MÚSICA
Marisa Monte lança coletânea de canções espalhadas no tempo
Por Daniel Oliveira

Marisa Monte inaugura em breve um novo momento da sua trajetória. O longo contrato com a gravadora EMI, que tornou-se Universal Music, chega ao fim em 2016. Desde a assinatura, em 2000, estava programado o lançamento de uma coletânea no formato the best of. "Naquela época, tinha essa previsão e, ao mesmo tempo, uma demanda dos fãs", conta a cantora e compositora carioca.
Porém, com o passar dos anos, ela chegou à conclusão, em diálogo com a companhia, de que aquele formato não era o mais adequado, face as novas tecnologias de difusão e consumo da música com o streaming e a ampliação do acesso à internet.
"De lá para cá perdeu completamente o sentido fazer um disco de êxitos comerciais. Hoje cada um faz a sua playlist com as suas músicas preferidas. O consumo se tornou mais individual". Partindo desse entendimento, Marisa começou no ano passado a elaboração de Coleção, álbum que chegou às lojas físicas e às plataformas digitais em abril com 13 músicas, todas gravadas anteriormente em projetos paralelos à sua discografia.
Para isso, não foi necessário garimpar, afinal, os últimos dois anos de Marisa foram de intenso trabalho na digitalização das suas canções. O desafio maior acabou sendo a seleção, em um universo de 40 faixas, do que iria fazer parte da obra.
"Fiz várias rodadas de escuta, procurando uma atmosfera comum. Um olhar meu que representasse todo um arco de tempo da minha carreira, desde noventa e poucos até agora. E as relações que fui travando com outros artistas e que refletiram no meu trabalho".
Repertório
Músicas de origem latina, como Fumando Espero (Juan Viladomat Masanas e Félix Garzo), tango argentino já conhecido no Brasil na voz de Dalva de Oliveira, em versão de Eugenio Paes, e Ilusão (Ilusión), canção da mexicana Julieta Venegas, integram o repertório. "Fumando Espero é um clássico portenho, que tem umas duzentas gravações. É tipo a Garota de Ipanema da Argentina", compara.
A Coleção de Marisa também traz registros para o cinema, como Cama, parceria com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, e Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro. Enquanto a primeira é trilha do filme Era Uma Vez..., de Breno Silveira, a segunda foi gravada para o documentário Meu Tempo É Hoje, de Izabel Jaguaribe, sobre o sambista Paulinho da Viola. "Gosto muito dessa gravação só com o violão do Paulinho e a minha voz, é simples e tão grandioso".
As parcerias com David Byrne, em Waters Of March, versão em inglês da canção de Tom Jobim, e Devendra Banhart e Rodrigo Amarante, em Nu Com Minha Música, de Caetano Veloso - ambas para o projeto beneficente Red Hot + Rio - foram incluídas.
O lançamento de Coleção não será acompanhado de turnê. Apesar da menor frequência nos palcos, Marisa conta que em julho fará temporada de férias com a cantora e compositora Carminho, em Portugal. Esse, aliás, foi o motivo, segundo ela, da recusa do convite para um show na abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, especulado como possível reencontro dos Tribalistas.
"Quando houve uma sondagem da possibilidade não era nem os Tribalistas, era uma participação maior, tinha outras coisas que não posso falar porque tem contrato de confidencialidade. E eu não tinha agenda, estava comprometida com essa turnê com Carminho. Porém, ao invés de ser essa a notícia, saiu de um jeito esquisito: 'Marisa não quer cantar com os Tribalistas'".
Transformação Individual
Próxima dos 50 anos, a cantora diz que na divulgação de Coleção tem sido muito questionada sobre o seu posicionamento no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o que tem lhe incomodado. Imediatamente, ela completa dizendo que uma resposta, a favor ou contra, na sua opinião, é reduzida. Isso, no entanto, não significa ausência de opinião.
"Não consigo tomar um lado nem o outro, mas também não consigo ser isenta. Esse clima de polarização não me agrada. É um pensamento simplista, que não ajuda, porque entre uma coisa e outra existe uma complexidade enorme", defende Marisa, que, na semana passada, visitou, ao lado do amigo e vizinho Dadi, uma escola no Rio de Janeiro ocupada por jovens que batalham por mais qualidade na educação pública. Eles tocaram quatro músicas para os garotos.
"Quando cheguei lá foi uma alegria, muito emocionante. Encontrei amor, que é uma coisa que não tem hoje na política brasileira. Então, acredito na micropolítica, na transformação de cada um. Tenho esperança na mudança individual".
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