Diversidade atrai novos leitores para a Bienal do Livro, diz autora
Clara Alves é autora de livros que tratam de relacionamentos entre meninas e é uma das curadoras do evento

A Bienal do Livro do Rio de 2019 registrou uma das cenas mais marcantes das últimas edições. Na época, o então governador do Rio, Marcelo Crivella, havia defendido a censura à literatura LGBT e o Tribunal de Justiça autorizou o recolhimento de obras com esta temática. A decisão motivou um protesto realizado por centenas de pessoas, que gritaram palavras de ordem, ergueram bandeiras com as cores do arco-íris e promoveram um ‘beijaço’. O influencer Felipe Neto comprou e distribuiu 14 mil exemplares de livros LGBT, que também foram usados pelos manifestantes.
A escritora Clara Alves estava na edição de 2019. Na ocasião, ela lançava o livro ‘Conectadas’, uma história sobre o relacionamento entre duas adolescentes, que enfrentam conflitos relacionados à própria sexualidade.
“Aquilo foi muito emocionante pra mim, principalmente como autora recém-publicada, do meu primeiro livro LGBT. Era a primeira vez que eu estava falando abertamente sobre ser bissexual, e o movimento de pessoas nos corredores, gritando ‘não vai ter censura’, me marcou demais”, lembra ela.
Em 2021, Clara Alves voltou ao evento – que aconteceu em versão reduzida em função da pandemia – para falar sobre literatura LGBT, em uma mesa que contou com a participação do baiano Deko Lipe e dos também autores Juan Jullian, Pedro Rhuas e Felipe Cabral como mediador.

Agora, em 2023, além de fazer parte da programação, Clara Alves também é uma das curadoras do evento. Ela destaca a importância de poder trazer nomes representativos para conversarem e interagirem com os leitores.
“Poder participar ativamente da escolha das pessoas dentro da programação cultural está sendo muito realizador. Cada vez mais eu percebo como é importante a literatura jovem trazer essa diversidade para nossas histórias. Eu percebo isso recebendo mensagem de leitores, falando que nunca tinham sido representados e estão agora, nas minhas histórias. É muito triste perceber que, em 2023, ainda recebo estas mensagens. Mas também fico feliz de perceber que a literatura jovem faz este papel de trazer essa diversidade e fazer as pessoas vir para as bienais e lotar as sessões de autógrafos. A bienal é um lugar de mostrar o potencial da literatura em influenciar pessoas, então não tem como não trazer diversidade para ela”.
*A jornalista viajou a convite da Bienal do Livro Rio 2023