LITERATURA
Poesia de Graciliano Ramos permanece inédita
Por Marcos Dias
Mesmo com a abrangência de assuntos e períodos dos textos reunidos em Garranchos, o organizador Thiago Mio Salla se alinhou à recomendação que, certa vez, Graciliano Ramos teria feito à família sobre publicações póstumas: "E pelo amor de Deus, poesia nunca".
"Diferentemente do que acontece com o uso dos pseudônimos, aqui o autor alagoano não teria deixado margem para interpretações", enfatiza Salla. O que não quer dizer que a interdição não deva ser relativizada: "De qualquer maneira, em pesquisas voltadas ao universo simbólico que teria participado da formação do autor, o exame de sua produção poética seria interessante, sobretudo, quando se tem em vista o modo pelo qual o artista superou modelos parnasianos e simbolistas e, posteriormente, consolidou sua prosa agreste, despida de ornamentos, tão representativa de uma região e do País como um todo".
E para o ensaísta Wander de Melo Miranda, a contenção formal, uma das características do escritor alagoano, revela mais: "Tem alguma coisa em seu texto prestes a explodir, e é isso que permanece atual em sua obra, pelo fato dele aproximar duas categorias tão distintas como o rigor e a paixão. É o que anima a obra dele".
Perspectivas - Autor de Corpos Escritos: Graciliano Ramos e Silviano Santiago (Edusp) e Graciliano Ramos (Publifolha), Miranda não vê razão de as poesias da juventude não serem publicadas: "Se Max Brod tivesse cumprido o desejo de Kafka, a gente não teria a obra dele. É claro que vão ser poesias de uma pessoa muito jovem, quase um adolescente escrevendo, mas têm que ser lidas nesta perspectiva, não a de um autor consagrado".
E não só as poesias: em relação a um escritor como Graciliano, tudo deveria vir a público. "Evidentemente, você vai encontrar textos menores, ou mais circunstanciais, mas isso tudo compõe o universo do escritor e ajuda a gente a compreender melhor a vida e a obra do intelectual e do artista. Em princípio, tudo o que o escritor escreveu é público, pois o escritor é uma figura pública".
"Os mestiços de Jorge Amado não são bons nem maus, ou antes são as duas coisas ao mesmo tempo — e por isso confundem-se com os brasileiros de carne e osso, que são assim mesmo, bebem e jogam, vão à sessão espírita, acreditam em sonhos, conversam putaria e desejam que se fale deles nas folhas"
GRACILIANO RAMOS, crônica de 1937
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