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LITERATURA

Camille Paglia desiste de livro sobre Daniela Mercury

Por Verena Paranhos

25/10/2014 - 10:36 h
Camille Paglia
Camille Paglia -

Em meio à vertigem causada por uma profusão de imagens, a sociedade contemporânea pode reencontrar o foco perdido na contemplação da arte. É isto que a norte-americana Camille Paglia, 67, defende em seu sexto livro, Imagens Cintilantes. Em 29 textos curtos e objetivos, a professora de Humanidades e Estudos de Mídia da Universidade de Artes da Filadélfia (EUA) busca atingir o grande público, em uma viagem que começa no Egito e termina em Star Wars, passando por nomes como Ticiano, Bronzino, Van Dyck, Manet e Picasso. No novo trabalho, as análises de Camille Paglia surgem menos polêmicas, ao contrário das que lhe deram fama na década de 1990, principalmente as relacionadas a sexualidade, feminismo e ídolos pop como Madonna. Apesar disso, nesta entrevista concedida por e-mail, a escritora mostra que continua a mesma ao comentar sobre as mudanças vividas por Daniela Mercury, sobre quem planejava escrever um livro e hoje condena o comportamento. "Não haverá nenhum livro", diz. Confira a entrevista:

P - Imagens Cintilantes aproxima a história da arte de leitores que não estão acostumados ao tema. Quando esta questão começou a te preocupar como educadora?

Camille Paglia - Meu alarme sobre o retrocesso das belas artes na centralidade da cultura começou quando clipes musicais emergiram como o gênero dominante no meio dos anos 1980. Eu amava a MTV e estava animada com a chegada de Madonna, mas os videoclipes não descendiam da tradição de pintura da mesma maneira que os filmes tinham feito, particularmente os filmes europeus de arte, com suas primorosas cinematografias. Os filmes de hoje, imitando TV e clipes, são ainda mais distantes das grandes pinturas. A maioria dos jovens nunca viu uma imagem belamente projetada na tela de cinema. Isso é muito triste!

P - O que poderia aproximar o público da história da arte ocidental nos Estados Unidos e em países que enfrentam maiores desigualdades, como o Brasil?

CP - Apesar do livro se concentrar na história da arte ocidental, começando no Egito antigo, quero que a história da arte mundial seja ensinada às crianças em todos os níveis escolares. Por causa do pequeno crescimento econômico atual, há uma pressão cada vez maior para a formação prática de estudantes visando trabalhos futuros. Mas o desenvolvimento cultural dos jovens é uma necessidade espiritual urgente que não pode ser negligenciada. Como eu digo no livro, uma civilização sem arte perdeu sua alma.

P - Como você escolheu as 29 obras de arte que integram o livro?

CP - Tentei escrever um livro mais acessível e conciso possível. Cada obra representa um importante estilo artístico, mais do que uma escolha pessoal. Queria que o leitor sentisse a deslumbrante variedade e o rápido movimento em cascata da história da arte. Às vezes, como no caso da espetacular estátua de bronze O Auriga de Delfos ou do nu e musculoso Retrato de Andrea Doria como Netuno, de (Agnolo) Bronzino, escolhi obras famosas que estranhamente nunca tinham sido profundamente analisadas antes. Todo livro sobre literatura e arte é por definição seletivo. Até mesmo uma enciclopédia de 30 volumes é seletiva! Queria produzir um livro curto que se encaixasse confortavelmente e de forma convidativa na mão do leitor. Muitos livros de arte são inadequados, pedregulhos pesados somente para exibição pretensiosa em uma mesa de centro.

P - Em Imagens Cintilantes você afirma que a mídia é um dos fatores pelos quais as pessoas estão perdendo a capacidade de contemplação. Você acredita que este vilão e a tecnologia digital poderiam ser usados para aproximar jovens da arte?

CP - Estruturei o livro cuidadosamente de modo que os leitores possam ir à web para aprender mais sobre minhas referências a outra obra. Entretanto, embora a web seja maravilhosa como um vasto arquivo de informação, a fotografia digital não tem a qualidade ou a sutileza de pinturas a óleo. A cor digital é muito mais dura e brilhante, como a de desenhos em uma revista em quadrinhos. Formas digitais são muito bem definidas, têm excessiva claridade que obstrui nosso senso de profundidade. Livros são muito melhores do que a internet para estudar arte.

P - A Vingança do Sith, episódio III de Star Wars, de George Lucas, é provavelmente o item mais surpreendente da sua sequência histórica. Por que esta obra não é tão óbvia como arte para a maioria das pessoas?

CP - Eu procurei um forte trabalho da arte contemporânea para acabar meu livro, mas não encontrei nada tão poderoso quanto o grande clímax da Vingança do Sith, em que Anakin Skywalker e Obi-Wan Kenobi duelam com sabres de luz em um rio de lava no apocalíptico planeta vulcânico. Esta longa cena, que termina com o atormentado nascimento do robô Darth Vader, tem toda a paixão e visão que faltam ao mundo da arte de elite de hoje, com seu cinismo e materialismo. Muitos artistas e intelectuais hoje usam a máscara da moda como "cool" (legal). Mas A Vingança do Sith é ardentemente quente.

P - Você anunciou que seu próximo livro contaria a história de Daniela Mercury. Em que ponto está este projeto agora?

CP - O tópico do meu planejado livro era a criação do circuito de Carnaval da Barra na orla marítima por Daniela. Minha intenção era elevar a reputação artística dela entre intelectuais e jornalistas culturais de São Paulo e Rio. Entretanto, depois dos últimos 18 meses de constante exposição pública e Instagrams (fotos) de Daniela, esse objetivo é impossível. Não haverá nenhum livro.

P - Você acompanhou os movimentos que Daniela Mercury tem feito na vida pessoal, como revelar que é bissexual e casar com uma mulher?

CP - Tenho acompanhado todos os momentos deste drama, muito antes de ter explodido para a mídia. Tenho muitos amigos próximos, inclusive o ex-empresário de Daniela em Nova York e também o ex-marido dela, Marco Scabia, que adoro. A expressão perfeita da bissexualidade de Daniela foi a magnífica performance dela em Uma Noite e Meia, com Alinne Rosa, em 2008. Que beleza, elegância e graça! Mas a delicadeza e o refinamento da comunicação desapareceram, porque agora a arte não é o foco primário para Daniela.

P - Daniela também está desenvolvendo um papel político?

CP - Há uma imensa necessidade por mais participação política de mulheres em todas as partes do mundo. Entretanto, mulheres ativistas devem se comportar com dignidade e disciplina e evitar aparições que confirmem velhos estereótipos e preconceitos sobre o narcisismo, a volatilidade e a frivolidade das mulheres. Além disso, demandas por justiça e ética na esfera pública devem ser apoiadas por justiça e ética na vida privada.

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