Céu interpreta seu universo musical em novo álbum

Tem samba, tem MPB, tem pagode carioca, tem pop, tem rock, tem nacional e internacional. Tem um pouco de tudo e muito de Céu. No último mês, a cantora paulista lançou Um Gosto de Sol, seu primeiro álbum inteiramente como intérprete e repleto de composições que fizeram parte da história e do processo de se tornar compositora e cantora.

Disponíveis nas principais plataformas de streaming, o álbum traz 14 faixas de diferentes gêneros musicais gravadas durante a pandemia.

“Não foi apenas pegar as músicas e trazer uma nova roupagem, pensei muito em contar quem é essa pessoa aqui para além do que vocês já conhecem, tipo, tem que ter alguma coisa da Rita Lee, da Marrom, do Gil. A gente foi muito por esse lugar de pesquisa e depois afunilando para dentro da obra de cada artista, qual canção que teria mais a ver, qual letra que eu queria trazer mais no momento”, afirma a artista.

Em um cenário de reclusão total, notícias desesperançosas e sem saber o que esperar do que vinha pela frente, Céu também se viu sem inspiração para escrever coisas novas.

No entanto, a música foi um local de segurança para ela e, nada mais reconfortante do que produzir um disco com o marido e produtor, Pupillo (Nação Zumbi), e o pai, o músico Edgard Poças (histórico compositor e produtor, gravado por inúmeros artistas).

O álbum não é só familiar, mas de amizade também. A cantora gravou Deixa Acontecer, da banda Revelação, com Emicida – e Teimosa, dos soteropolitanos Antônio Carlos e Jocafi, com o também baiano Russo Passapusso, do BaianaSystem. Dois sambas com ritmos diferentes e parceiros de enfoques musicais distintos que se reúnem à Céu nesta mistura.

“Eu acho que sempre fui muito boa em equipes, em fazer, em juntar, em fazer um disco com um som que vem das pessoas que estão ali, então assim, acho que sou uma pessoa de juntar gente, de contar as minhas histórias e trabalhar também pelas obras dos outros”, diz a cantora.

Um Gosto de Sol é a faixa de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos que não só nomeia o álbum mas está presente nele. Segundo a intérprete, a canção tem o destaque pela grandiosidade da letra e pelo sentimento de esperança que transmitiu durante o período de isolamento social.

“Ela tem esse chamado para a construção de um novo som, ‘um gosto de sol’ é o que a gente almeja, a gente deseja, e tem essa ambivalência de pessoas que não tinham o sol, e quantas estavam expostas, no front, fazendo as coisas, salvando vidas, sobrevivendo, mas é lembrar do que a gente quer, que é uma nova aurora, um lugar de reconstrução”, acredita.

Um céu de inspirações

Outra parceria inesperada do disco que a música traz é a presença do guitarrista Andreas Kisser, da clássica banda de heavy metal brasileira Sepultura. A participação do músico surgiu como uma solução de uma dúvida que pairava a cabeça de Céu, que buscava a memória afetiva para fazer a releitura das canções através do toque do violão brasileiro: como unir as escolas clássicas, como Dilermando Reis e Garoto, com o que veio escutando durante toda sua trajetória?

A resposta veio com Pupillo, que assistiu um stories no Instagram de Andreas tocando um chorinho no violão de náilon. O convite foi feito, aceito e Um Gosto de Sol traz mais uma experimentação que deu certo: um rockeiro e guitarrista no violão de sete cordas para tocar uma MPB.

Das canções que não poderiam faltar, a artista gravou Chega Mais (Rita Lee), Bim Bom (João Gilberto), Pode Esperar (Alcione) e as internacionais Paradise (Sade), May This Be Love (Jimi Hendrix) e I Don´t Know (dos rappers novaiorquinos Beastie Boys).

Toda a mistura do disco condiz com a visão que a própria Céu tem do seu trabalho. Ela não se considera uma intérprete eclética, mas uma compositora que tem uma unidade diversa que conduz a linha de criatividade e escrita. Isso a fez ter segurança para lançar um álbum como intérprete.

A cantora ainda relata sobre o momento em que decidiu fazer música e a dificuldade em direcionar para um gênero específico. Achava que fazia MPB, só que não a enquadravam como tal.

“Acho que desde sempre tinha uma coisa diferente em como eu desejava me expressar, eu tava falando de uma liberdade, eu estava em busca de uma liberdade sem contorno nenhum”, conta.

“Então demorei todos esses anos e álbuns para entender a compositora que eu sou. Eu já consigo me entender melhor, e finalmente chegar hoje e contar meu caminho como intérprete”, conclui Céu.

Serviço

O quê: Um Gosto de Sol / Céu / Céu Music - Warner Music / Disponível nos principais serviços de streaming

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.