MÚSICA
Cantora nigeriana radicada em Salvador, Okwei Odili lança disco em homenagem a Oxumaré
Por Eugênio Afonso

Nascida em Lagos, na Nigéria, e morando em Salvador desde 2016, a cantora e compositora Okwei Odili, 36, acaba de lançar agora em abril, e nas mais importantes plataformas digitais, seu novo trabalho: Òsùmàrè. O álbum já chega com a música Lua sendo indicada ao One World Music Awards na categoria ‘Melhor Single do World Fusion 2020-2021’.
O título do disco significa exatamente Oxumaré em iorubá, o orixá que liga o céu à terra, deus do arco-íris. “Òsùmàrè é também o espírito africano de movimento e mobilidade. É por isso que posso sair de casa e estar aqui. É também um sinal de esperança que sempre quero partilhar”, conta Odili.
Nesse projeto em que homenageia a divindade africana, a cantora gravou com a banda baiana Aweto – Kamile Levek (guitarra), Eli Alves Lima Junior (teclado), Riam Santos (bateria) e Carla Suzart (baixo) –, sua parceira constante desde que aportou por aqui, dez músicas autorais.
“O objetivo do álbum é cimentar a jornada e união entre a banda e eu, e casar culturas e experiências de ambos os lados do Atlântico, principalmente com influências mundiais. Todas as composições são minhas porque estou contando minha própria história e/ou experiências compartilhadas, então é muito pessoal para mim”, revela Okwei.
Com letras que abordam o amor, as lutas e a esperança, Òsùmàrè mistura influências da música ocidental, africana, hip hop e reggae – cadência predominante no álbum – com ritmos brasileiros como maracatu, baião, ijexá e bossa nova. A direção musical é da própria Okwei e o disco conta com participação especial de músicos baianos e nigerianos.
“O álbum é influenciado por sons organicamente brasileiros. Minha banda e os amigos que acompanham os shows sabem que amo arrocha quase tanto quanto afrobeat. Realmente, para mim, é um paraíso ouvir ritmos de casa na diáspora de uma forma original e também diferente. Meu trabalho quer mostrar nossa riqueza e beleza”, relata a cantora.
Seleção musical
Na música Show me your Color, por exemplo, quem se junta a Okwei é a rapper nigeriana Blaise. Já em Soweto, música que homenageia o gueto origem de Nelson Mandela na África do Sul, tem João Teoria, d’Os Skanibais, fazendo uma participação especial.
Os músicos realmente me surpreenderam. A energia era tão alta e positiva. Eles eram como cavalos selvagens
Sem abandonar o tom de protesto antirracista, em Tinini Tanana, a cantora faz uma reverência ao ativista sul-africano Steve Biko, fundador do Movimento da Consciência Negra. Na balada romântica If you love me é a vez do músico Anderson do Samba comandar a percussão.
Sempre com uma batida bem dançante, Òsùmàrè traz também o reggae romântico Hide and Seek, com Carla Suzart no contrabaixo, e Odoyewu, que significa meu amor no idioma Twi (Gana).
Em Fool for you, mix de ijexá com hip hop, Suyá Nascimento assume a guitarra.
O afrobeat Chop your Moni Go tem a participação do pianista nigeriano Funsho Ogundipe. E tem ainda The way you lie e A Lua, única música do disco cantada em português, língua que a nigeriana fala com um sotaque ainda bem carregado. As outras canções são em inglês, idioma oficial da Nigéria, twi, de Gana, ukwani, língua nativa da cantora, além de outros dialetos nigerianos como pidgin, iorubá e igbo.
Sabores africanos
Através de uma bolsa de estudos da Unesco, Odili esteve na Bahia pela primeira vez para realizar uma residência artística no Instituto Sacatar, em Itaparica. Isso foi em 2013 – assim que pisou em solo baiano, ela logo ficou impressionada com a musicalidade do samba-reggae.
Retornou ao seu país dois meses depois e decidiu vir de vez em 2016 por causa da música e também da conexão com a culinária africana que há na Bahia. Segundo a cantora, Salvador está recheada de produtos alimentícios que a ajudam a matar as saudades da terra.
Oficialmente, a carreira musical começou um pouco antes de vir ao Brasil. “Lancei meu primeiro single em 2009 – The Shun Song. Antes eu cantava, desde os 10 anos de idade, em um coro católico que era muito contratado para casamentos, eventos etc.”, conta. Influenciada por Marvin Gaye, Diana Ross, a galera da Motown, Snoop Dogg, além dos nigerianos King Sunny Adé, Onyeka Onwenu e Fela Kuti, a cantora conta que os pais são os grandes responsáveis por apresentá-la a boa parte desses artistas.
“Meus pais tocavam qualquer tipo de música em casa – vinis, fitas-cassete. Minha mãe não conseguia dormir sem o rádio tocando. O grupo de mulheres dela, na minha comunidade, tinha reuniões onde se discutia a melhoria da nossa aldeia. Ao final das reuniões, as mulheres tocavam músicas locais com instrumentos percussivos”, recorda Odili.
Em 12 anos de estrada, a cantora lançou o EP Acoustic Love, gravado em 2013, em Salvador, e o disco IFÁ Afrobeat + Okwei V.Odili, em parceria com a banda baiana IFÁ Afrobeat, em 2015.
Para se aprofundar um pouco mais na caminhada musical dessa nigeriana, já está disponível no YouTube um mini documentário sobre a história da cantora e o processo de gravação de Òsùmàrè.
Todo o projeto foi contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.
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