu desenho ou pinto mais, eu não consigo ver esse distanciamento entre uma linguagem em outra”.

“Nesta exposição, eu vejo na montagem que as duas linguagens dialogam muito próximas uma da outra. É como se o desenho você pudesse ler como pintura, e a pintura como desenho. Elas estão juntas na minha linguagem”, declara Gallinari.

Formas geométricas

Em suas obras, há inúmeras referências à arquitetura e geometria, algo que Adrianne atribui a observar espaços arquitetônicos. “Essas geometrias acontecem no gesto. Por exemplo, o desenho de grande formato que está na exposição é realizado por repetições de traços, de imagens e de linhas. Essas linhas vão se organizando e criando essas formas geométricas quase que com certa perspectiva e profundidade, elas se organizam no fazer. Em uma leitura geral, elas dão a entender certa abstração. Talvez essa questão da geometria esteja pontuando o desenho, direcionando o olhar”, pondera.

Essas características geram um misto de realismo com abstrato nas paisagens que, muitas vezes, vêm da memória da artista. “As imagens que são criadas por situações imaginárias, memórias, observação, e principalmente de tentar perceber essas sensibilidades do observar. De onde vem essas imagens? De um processo de anos de pesquisa sobre as linguagens visuais. Eu vejo essa expressão como um processo de trabalho, de ateliê, de pesquisa, de meditação, estudos, vivências sobre meu trabalho”, diz.

O processo de montagem da exposição foi um trabalho de equipe, conta Adrianne. “A gente pensa na expografia, a questão espacial. A galeria é um espaço amplo, permite que você explore o espaço pelo pé direito, as dimensões das paredes. Isso foi feito com o pessoal da Alban, os curadores da exposição. Conversei bastante com Aguinaldo Farias e Victor Gorgulho sobre a proposta da exposição. É uma mostra que a gente vem sendo trabalhada entre conversas”, elucida.

“Acho que todos os trabalhos que estão nesta exposição têm um diálogo entre o que é desenho e o que é pintura. Essa seleção foi feita ao decorrer do meu período de pesquisa. A curadoria foi baseada no quanto que as obras dialogam entre si dentro do espaço. Um desenho permite que se observe o outro. Em distanciamento, permite que eu veja um detalhe de outro, que se completa na observação com o desenho de grande formato que está ao fundo na maior parede… Eles dialogam pela linha, pela textura, pela trama, pela temática. Essa seleção foi decidida pelo diálogo, o material usado, do giz de cera ao nanquim, tinta acrílica… Tudo que é essa mistura das linguagens”, conclui.


 

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*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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