EM SALVADOR
Laurentino Gomes faz dois eventos de lançamento de 'Escravidão Vol. 3'
Autor estará nas livrarias Leitura e Escariz, ambas na capital baiana, neste sábado e na próxima segunda
Por Chico Castro Jr.

Possivelmente o maior trabalho de divulgação histórica sobre o horror e a dívida histórica do Brasil relativa ao tráfico de escravizados, a trilogia Escravidão, do escritor Laurentino Gomes, chegou ao final com o lançamento do Volume 3. Em Salvador, o autor fará dois eventos presenciais de lançamento. O primeiro é neste sábado, 6, às 19h, na Livraria Leitura no Salvador Shopping. O segundo será segunda-feira, 8, na Livraria Escariz do Shopping Barra, mesmo horário.
Subintititulado 'Da Independência do Brasil à Lei Áurea', o livro cobre os eventos ocorridos justamente entre 1822 e 1888. Com a economia brasileira completamente atrelada à escravidão, esse foi o período mais complicado dessa relação tirânica entre capital e trabalho, já que impulsionado pela Inglaterra, que começava a industrializar-se e iniciou seu processo de abolição em 1807, o movimento abolicionista local ganhou força nessa pressão vinda de fora, mas que também era interna.
Lidos os três volumes, só se pode louvar o trabalho hercúleo de Laurentino. Sua saga para recontar esse período histórico de quase quatro séculos durou dez anos e inúmeras viagens dentro e fora do Brasil, passando por três continentes: América, África e Europa. "Eu chego ao final da jornada com sensação de alívio, por ter conseguido conclui-la conforme tinha planejado, mas também consciente da enorme responsabilidade que assumi ao tratar de um assunto tão importante e definidor dos rumos do Brasil", afirma o autor ao A TARDE, por email.
"Tudo que já fomos no passado, o que somos hoje e o que seremos no futuro tem a ver com a escravidão. Nenhum outro assunto é tão fundamental e decisivo na história brasileira. A escravidão foi e continua a ser o principal elemento formador para identidade nacional brasileira. O Brasil foi o território que importou o maior número de africanos cativos, cerca de cinco milhões no total, em 350 anos. Foi também o último a acabar com o tráfico, pela Lei Eusébio de Queirós, de 1850. E o último a acabar com a própria escravidão, pela Lei Áurea de 13 de maior de 1888. Aboliu formalmente a escravidão, mas abandonou a população negra e mestiça, descendente de africanos, à própria sorte", ensina Laurentino.
A educação de Castro Alves
Uma curiosidade para os baianos que o autor levanta neste Volume 3 é a informação, bastante irônica, de que boa parte da formação do poeta abolicionista Castro Alves foi bancada com dinheiro ganho por um escravista, Francisco Lopes Guimarães. Após morto, sua viúva casou-se com o pai do futuro autor de Navio Nagreiro. Esta imediatamente se prontificou a financiar a educação formal do jovem Castro Alves. Mais do que uma curiosidade, isto nos revela o quanto o escravismo estava entranhado na sociedade da época.
"Disseminado por todo o território brasileiro, o escravismo perpassava todas as atividades e todas as classes sociais. Ricos e pobres, fazendeiros, comerciantes e profissionais urbanos,instituições públicas e empresas privadas, ordens religiosas, bispos e padres, brancos, negros e mestiços - todos, indistintamente, eram donos de escravos ou almejavam sê-lo. Havia até mesmo casos de ex-escravos que, uma vez alforriados, se tornavam donos de escravos. Comprar e vender gente era o maior negócio do Brasil", relata Laurentino.
Respeitabílissimos e paparicados pelo poder público e sociedade em geral, os escravocratas construíram hospitais, museus, organizaram teatros e companhias de dança, financiaram expedições científicas, doaram somas expressivas para igrejas, irmandades religiosas, hospitais, escolas e obras de assistência aos pobres e doentes. Naturalmente, estes "Honoráveis Beneméritos" (título de um dos capítulos do livro) foram homenageados com estátuas, placas, medalhas e outras honrarias.
"Um caso exemplar é o de Joaquim Pereira Marinho, 1º Conde Pereira Marinho em Portugal, um dos maiores traficantes de escravos na história do Brasil, hoje homenageado com uma estátua em frente ao hospital Santa Izabel, da Santa Casa de Misericórdia, em Salvador. Traficantes de escravos, fazendeiros, senhores de engenho, pecuaristas, charqueadores e comerciantes davam o apoio político, financeiro e militar necessário para a sustentação do trono brasileiro. Em troca, recebiam do monarca posições de influência no governo, benefícios e privilégios nos negócios públicos e, especialmente, honrarias e títulos de nobreza", conta o autor.
Este é apenas um aspecto dos inúmeros levantados por Laurentino na trilogia, mas que explicam muito bem porque o Brasil é o que é - hoje, ontem e amanhã. Finda esta fase de lançamento do Volume 3, o autor pretende tirar um tempo para descansar - e só depois fazer planos.
"Existem muitos temas e personagens da história do Brasil que me fascinam e sobre os quais eu gostaria de escrever. Ainda não tenho um projeto claro e definitivo pela frente. Quero dar tempo ao tempo. De imediato, no entanto, talvez em faça, já para o ano que vem, uma edição juvenil ilustrada sobre a história da escravidão, condensando os três volumes da trilogia em um único livro, ilustrado e com linguagem mais adequada para jovens, estudantes e adolescentes", conclui Laurentino.

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