LITERATURA
Editora lança contos do escritor russo Anton Tchékhov
Por Eduarda Uzêda

"Uma jovem cadela ruiva - mistura de bassê e vira-lata - muito parecida de cara com uma raposa, corria de um lado a outro sobre a calçada e espiava inquieta para os lados. Parava de raro em raro e, chorando, erguendo ora uma, ora outra pata enregelada, esforçava-se por compreender: como pudera perder-se?"
Assim começa o conto Kaschtanka, do escritor russo Anton Tchékhov (1860-1904), um dos grandes da literatura universal e que era um verdadeiro mestre na capacidade de evocar imagens e descrever emoções.
Este conto demonstra bem esta habilidade do autor e dramaturgo, que exprimia, com rara beleza e sensibilidade, cenas da vida cotidiana. Ele integra a obra Kaschtanka e Outras Histórias de Tchékhov, recentemente lançada pelo selo Boa Companhia. Assinam a tradução Boris Schnaiderman e Tatiana Belink.
Humanidade
Nesta história especial, que é destaque na publicação, Tchékhov, um profundo observador da alma humana, transpõe para o pequeno animal - a narrativa é contada sob o ponto de vista da cadela perdida no gelo - toda uma gama de emoções: tristeza, alegria, saudades, etc.
A história da cadelinha que se perde do dono, um marceneiro que gosta de beber, tem o mérito de não descambar para o melodrama e mostra a sensibilidade do autor de "Tio Vânia", "As Três Irmãs", "A Gaivota" e "O Jardim das Cerejeiras", clássicos reconhecidos da dramaturgia mundial.
Sensibilidade que também está presente em outros seis contos da atual publicação, como "Vanka", "O Menino Malvado", "Brincadeira", "Ninharias da Vida", "Camaleão e Meninos".
Inocência e manipulação
Em Ninharias da Vida, por exemplo, o escritor russo confronta a inocência de uma criança e o poder de manipulação de um adulto de maneira exemplar. No conto, um homem que mantém um romance tedioso acaba descobrindo pelo relato de uma criança (filho da mulher com quem se relaciona) que ele não goza de bom conceito diante do pai do garoto e ex-marido da mulher.
Todo o relato do menino é induzido melifluamente pelo adulto, o que nos provoca reflexão sobre atitudes egoístas e traição da palavra dada. São apenas alguns exemplos da maestria de Tchékóv em se debruçar sobre a complexidade e contradições do homem.
Apresentação
Na apresentação do livro, intitulada Convite à leitura, que não está assinada, é destacada a capacidade de síntese do escritor russo.
"A procura pela economia verbal, que obriga o autor a cortar cada palavra supérflua para atingir um alto grau de condensação, além da forte presença do humanismo, são as principais características de seus textos..."
A ironia e a sátira também estão presentes na narrativa de Tchéckóv. isto é claro no conto Camaleão, que, como o nome indica, mostra a dubiedade de um inspetor de polícia diante de um fato que pode gerar problemas com os poderosos.
A publicação acerta quando diz que a obra é um convite para que o leitor se aproxime do universo ficcional de um dos maiores escritores russos de todos os tempos.
O estilo do escritor é envolvente e esta seleção demonstra que principalmente a nova geração deve se debruçar em escritura tão prazerosa.
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