Em livro, vidas e histórias das catadoras de recicláveis em Salvador

Após mergulhar nas histórias emocionantes e inspiradoras de mulheres que atuam como catadoras de materiais recicláveis em Salvador, a autora Laíze Lantyer Luz lança Catadoras de Luxo: Heróinas (In)visíveis. O livro tem um evento de lançamento oficial, nesta quinta-feira, 21, às 18h, na Livraria Leitura do Salvador Shopping.

Catadoras de Luxo: Heroínas (In)visíveis é um livro bilíngue que mergulha nas histórias das mulheres que atuam como catadoras de materiais recicláveis da capital baiana.

Por meio de suas páginas, Laíze Lantyer Luz apresenta um retrato profundo e vívido das vidas destas mulheres, explorando suas experiências, desafios e triunfos.

O livro busca não apenas dar visibilidade às suas histórias, mas também celebrar a resiliência e a força que elas demonstram diariamente.

O livro representa o fechamento de um ciclo do projeto Catadoras de Luxo: Heroínas (In)visíveis, uma maneira de deixar o legado do projeto registrado em livro, após a exposição fotográfica e documentário homônimos que também foram produzidos por Laíze. Projeto esse que surgiu durante a pesquisa de mestrado em Políticas Sociais e Cidadania que Luz faria.

“O projeto das Catadoras de Luxo é uma forma sensível de enxergar essas mulheres que vão sendo excluídas da sociedade, seja por sua condição socioeconômica, cor da pele ou atividade profissional. Pensei sobre o que poderia ser feito, para elevar a autoestima dessas pessoas e trazer maior visibilidade para elas”, explica Laíze.

“Então, surgiu o documentário e a exposição fotográfica, que conseguimos rodar em shoppings, museus, universidades e na rua, fazendo com que as pessoas pudessem conhecer mais sobre a categoria”, pontua.

Ninguém escolhe isso

Lantyer ressalta também que apesar das mulheres formarem maioria dentre os catadores de lixo, são as que mais sofrem com casos de negligência no trabalho. Essa situação, segundo a autora, pode servir como um ponto de discussão no livro e fora dele, sobre o papel da mulher no mercado de trabalho.

“Não é por acaso que mulheres se tornaram maioria na categoria de catadoras. Quando analisamos a parte considerável das catadoras, ela vai ser formada em sua maioria por mulheres de baixa escolaridade, com filhos, sem noção de trabalhos formais, sem ter o que fazer. A catação de materiais, seja autônoma ou em lixões, vai aparecer como uma opção mais viável pras mulheres. É muito difícil uma mulher conseguir trabalho em outras áreas, como na construção civil, por exemplo”, afirma a autora.

“Termina que elas se submetem a esse tipo de situação. Ninguém escolhe ser catador”, pontua.

Além de discutir sobre a questão das oportunidades de trabalho para mulheres, Laíze busca refletir sobre os impactos dos avanços tecnológicos e questiona o que ele pode representar em termos de precarização do trabalho e instabilidade para as mulheres no meio profissional.

“Por exemplo, uma das nossas catadoras retratadas é a Cristina, que foi professora de datilografia, mas com a máquina de escrever se tornando obsoleta, ela não teve o que fazer. Ela contou que só restou ser catadora. Quando escrevo sobre essa situação das mulheres negligenciadas, acaba sendo uma alegoria para falar sobre a mulher no mercado de trabalho como um todo”, explica.

“Não só na catação. A mulher ainda é negligenciada, ela não ocupa os lugares de poder como deveria estar. Na área de resíduos, mulheres escritoras, mulheres no mundo corporativo. É uma questão de invisibilidade das catadoras, mas é também essa alegoria para a obsolescência de todos nós no mercado de trabalho. A grande questão é que com ChatGPT, web 2.0 e outras ferramentas, nosso meio está cada vez mais em risco. Até que ponto nossas profissões estão seguras?”, questiona a autora.

Lançamento ‘Catadoras de Luxo: heroínas (in)visíveis’, de Laíze Lantyer Luz / Hoje, 18h / Livraria Leitura Salvador Shopping

* Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.