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LITERATURA

Escritor baiano Itamar Vieira é um dos convidados da Flip 2020: ‘Minha escrita é um trânsito’

Por Gisele Souza

30/11/2020 - 16:23 h | Atualizada em 21/01/2021 - 0:00
“Engraçado é que meu trabalho nunca foi reconhecido na Bahia, e sim, fora", diz Itamar | Foto: Divulgação | José Povoa
“Engraçado é que meu trabalho nunca foi reconhecido na Bahia, e sim, fora", diz Itamar | Foto: Divulgação | José Povoa -

O escritor baiano, Itamar Vieira Junior, é um dos autores convidados para a 18ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no qual irá acontecer entre 3 e 6 de dezembro, contudo, este ano em um formato diferente, por meio de uma edição virtual, em função da pandemia de Covid-19. “Aproveitem que não será preciso viajar a Paraty para participar da FLIP. Será possível assistir de onde você estiver”, convida o soteropolitano.

Itamar, que acumula importantes prêmios literários, afirma que durante seu processo de escrita busca prezar pelo que considera importante, ou seja, sem se obrigar puramente a escrever. “Eu escrevo quando convivi muito tempo com minhas personagens e as conheço para transformar essa convivência em narrativa. São personagens imaginadas, mas realizo um trabalho de atenção e observação para poder escrever sobre elas”, destaca.

Você sente a tecnologia como uma aliada no processo de escrita?

Sim, a tecnologia pode ser uma benção, mas também uma maldição. É preciso encontrar o equilíbrio. Assim como é uma excelente ferramenta de pesquisa, de intercâmbio, pode ser também uma distração.

Como você começou a se interessar pela leitura e escrita? Recebia muito apoio?

Não sei exatamente como começou, mas acredito que tenha sido na escola. Meus pais me incentivaram a ler, mesmo com os parcos recursos que tinham. Compravam quadrinhos, jornais, alguns poucos livros. Eu tinha um amigo de infância que estudava numa escola de classe média com biblioteca. Então, ele pegava livros de empréstimos, eu os lia e devolvia no dia seguinte. Ele sempre me trazia mais livros. Na adolescência passei a frequentar as bibliotecas públicas.

Como você avalia a transição da sua escrita ao longo do tempo? Sente que amadureceu como autor?

A minha escrita é um trânsito. Nunca amadureceu e espero que nunca amadureça. É preciso que tenhamos sempre no horizonte o desejo de ultrapassar as destinações que nos são dadas. Espero que sempre seja assim.

Tem algum projeto literário em mente para o futuro?

De imediato digo que Torto arado é parte de um projeto maior que trata da relação do homem com a terra.

Quais escritores brasileiros foram decisivos para a sua formação como escritor?

São muitos, certamente esquecerei de alguns: Machado de Assis Jorge Amado, Clarice Lispector, Lima Barreto, Raduan Nassar e Carolina Maria de Jesus.

Como você percebe a questão dos incentivos públicos na literatura?

Os incentivos públicos são fundamentais. Todos os países que priorizam a educação e as expressões artísticas os têm, porque a arte não é um produto a ser consumido. Ela se molda fora do sistema capitalista. Arte é fruição, conhecimento e expansão da experiência humana. Mas o artista precisa viver, pagar suas contas. É preciso investir na categoria!

Você busca associar a sua formação de geógrafo com a literatura? E o seu doutorado em Antropologia e Estudos Étnicos é algo que você busca agregar em suas obras?

Eu segui o caminho das ciências porque nunca tive a opção de ser apenas artista. Meus pais me fizeram entender que era um risco viver de arte, e estavam certos. Mas tudo que aprendi atravessa o que eu escrevo hoje, de forma que ser geógrafo, ter estudado antropologia, moldou a minha escrita.

Romance “Torto Arado” – Vencedor do Prêmio Leya e Prêmio Jabuti:

Imagem ilustrativa da imagem Escritor baiano Itamar Vieira é um dos convidados da Flip 2020: ‘Minha escrita é um trânsito’
| Foto: Divulgação
Torto Arado foi lançado inicialmente em Portugal e já vendeu mais de 10 mil exemplares no Brasil | Foto: Divulgação

Sendo um dos mais importantes livro da literatura contemporânea em língua portuguesa, a obra “Torto Arado” reflete sobre a ancestralidade negra, bem como, as relações e a religiosidade em uma comunidade quilombola. A narrativa também aborda o universo rural do Brasil, colocando ênfase nas figuras femininas.

“Torto arado é um projeto literário que alimentei durante anos. É a história da Bahia, de meu lugar, do lugar dos meus ancestrais”, cita Vieira, que caracteriza a obra como um romance de formação e como parte de uma trilogia sobre a relação do homem com a terra.

Torto Arado foi lançado inicialmente em Portugal e já vendeu mais de 10 mil exemplares no Brasil.

Em 2018 o romance venceu o Prêmio Leya. “Nunca imaginei que pudesse vencer o Prêmio LeYa, nem pensava em prêmios quando o escrevi. Não era o meu propósito. Se algum escritor espera o reconhecimento de prêmios não deveria escrever literatura. Para escrever é preciso ultrapassar esses propósitos porque não é possível atrelar um projeto literário a um reconhecimento por simples vaidade. Mas, sem dúvida, o Prêmio LeYa deu uma projeção ao livro que ele não teria caso seguisse outros caminhos para ser publicado”, disse.

O romance também venceu o Prêmio Jabuti nesta última quinta-feira, 26, na categoria Romance Literário, sendo uma das mais tradicionais e importantes premiações literárias do país. Confirmando o favoritismo, Vieira venceu Chico Buarque, Maria Valéria Rezende, Paulo Scott e Adriana Lisboa. A cerimônia on-line foi comandada pela jornalista Maju Coutinho, com transmissão ao vivo pelo canal da Câmara Brasileira do Livro no YouTube.

Após a premiação recente, o governador da Bahia, Rui Costa, parabenizou o escritor, através das redes sociais. “Sempre fico feliz quando um baiano ou baiana ganha destaque no #Brasil ou no mundo! O escritor e geógrafo baiano @itamarvieirajr foi um dos vencedores do Prêmio Jabuti deste ano. Seu livro "Torto Arado" foi primeiro colocado na categoria Romance Literário. O prêmio Jabuti é o mais tradicional prêmio literário nacional. Parabéns por esta realização, Itamar!”, comemorou.

Flip 2020:

A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) costuma acontecer no mês de julho, na cidade história do Sul Fluminense. No entanto, devido à pandemia do novo coronavírus, o evento foi adiado e repaginado para o ambiente virtual, visando não promover aglomerações.

A programação será composta por mesas transmitidas ao vivo em plataforma própria e nas redes sociais da Festa, além de vídeos gravados, eventos paralelos e programações de parceiros.

Nesta ocasião, a Flip Virtual também não trará nesta edição a figura do autor homenageado, como de costume, devido ao momento pandêmico mundial.

Autores convidados para o evento da Flip 2020:

Ana Paula Maia (Rio de Janeiro), autora de sete romances, contos e projetos para cinema e TV;

Elisa Pereira (Minas Gerais), moradora de Paraty e fundadora de um sarau que reúne artistas e escritores da cidade;

Fernando e Marcello Alcântara (Rio de Janeiro), cirandeiros caiçaras nascidos em Paraty e engajados em manifestações culturais tradicionais como a Folia de Reis e a Folia do Divino;

Itamar Vieira Junior (Bahia), geógrafo, especialista em comunidades quilombolas nordestinas e vencedor do Prêmio Leya, de Portugal;

Jeferson Tenório (Rio de Janeiro), radicado em Porto Alegre, teve O Beijo na Parede (2013) premiado como livro do ano pela Associação Gaúcha de Escritores;

Jota Mombaça (Rio Grande do Norte), escritora e artista visual voltada para temas como descolonização, racismo e identidade de gênero;

Lilia Schwarcz (São Paulo), antropóloga, professora da Universidade de São Paulo e vencedora do prêmio Jabuti;

Luz Ribeiro (São Paulo), pedagoga, poeta e uma das organizadoras da edição paulista do Slam das Minas;

Nathalia Leal (São Paulo), uma das fundadoras do Slam de Quinta, o primeiro encontro de slam de Paraty;

Rodrigo Ciríaco (São Paulo), educador e idealizador de saraus e projetos de incentivo à leitura e à produção literária nas escolas públicas e periferias;

Stephanie Borges (Rio de Janeiro), jornalista, tradutora e poeta premiada no IV Prêmio Cepe Nacional de Literatura. Traduziu autoras como Audre Lorde e Margaret Atwood.

Os estrangeiros que participarão do evento são:

Bernardine Evaristo (Inglaterra), primeira autora negra a vencer o prêmio Booke Prize;

Chigozie Obioma (Nigéria), considerado um dos principais nomes da literatura africana contemporânea;

Danez Smith (Estados Unidos), poeta da vanguarda americana;

Eileen Myles (Estados Unidos), autora premiada que trabalha as temáticas lésbica, queer e de gênero;

Jonathan Safran Foer (Estados Unidos), autor de ficção e não ficção sobre temas atuais;

Pilar Quintana (Colômbia), considerada uma das principais autoras jovens da América Latina;

Regina Porter (Estados Unidos), dramaturga premiada e romancista estreante.

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