EXPOSIÇÃO
Intercâmbio de grafiteiros promove intervenção em Salvador
Por Thalita Lima

"Quando a gente fala de arte pública e arte urbana, sempre me faço a pergunta: a rua é de todos ou a rua é de ninguém?" Essa é a questão que o grafiteiro Tárcio Vasconcelos traz ao falar sobre o projeto Grande Área, que promove o intercâmbio entre artistas nordestinos em Salvador para uma intervenção no muro do Sesc Aquidabã, de amanhã a sábado.
Organizado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), a proposta reunirá os grafiteiros baianos Samuca Santos e Tárcio Vasconcelos, o coletivo Acidum, de Fortaleza (CE), e Derlon Almeida, de Recife (PE).
Esses artistas serão responsáveis pela ação nomeada como "a arte pública com expressões do grafite nordestino". A arte pública, como explica Tárcio, está relacionada à ideia de que o grafite está acessível a todos, não somente para quem pode frequentar grandes galerias.
Já a noção do grafite nordestino é muito mais uma demarcação do território, de onde estão esses artistas e o que eles produzem. A ideia não é trazer elementos que folclorizem a cultura regional, mas mostrar as relações do processo criativo de cada um.
"Não é porque a gente é nordestino que tem que fazer um sanfoneiro, ou porque a gente é baiano que tem que fazer um acarajé na parede", diz Tárcio.
Além de Salvador, o Grande Área leva as artes visuais, com instalações, exposições e performances, para as cidades-sede da Copa em Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Pernambuco.
Encontro
Para Samuca Santos, a curadoria uniu trabalhos que dialogam entre si. Sua obra traz relação com a de Tárcio e com o coletivo cearense Acidum, formado pelos artistas Robézio e Tereza.
Robézio conta que o coletivo tem um caráter experimental muito forte e traz elementos de um geração bem urbana. A dupla já realizou trabalhos com o recifense Derlon Azevedo, cujo estilo é marcado pela estética da xilogravura.
"Fui desenvolvendo minha pesquisa de identidade, conhecendo outros artistas que vinham do grafite e faziam um trabalho com outras influências além da urbana", diz Derlon.
A pintura começa pela intervenção dos baianos Samuca e Tárcio, seguido do pernambucano Derlon e, nessa ordem, da dupla Acidum. Eles grafitam juntos ou separadamente em momentos alternados.
O muro do Sesc Aquidabã, localizado em uma das avenidas que dá acesso ao P elourinho (Centro Histórico) foi o escolhido pela curadoria do projeto para a ação. "É um muro bacana porque tem uma relação muito forte com a cidade. Tambem é uma forma de chamar atenção para esse local através da arte", diz Samuca.
Nordeste
Apesar do forte marco dessa arte em São Paulo, especialmente pela figura dos Gêmeos (dupla de irmãos grafiteiros paulistas conhecidos internacionalmente), o grafite também tem história antiga na nossa região.
Tárcio explica que, em suas pesquisas, os primeiros registros do grafite está na Serra da Capivara (Piauí) e na Serra das Paridas, na Chapada Diamantina. Ambos no Nordeste.
Para ele, estas origens fazem lembrar que o grafite vai além de referências externas e parte de um princípio de resistência e de expressão de um universo próprio de cada artista.
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